Já está disponível o texto e a gravação da 1ª conferência sobre o caminho sinodal, do Professor Doutor José Eduardo Borges de Pinho, «A sinodalidade na vida da Igreja: interpelação espiritual, tarefa estrutural, estilo pastoral».

A sinodalidade na vida da Igreja:
interpelação espiritual, tarefa estrutural, estilo pastoral

Introdução

1. A sinodalidade como interpelação espiritual

1.1. Uma espiritualidade cristã amadurecida
1.2. Um novo modo de crer
1.3. Disponibilidade para a necessária conversão e reforma
1.4. Sinais e atitudes de verdadeira humanidade
1.5. Formação da fé como desafio permanente

2. Sinodalidade como tarefa estrutural

2.1. Uma ampla e profunda reconfiguração eclesial
2.2. O indispensável desenvolvimento das estruturas de sinodalidade
2.3. O ministério ordenado na Igreja e sua configuração futura
2.4. O papel da mulher na Igreja
2.5. Sinodalidade e colegialidade episcopal

3. Sinodalidade como estilo pastoral

3.1. Sinodalidade e exercício da autoridade na Igreja
3.2. Um estilo pastoral assente na escuta e no diálogo, atento ao “sentido da fé” dos crentes
3.3. Renovação das lideranças nas comunidades como testemunho credível e impulso criativo
3.4. Escuta das “profecias alheias” como condição de amor a Deus e ao próximo

 

A sinodalidade na vida da Igreja:
interpelação espiritual, tarefa estrutural, estilo pastoral

 

Como todos sabemos, a sinodalidade “da” Igreja (e não simplesmente “na” Igreja) traduz, como visão e modo de agir, a identidade da Igreja como povo de Deus a caminho na história e mistério de comunhão em todos os seus níveis de realização, apela à vivência do sacerdócio comum como fundamento essencial do ser cristão, aponta para a igualdade basilar de todos os crentes e a mais ampla participação na vida eclesial. Na consciência e na prática sinodais emerge a vivência de uma Igreja aberta à condução do Espírito Santo, exprime-se a busca comum de caminhos ao serviço do anúncio do Evangelho, ganha expressão a “contemporaneidade” com um viver humano que aspira a um agir livre e participativo. Em síntese, a sinodalidade concretiza o modo como a configuração comunional da Igreja se tem de realizar na comum escuta do Espírito Santo, no testemunho ativo da fé, na corresponsabilidade dos seus membros e comunidades, na articulação dos diversos carismas, serviços e ministérios.

É certo que a perceção que temos hoje da sinodalidade é fruto do Concílio Vaticano II e das exigências e dificuldades da sua receção. Mas, em termos de fundamentação teológica, não há nada de muito novo a acrescentar face aos princípios e critérios fundacionais e fundantes da Igreja. Por isso e em rigor, a questão da sinodalidade não é um problema teórico-teológico, mas eminentemente prático, de consciência eclesial, de enquadramento operativo, de transformação de mentalidades e modos de proceder. Neste preciso contexto faço três observações prévias:

1) A sinodalidade tem a ver com todos os níveis da vida da Igreja – desde o local/paroquial e diocesano ao regional e o universal, e, inclusive, ao ecuménico. É a vida da Igreja toda que está em jogo, e esta  inter-relação e este condicionamento mútuos dos diversos níveis é um dado de grande importância. O que acontece no âmbito local tem muito a ver com conceções, orientações e práticas que vigoram a um nível mais amplo, também universal: por exemplo, a compreensão da relação ministros ordenados/leigos. O que acontece ou não acontece a um nível bloqueia outros.

