O compositor Alfredo Teixeira compôs um hino para a oração dos cristãos a partir de um poema litúrgico de José Augusto Mourão (coro, solista e assembleia), em memória do diácono José Alberto Costa. O hino foi interpretado pelo Ensemble São Tomás de Aquino na celebração da eucaristia de 30º dia.
Publicamos o registo áudio da leitura do hino feita pela Rita Ramalho Ortigão e a sua interpretação pelo Ensemble S. Tomás de Aquino, dirigido por João Andrade Nunes.
Não pode a morte reter-me na cruz
Não pode o mundo arrancar-me à raiz
Ao pé de Deus hei de sempre viver
Com Deus cheguei e com Ele vou partir.
Não poderá corromper-se a alegria
Não pode o fogo extinguir-se no céu
Meu ser demanda a morada do Deus
Que guarda os nomes no livro da vida.
Não pode a morte apagar o desejo
De ver a Deus face a face e viver
A Deus busquei toda a vida e vivi
De acreditar no infinito da vida.
Não nos reduz o escuro da noite
Não pode o amor esquecer o que o altera
Já ouço a voz do Senhor Deus dos vivos
Já ouço a voz do amigo que vem.
Não pode o mar esquecer o que o salga
Não pode a areia esquecer-se do mar
Meu Deus, meu Deus, vem buscar-me ao deserto
Que em tuas mãos entreguei minha sede.
A Ti Senhor, meus desejos regressam
Findo o andar, disponíveis as mãos.
Abre meu corpo ao devir que não sei
Eu chamo a esperança pelo nome de Deus.
A Tua a vida me toma e transporta
Teu sangue inunda meu corpo de paz
Eu vejo as mãos do Senhor glorioso
nas minhas mãos a memória de Deus.
«Não pode a morte»,
in: José Augusto Mourão, Cantai com arte e com alma, Lisboa, Edições Paulistas e Logomedia, 1992, 42.
Alfredo Teixeira é Doutor em Antropologia Política (ISCTE-IUL) e Mestre em Teologia Sistemática (FT-UCP). Desenvolve a sua atividade de docência e investigação na Universidade Católica Portuguesa, enquanto Professor Associado da Faculdade de Teologia. Atualmente, colabora também com o programa de Mestrado e Doutoramento em História e Cultura das Religiões da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Desenvolve as suas pesquisas no Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião e no Centro de Estudos de História Religiosa (UCP), co-coordena a rede de investigadores «Religião nas múltiplas modernidades» e é membro da Comissão da Liberdade Religiosa do Ministério da Justiça. É coeditor da Revista de Estudos da Religião (REVER), da PUC-São Paulo, e membro do Conselho Artístico da revista de música litúrgica Salicus.
Para além, da sua atividade académica, desenvolve uma reconhecida e premiada atividade de criação musical. Fez os seus estudos musicais na Escola de Música do Conservatório Nacional, na classe de Órgão de Simões da Hora, formação acompanhada com os estudos de canto com Manuela de Sá, Música de Câmara com Fernando Eldoro, Composição com Jorge Peixinho e Eurico Carrapatoso. Estudou Direção Coral, em Lérida, sob orientação de Lászlo Heltay. Já depois de ter terminado o seu percurso curricular na Escola de Música do Conservatório Nacional, estudou composição com Jorge Peixinho, durante três anos, até à data da sua morte, em 1995.
Em 1998, o Prémio Lopes Graça de Composição, promovido pela Câmara de Tomar, distinguiu com uma Menção Honrosa a sua obra «Fragmentos para um De profundis». A sua obra para coro infantojuvenil e piano, «O Menino Jesus numa estória aos quadradinhos», venceu a edição de 2013 do Prémio Internacional de Composição Fernando Lopes Graça (Museu da Música Portuguesa – Câmara Municipal de Cascais). Em 2014, ganhou o Prémio Especial (2º lugar) do «New Music for Easter Time International Competition for Choral Composition» (Associazione Musicale Musica Ficta) com a obra «O Crux».
João Andrade Nunes (1990), natural do Sabugal, iniciou os seus estudos de música no Conservatório de Música Pedro Álvares Cabral, em Belmonte. Em 2008, ingressou na Banda da Armada, como saxofonista solista e, no ano 2011, terminou os seus estudos superiores em música – variante performance (saxofone), na Escola Superior de Música de Lisboa. No campo composicional, tem musicado e harmonizado inúmeros textos litúrgicos. Como maestro fundou, em 2015, um peculiar projeto de divulgação e incremento de música sacra na liturgia designado de Ensemble e Coro São Tomás de Aquino, residente na Igreja São Tomás de Aquino, em Lisboa. Paralelamente à sua atividade musical, é licenciado e mestre em Direito, pela Faculdade de Direito da UL, instituição onde exerce, também, funções de docência.
Residente na Igreja de São Tomás de Aquino, em Lisboa, o Ensemble São Tomás de Aquino constitui-se como um grupo de composição variável formado por jovens músicos profissionais. Criado em Julho de 2015, tem apresentado – em concerto e no âmbito litúrgico – repertório verdadeiramente exigente e diferenciado. Neste sentido, seguindo de perto o trabalho do compositor Alfredo Teixeira, vem estreando várias das suas obras: “Missa do Parto”, para coro e órgão (2018), “Apocalipse Breve segundo Daniel Faria”, para duplo trio (2019); “Hinário para um tempo de confiança”, para coro, órgão e saxofone (2021). Em Março de 2021, através de várias plataformas digitais, iniciou um projeto musical, denominado de “Vou interpretar o meu enigma ao som da lira. Música, Liturgia, Espiritualidade”, que pretende (re)descobrir e divulgar, de forma ampla, música portuguesa. Ao longo dos anos, tem marcado presença em alguns dos mais referenciados festivais portugueses de música erudita. Em Novembro de 2020, sob a chancela da Paulus Editora, lançou o seu primeiro projeto discográfico, intitulado de “Vimos do Mar e da Montanha”.