Lígia Rodrigues – Artista Plástica
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Isabel ficou cheia do Espírito Santo
e exclamou em voz alta:
“Bendita és tu entre as mulheres
e bendito é o fruto do teu ventre.”
(Lc 2, 41-42)
Antes de nascer o Menino, no sopro do Espírito Santo,
já a sábia mulher Isabel lhe conhece os traços do corpo,
o ânimo, a alma feita humana, misterioso percurso de Deus.
Que beleza, como Lucas diz o grito da alegria,
a cumplicidade no sentir do ventre,
a imagem de duas mulheres abraçadas na força
e expressão do júbilo.
Mulheres de certezas, na esperança de que
a revolução do mundo vai chegar.
Por dor e amor vair chegar.
Senhor, ilumina em mim estes caminhos de Advento.
Ao longo dos dias, eu te espero.
Leonor Xavier, 2021
Memória descritiva
Maria sai e vai visitar Isabel. O amor impele à ação. Maria encontra-se em movimento. Vai para, na direção de ( o outro/a ). A Palavra, o Verbo, faz-se carne, acontece, entra na História, no infinitamente pequeno para o elevar ao infinitamente grande. É quando a Palavra em nós e entre nós transforma ao nosso redor as situações com movimentos concretos: “tive fome e deste-me de comer…” “o que fizeres ao menor destes meus irmãos a mim o fizeste…”
Também nós repetimos Maria cada vez que saímos de nós para encontrar o outro nas suas necessidades, nas suas fraquezas….
Há naquela intensidade de olhares (entre Maria e Isabel) um encontro no Mistério. Ambas em Deus, ambas num só amor, quando se encontram é Nele que se reconhecem, cada uma no seu desígnio. Madre Teresa que em cada pobre via o seu Deus, o seu céu, o seu desígnio …
Naquele olhar Isabel reconheceu aquela “a quem todas as gerações iriam chamar bem aventurada…”
E João encontra Jesus, e salta de alegria. Antes de nascer já tinha visto a Luz, pois a Luz é para além das trevas..
“Onde Eu estou está o Pai…” o Sol como presença ténue entre os dois meninos, entre as duas mulheres, entre ambos os ventres … o Criador que presencia a vida a acontecer, para além do tempo, pois o Espírito previa já que todas as coisas fossem novas, e naquele voo em que acompanha a humanidade num futuro já unida, onde todos os povos se reconhecem num único Amor feito de tantos matizes , onde a individualidade não contradiz a alteridade mas lhe dá sentido…
De que tamanho sou eu? Constitui-me a medida de todos os que me circundam em presença ou em ausência, e cada gesto de amor singelo torna-se uma nova criação, como Maria, como aquele momento em que na Palavra ainda embrião já anunciava a nova criação. Assim, o manto que se estende gerando e acolhendo todos numa maternidade de Corpo místico.
De que tamanho é a noite quando chega a alvorada? Quantas vezes posso encarnar a Palavra prolongando nas nossas noites aquela luz? Com que potência nos encontramos nela…mesmo quando não se vê o brilho? Quem pode cancelar em nós aquele
sim à vida que ultrapassa o mistério da morte num infinito onde tudo é amor? Disso fala a zona sombria das árvores e da natureza que parecem subir um calvário …mas suspenso sobre a atmosfera de luz clara, nova esperança que nasce de cada momento em que a Palavra feita vida em nós vai… e faz novas todas as coisas.
Quem nos tirará esse amor?
Jesus está para chegar cada momento em que recomeço a amar.
Lígia Rodrigues