2)Enfrentar hoje a questão da sinodalidade supõe alguma consciência histórica. Só assim é possível detetar condicionamentos presentes à luz do passado, ganhar força para denunciar falsas evidências, sonhar um futuro diferente e ousar tomar decisões [1]. O que foi sedimentado ao longo de séculos demorará muito tempo a libertar-se, mas, de uma forma ou de outra, empurrado por fatores externos ou impulsionado a partir de dentro, ter-se-á de caminhar para a recomposição do corpo eclesial num sentido mais consentâneo com a dignidade dos batizados: “Não é em alguns anos ou decénios – escreve Alphonse Borras – que se chegará a novos equilíbrios institucionais. Quando se constata que os bispos de uma mesma província e a fortiori duma mesma nação têm dificuldade, mesmo reticências, em jogar o jogo colegial, calcula-se que será necessário tanto tempo como, por exemplo, para a Reforma gregoriana. Seja como for, o ‘sistema’ vai mexer-se” [2].

3)Refiro um terceiro aspeto que, entre nós, talvez represente uma das principais tarefas: vencer alguma indiferença e deceção que se instalou em muitos, em razão de uma receção conciliar atrofiada, de uma cultura de participação deficiente, da predominância de um estilo clerical-eclesiástico em muitos modos de pensar e agir.

Por isso mesmo, começo por refletir sobre a sinodalidade como interpelação espiritual. Numa segunda parte, abordo alguns aspetos de ordem estrutural, para concluir, numa terceira parte, com algumas indicações sobre o estilo pastoral envolvido numa consciência e prática sinodais.

 

  1. A sinodalidade como interpelação espiritual

 

1.1. Uma espiritualidade cristã amadurecida

 

Espiritualidade cristã é o modo crente de ser e de viver no seguimento de Jesus na abertura ao Mistério sempre maior de Deus e sua presença e ação constantes pelo Espírito Santo na história do mundo e no coração das pessoas. Ser cristão não é uma existência totalmente formatada de antemão, mas um caminho histórico de vida (a “via”) nas circunstâncias sempre novas de um mundo em evolução, procurando ser fiel ao que Deus nos vai pedindo no relacionamento com os outros, na atenção aos sinais dos tempos e suas interpelações, na busca de transformação humanizante do mundo, na disponibilidade para a novidade encarnada que a fidelidade ao Evangelho do Reino de Deus vai exigindo.

Compreende-se, então, que a sinodalidade só pode ser vivida na fidelidade criativa à escuta do Espírito Santo, através das múltiplas mediações – desde a Palavra de Deus aos desafios históricos e à experiência das pessoas – através das quais descobrimos caminhos a seguir, ruturas a fazer, opções a tomar. Coloca-se, assim, a questão se o entendimento comum do ser cristão e as circunstâncias do viver eclesial têm favorecido o crescimento de uma espiritualidade cristã, também laical, conscientemente aberta à ação do Espírito, amadurecida nas suas capacidades de pensamento, linguagem e ação livres, responsáveis, proféticos.

 

1.2. Um novo modo de crer

 

Como – suponho eu – todos nós de algum modo sentimos, vivemos tempos de uma certa “crise de fé” num momento histórico em que não se dá apenas uma aceleração das normais transformações da sociedade sempre em evolução, mas acontece uma “transformação epocal” [3],  que atinge as raízes do ser homem e ser mulher neste mundo, as razões e as formas de crer, o futuro de quem vier depois de nós. Disse uma “certa crise de fé”, não uma “crise de religião” (esta, apesar de todos os secularismos, continua viva tanto em expressões tradicionais como novas e até fundamentalistas, e mais ainda nos seus substitutos). E disse “crise de fé” (um dos exemplos dramáticos é a dificuldade de transmissão da fé!) para sinalizar que o que está em causa é o significado real de Jesus para o nosso existir crente, para a humanização e salvação deste mundo, para a construção de um conviver mais fraterno, justo e com futuro. Enfim, disse “crise de fé” para expressar que, como pessoas e como comunidades, nos aguardam e são requeridas condições e formas novas de vivência cristã relativamente ao que conhecemos: um novo modo de crer a partir da fé de sempre e na Igreja de sempre, mas que atingirá configurações bem diferentes em muitos âmbitos da realidade eclesial e exigirá criatividade e coragem em muitos aspetos da vida da Igreja e do seu posicionamento na sociedade. “Nesta transição de época – escreve Serena Noceti – está em jogo uma transformação do corpo coletivo ‘Igreja’, que deve re-formar de modo dinâmico todos os aspetos da sua figura: visões orientadoras, linguagens, sujeitos, relações internas e externas, atividades e procedimentos, e sistema social” [4].

