Chamados pelo nosso presbítero António a dar o nosso testemunho de leigos sobre as leituras deste domingo, Solenidade de São Pedro e São Paulo; e em cumprimento do apelo sinodal do querido Papa Francisco e da comunidade desta Capela, saudamo-vos a todos, irmãs e irmãos em Cristo, Ele que a todos e a cada um de nós hoje pergunta: “E vós: quem dizeis que Eu sou?”
Escutámos no Salmo que o Senhor ouviu a um pobre que por Ele clamou e salvou-o de todas as angústias. Foi um anjo do Senhor que o livrou e o fez exclamar Provai e vede que o Senhor é bom.
Escutámos na primeira leitura dos Atos dos Apóstolos, como Pedro, detido por Herodes, foi liberto das correntes que o aprisionavam. Através de um processo difícil e surpreendente, teve de ultrapassar numerosos obstáculos e guardas prisionais. Citando a leitura: Não se deu conta da realidade da intervenção do anjo, pois julgava que era uma visão … Mas Pedro confiou no Senhor.
Escutámos também Paulo a afirmar na Epístola a Timóteo: Combati o bom combate, terminei a corrida, permaneci fiel. Após inúmeras viagens alargando a palavra de Deus aos gentios, ao ponto de quase ser morto e executado, diz-nos que foi arrebatado da boca do leão pois ele confiou no Senhor.
Por fim, escutámos no Evangelho, o ato de fé de Pedro após a pergunta de Jesus. Pedro não hesita e responde: Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo. E perante esta confiança com que respondeu à grande pergunta da Salvação, Jesus diz-lhe: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja.
Irmãos e Irmãs em Cristo:
Qual o significado nos dias de hoje destas interrogações e respostas? Que nos dizem estes apelos transmitidos pelas Escrituras? Que imagens fazemos de Jesus? Que imagem fazemos de nós e dos outros? Que correntes nos prendem e paralisam? Quem delas nos liberta e nos transforma? Quem são os anjos que nos ajudam?
Neste domingo, a liturgia convida-nos a celebrar São Pedro e São Paulo, e como eles responderam à grande pergunta: E vós, quem dizeis que Eu sou? Não se trata aqui de dar uma resposta teológica, nem uma palavra definitiva. Trata-se de fazer ecoar em nós, com profundidade cada vez maior, as questões que nos revelam, as perguntas que nos movem a falar de nós mesmos, sobre quem amamos e seguimos, de quem cuidamos e a quem ajudamos. A nossa identificação à pessoa de Jesus Cristo, é uma adesão sempre frágil e imperfeita. Quem é o Senhor? Quem somos nós? Quem nos acorrenta? Quem me impede de Te seguir? Quem me ajuda a seguir-Te?
Cada um e cada uma de nós, terá de responder por si, de maneira diferente, com o seu caminho, a sua verdade e a sua vida. A liturgia de hoje coloca-nos perante Pedro e Paulo, personalidades distintas, com vivências diferentes da comunidade, que chocaram e se reconciliaram, mas que são referências para nós porque responderam à grande pergunta de Jesus.
A pergunta do Cristo, o Filho do Deus vivo, não é inofensiva, nem fácil. Vai ao fundo do nosso coração. Implica-nos naquilo que somos realmente e, na verdade, tem uma força própria que não encontramos nas nossas respostas. Ouvimos muitas respostas humanas dos que querem salvar a humanidade mas só Deus faz em nós maravilhas com as suas perguntas.
Quando perguntamos por alguém a quem estimamos ou de quem cuidamos, emerge em nós um impulso, um interesse que não se apaga. É uma pergunta que nos leva a quebrar as correntes do egoísmo e da violência, dos conflitos e perseguições. Mais ainda: perguntar pelo outro põe em crise ideias feitas, modos fechados de viver e mantém-nos em busca permanente.
Em Cesareia de Filipe, onde havia muitas idólatras, Jesus pergunta: E vós, quem dizeis que Eu sou? Pede que nos examinemos a sério, que tomemos consciência do que pretendemos, quais as nossas motivações. A pergunta não é uma simples curiosidade e dirige-se a todos. Cada um tem de dar a sua resposta que exige um ato de fé e confiança.
Pedro e Paulo, ambos martirizados em Roma, responderam com a vida à grande pergunta de Jesus. Um é pedra, verdade, fundamento: o outro é viagem, caminho, abertura. Ambos as dimensões são essenciais para o dinamismo da Igreja e da nossa comunidade e, desde há muitos séculos, que a liturgia intuiu que é preciso integrar a narrativa dos dois apóstolos.
Nos Evangelhos, Pedro vai entrando, aos poucos, em sintonia com Jesus. Um encontro que vai crescendo em adesão à proposta do Reino; um caminho que tem momentos de obscuridade e crise, de negação e grande fragilidade. Pedro é aquele que se converte, abrindo-se à presença desconcertante de Deus na vida de Jesus, até confessar o credo central da nossa fé: Jesus Cristo é o Filho de Deus vivo. À Igreja que se mantém firme nessa confissão, nada nem ninguém a destruirá.
Paulo, por sua vez, é o convertido pela presença do Ressuscitado. Não conheceu pessoalmente a Jesus de Nazaré mas abriu a Igreja ao mundo grego e romano. Com a sua itinerância, rompeu as fronteiras políticas, culturais e religiosas, levando a salvação a todos os povos, “até os confins da terra”. A boa nova era para todos. Paulo é essa força expansiva, essa abertura às realidades diferentes, a “Igreja em saída” proclamada pelo Papa Francisco.
Irmãos e irmãs em Cristo:
Como harmonizar Pedro e Paulo nas nossas vidas? Fundados sobre a rocha do amor ao próximo, ficamos mais abertos e acolhedores, capazes de escutar os acontecimentos, dar atenção ao que nos cerca, responder aos apelos dos que carecem e tomar decisões cada vez mais conformes ao Evangelho, dizendo não à violência e ao mal.
Ao respondermos à grande questão de Jesus, o filho de Deus, somos frágeis, precários e inconstantes. Mas temos Pedro e Paulo ao nosso lado, como anjos que nos ajudam a descobrir quem somos e como seguir a Cristo. Os anjos surgem na nossa vida através dos outros, para nos dar uma força que não esperávamos, que nos ajuda e se materializa em palavras e gestos.
Temo-nos uns aos outros para procurarmos na interioridade a rocha consistente e firme, para encontrar confiança, superando as dificuldades e os inevitáveis golpes na luta pela vida. É com Cristo que nos descobrimos e despertamos as forças vitais para nos ajudar a crescer com os outros no dia-a-dia.
A comunidade descrita nos Atos dos Apóstolos é um modelo para as nossas comunidades. Desde o Concílio Vaticano II, temos uma igreja que deve ser sinodal. E, apesar das nossas fragilidades, tal como o Senhor escolheu a Pedro, o elo mais fraco que foi liberto das cadeias da prisão para criar as correntes da Salvação, pedimos ao Senhor que confie em nós que dizemos e proclamamos: Tu és o Messias, o Filho de Deus.