 

1.3. Disponibilidade para a necessária conversão e reforma

 

Chamados nestas circunstâncias a viver em Igreja de forma sinodal, percebemos melhor que a espiritualidade cristã emerge aqui no seu núcleo fundamental como disponibilidade humilde e continuada para caminhos de conversão pessoal e de reforma permanente da Igreja. No Decreto sobre o Ecumenismo, o Concílio Vaticano II caracterizou o ecumenismo espiritual como a alma do movimento ecuménico, precisamente porque nele se traduz o cerne da atitude evangélica de seguimento de Jesus, baseada na conversão do coração e na santidade de vida. Lembrou, assim, que não há ecumenismo sem conversão interior e que toda a renovação da Igreja é busca de fidelidade à própria vocação, pelo que – acentuou – a  Igreja peregrina é chamada por Cristo a uma “reforma perene” [5].

Por mais que sintamos a distância entre o que nos é pedido e a realidade que conseguimos viver, a identidade cristã – como vivência pessoal e como ambiente comunitário – passa decisivamente por aqui, o que exige sincera autocrítica e abertura de espírito para as transformações necessárias, por mais difíceis que elas sejam.  Temos de deixar de absolutizar muitas coisas que tomámos como definitivas e intocáveis, mas que são, de facto, profundamente relativas (conceções e formulações doutrinais, exterioridades rituais, normas canónicas, hábitos estreitamente eclesiásticos, etc.,). E há que avaliar o que fazemos e as omissões que cometemos de modo a corrigir os fatores que contribuem para a falta de sentido de corresponsabilidade por parte de muitos cristãos.

 

1.4. Sinais e atitudes de verdadeira humanidade

 

A sinodalidade da Igreja só pode ser vivida e desenvolvida na busca constante de critérios e comportamentos de verdadeira humanidade. Este é um dado elementar de fé cristã autêntica, de espiritualidade cristã consistente e minimamente credível. Sem busca de comportamentos humanamente verdadeiros e honestos, sem transparência de coração e de atitudes, sem capacidade de diálogo e tolerância mútua, sem atenção ao outro e sua consciência inalienável, sem  respeito incondicional pela dignidade humana, etc., só pode haver cristianismo de superfície, falsas espiritualidades, critérios e comportamentos semelhantes aos que encontramos na sociedade civil, desde a  política aos negócios (e isso tanto em leigos como em padres ou bispos). A sensibilidade e a atenção concretas a pressupostos de simples mas verdadeira  humanidade têm de ser elemento determinante no discernimento vocacional para todos os serviços e ministérios na Igreja, na formação dos seminários, no modo como se escolhem líderes e como funcionam as nossas comunidades, sejam elas de que tipo forem.  Só uma Igreja verdadeiramente humana pode testemunhar o Evangelho do amor a Deus e ao próximo com credibilidade e pertinência.

 

1.5. Formação da fé como desafio permanente

 

A interpelação espiritual que a sinodalidade nos coloca traduz-se ainda numa exigência prioritária de formação permanente na fé, em diversos níveis, formas e âmbitos. A questão básica colocada pela sinodalidade reside mesmo no facto de solicitar o envolvimento de cristãos – fiéis leigos e pastores – possuidores de uma consciência eclesial amadurecida e atuante, marcada pelo sentido do essencial cristão, por uma vivência eclesial aberta às dificuldades do presente e aos desafios do futuro. Está aqui um dos maiores problemas, mas também uma das maiores esperanças do caminho sinodal que estamos a viver, tanto mais que a formação de muitos cristãos se reduz ainda substancialmente à catequese que receberam e às homilias que escutam. E esperança sobretudo porque o que está aqui em causa – sem desvalorizar outros horizontes de formação mais exigentes e indispensáveis – é uma aprendizagem e formação crentes na escuta e no diálogo, na oração e na reflexão, na ação e na partilha de decisões (de certa forma, à maneira do bem tradicional “ver – julgar – agir”).

 

  1. Sinodalidade como tarefa estrutural

 

A vivência da sinodalidade apresenta-se como uma tarefa de ordem estrutural, e isto num duplo sentido: certamente porque a sua concretização sempre passou e terá de passar pela mediação de estruturas sinodais em diversos registos; mas é tarefa estrutural, antes de mais, porque estão em causa transformações profundas, a exigir abertura às interpelações que Deus no seu Espírito nos for colocando. Este é o primeiro de cinco pontos que reflito a seguir.

 

2.1. Uma ampla e profunda reconfiguração eclesial

 

Explicitando o que já foi sugerido, é indispensável reconhecer que a renovação sinodal da Igreja ao serviço da missão é uma tarefa de longo alcance, nunca acabada, a envolver as comunidades cristãs nos seus diversos tipos – desde as paróquias aos movimentos, às associações de fiéis e às comunidades religiosas  – e a penetrar, paulatinamente mas de forma consistente, a vida quotidiana das Igrejas locais e da Igreja inteira, transformando mentalidades e estruturas, aspetos disciplinares e institucionais, formas de pensamento e de linguagem, sob a interpelação dos diversos contextos socioculturais de vida. Pede-se, então, uma reconfiguração progressiva mas bem profunda da vida eclesial, sempre conscientes da nossa identidade cristã, da pluralidade legítima de caminhos e opções concretas, dos nossos próprios limites.

A amplitude e profundidade da reconfiguração aqui exigida percebem-se melhor, se tivermos presente a evolução eclesial verificada no segundo milénio e que culminou no Concílio Vaticano I. Ao longo dessa evolução secular emergiu e consolidou-se o sistema e modelo hierárquico gregoriano-tridentino – alusão à reforma de Gregório VII, no século XI, e seus custos, bem como ao Concílio de Trento e à Contrarreforma que se seguiu. As marcas deste modelo/sistema são bem notórias ainda hoje, com relevo para o ”cristomonismo” como uma das suas características determinantes, tanto em termos teóricos como práticos. O “cristomonismo”, assentando numa fundamentação e visão unilateralmente cristológicas da Igreja, desvaloriza a sua dimensão pneumatológica: nesta visão, o Espírito Santo atua sobretudo pela via hierárquica e na obediência dos fiéis relativamente à hierarquia. Concomitantemente, dá-se uma hipertrofia do seu aspeto institucional e do lugar preponderante do ministério ordenado como elemento essencial da instituição eclesial. De forma lapidar escreveu há anos Hermann Joseph Pottmeyer: “Da visão cristomonista decorre uma quíntupla ordem de prioridade: a prioridade da Igreja universal sobre a Igreja local, do ministro sobre a comunidade, da estrutura monárquica sobre a colegial, do ministério sobre os carismas e, finalmente, da unidade sobre a diversidade. A isso corresponde uma comunicação de sentido único de cima para baixo” [6].

Temos aqui chaves de leitura e impulsos de ação cruciais para rever muita coisa na realidade que vivemos, a exigir processos de transformação pessoal e comunitária. Não pode haver ilusões de que estamos perante uma conversão pastoral e estrutural de grande fôlego, que exigirá tempo, persistência e coragem evangélica (parresía).

 

2.2. O indispensável desenvolvimento das estruturas de sinodalidade

 

Não obstante a importância básica da dimensão informal, quotidiana, da sinodalidade vivida por muitos  cristãos que se corresponsabilizam na vida das comunidades, a sinodalidade só pode explicitar-se em todas as suas exigências e possibilidades através de estruturas sinodais aos mais diversos níveis, através de procedimentos formais de consulta e de discernimento dos caminhos de ação pastoral prioritários em cada situação. Relativizar ou até desvalorizar as estruturas de sinodalidade enquanto lugares institucionais de participação, diálogo e debate em ordem  à elaboração e tomada de decisões pastorais é querer iludir as questões e manter o “statu quo”. Se é  fundamental o espírito de comunhão (“sentire com ecclesia”), não pode, todavia, haver verdadeira comunhão sem condições e meios estruturais de realização. A esta luz e por exemplo, que numa paróquia não exista ou não funcione com qualidade um Conselho Pastoral, enquanto lugar privilegiado e competente de reflexão e deliberação pastorais, é um sintoma muito grave, que tem de nos fazer pensar.

Assim, e sem ignorar que as formas concretas de estruturação sinodal podem ser diversificadas, ter desenvolvimentos criativos e acolher especificidades socioculturais, é imperioso rever de alto a baixo as estruturas sinodais existentes (desde o Sínodo dos Bispos aos Conselhos Pastorais Diocesanos e Paroquiais) [7]. Trata-se, designadamente, de renovar estas estruturas em termos de verdadeira representatividade eclesial, de qualidade de funcionamento, de relevância pastoral, de peso efetivo nas decisões a tomar, de abertura real ao meio envolvente, também às pessoas que se situam na margem do funcionamento eclesial corrente. Há neste domínio – basta pensar na pouca relevância dos Conselhos Presbiterais ou dos Conselhos Pastorais diocesanos – muitos obstáculos e deficiências. É aqui, aliás, que emergem mais clara e visivelmente as contradições existentes entre o discurso oficial e a realidade que os fiéis experimentam ou conhecem.

 

2.3. O ministério ordenado na Igreja e sua configuração futura

 

O fomento da sinodalidade da Igreja não pode deixar de refletir, com toda a verdade, clarividência profética e vontade de decisão, sobre a realidade presente e a configuração futura do ministério ordenado, suas tarefas específicas, sua inserção plena na vida das comunidades. Esta questão-chave para o futuro, também na perspetiva ecuménica, envolve diversas vertentes. Anoto cinco:

  1. a) a visão ainda predominante que coloca o ministério ordenado numa diferença essencial e superior em relação ao sacerdócio comum (“diferenciam-se essencialmente e não apenas em grau”, segundo uma expressão menos feliz, mas sobretudo mal entendida de Lumen Gentium, nº 10!);
  2. b) a concentração da identidade do ministro ordenado na perspetiva pessoal (lembre-se o “carácter indelével”) em detrimento da dimensão comunitária e colegial que define igualmente a identidade deste serviço eclesial;
  3. c) o afunilamento da compreensão do seu lugar na Igreja em termos de “poder sagrado” e a visão da autoridade daí decorrente;
  4. d) os critérios de ordem vocacional, as prioridades na formação, as condições de acesso e as formas de realização do ministério que daqui resultam;
  5. e) enfim, a urgência de se pensar outras formas pastorais possíveis de exercício do ministério ordenado, certamente também em conjunto com a renovação das comunidades.

Como bem se percebe, estamos perante um conjunto de questões bem complexas, difíceis de enfrentar pelas consequências enormes em termos do sistema vigente, pelas raízes seculares e pelos hábitos adquiridos que a suportam. Só a confiança na ação do Espírito,  a abertura sincera ao sentido da fé dos crentes e uma visão lúcida do futuro permitirão a tomada de decisões inovadoras e pôr em movimento um processo de transformação que durará muito tempo e não deixará de encontrar muitas resistências.

Todavia, será possível já hoje concretizar algumas indispensáveis transformações de mentalidade, de estruturas e de modo de funcionamento. Ponto de partida indispensável é a necessidade de se ultrapassar de vez um certo “clericalismo” ainda reinante, que continua presente em muitos ministros ordenados, menorizando o papel dos leigos, ou se repercute nestes sob a forma de mimetismo clerical (é bem sabido que há leigos, homens e mulheres, formatados no sistema, bem mais “clericais” que muitos sacerdotes!). E, nessa ordem de ideias, há uma inequívoca opção eclesiológica a fazer: em vez de se continuar a pensar o lugar do ministério ordenado na Igreja simplesmente “a partir de cima”, numa linha hierarcológica tradicional ou pretensamente renovada, é indispensável vê-lo plenamente inserido dentro dos carismas, serviços e ministérios que, “a partir de baixo”, existem na Igreja como comunidade de pessoas capacitadas e impulsionadas pelos dons do Espírito, chamadas a serem corresponsáveis na vida da Igreja.

 

2.4. O papel da mulher na Igreja

 

Outro âmbito estrutural de enorme alcance, que a sinodalidade exige ser enfrentado, tem a ver com questões relativas ao papel da mulher na vida da Igreja em todos os seus âmbitos e dimensões. A tarefa é bem mais profunda do que problemas de ordem discriminatória ou reivindicativa. Um simples facto revela-o: como é possível que só muito recentemente, quase cinquenta anos depois [8], tenha sido revogada a impossibilidade de a mulher ter acesso aos ministérios laicais instituídos de leitorado e acolitado, uma verdadeira aberração cujas consequências funestas, em termos simbólicos e de consciência eclesial, são difíceis de avaliar?

Se pensarmos bem no que isto significa em termos de mentalidade dominante e se reconhecermos a inevitabilidade de novas perceções de consciência humana e cristã numa Igreja que caminha na história, não será difícil admitir que, quer se queira quer não, uma década antes ou um século depois, a abertura do acesso da mulher ao ministério ordenado pleno, ultrapassadas que estarão hermenêuticas teológicas e conceções socioculturais marcadas pelo tempo, é algo irreversível. De qualquer modo, na fase em que ainda nos encontramos, não querer que se fale sobre o assunto na vida interna eclesial e, assim, não deixar amadurecer e expressar-se o “sensus fidei” dos crentes, é algo cada vez mais sem sentido [9].

Não tenho qualquer ilusão de que, por si só, esta possível abertura resolva todos os problemas quer em relação ao papel da mulher na Igreja, quer relativamente ao ministério ordenado (é necessário ir muito mais além do que simplesmente reproduzir o exercício do ministério ordenado tal como o conhecemos!). E o problema ecuménico, neste caso particularmente em relação às Igrejas ortodoxas,  não é uma questão insignificante. Mas, cada vez mais, temos de saber ler os sinais dos tempos na força do Espírito Santo, possuir horizontes de longo prazo e não nos deixarmos prender por estreitamentos de teor eclesiástico, perdendo o sentido da busca sincera  da verdade e da urgência da missão. Afinal, a decisão tomada pela Igreja primitiva em Atos 15 na busca de fidelidade ao Evangelho de Jesus dizia respeito a uma questão bem mais profunda e estrutural sobre a identidade da Igreja.

 

2.5. Sinodalidade e colegialidade episcopal

 

Na realização da sinodalidade ocupa um papel determinante o modo como é vivida a colegialidade episcopal, ela própria uma expressão, específica embora, da sinodalidade da Igreja, tanto na perspetiva estrita de relação entre bispos como no papel que lhe cabe – enquanto símbolo, exemplo e impulso – para a vivência sinodal de todo o Povo de Deus. Estão aqui em causa aspetos de relacionamento pessoal, disponibilidade para a escuta mútua,  consciência de uma Igreja encarnada em cada tempo e lugar, sensibilidade pastoral às exigências específicas do próprio contexto, e tudo isso repercute-se no modo como as Igrejas locais de um país ou região vivem a comunhão eclesial e cumprem a sua  missão.

Ao longo da história, diversas “instâncias intermédias de colegialidade” situadas entre a Igreja local e a Igreja universal, surgidas em razão de origens históricas comuns, de fatores de homogeneidade cultural, da necessidade de enfrentar desafios análogos na missão, procuraram realizar a comunhão das Igrejas e a vivência da colegialidade episcopal. Lamentavelmente, a receção teórica e prática da colegialidade episcopal, que o Concílio Vaticano II reafirmou de forma significativa, completando o Vaticano I, não tem sido isenta de contradições. A visão conciliar inovadora do papel das Igrejas locais (particulares, dioceses) foi assumida mais numa perspetiva de autonomização do bispo que preside do que de verdadeiro impulso a uma comunhão entre Igrejas vizinhas, chamadas a enfrentar desafios pastorais semelhantes. No entendimento da identidade do ministério episcopal tendeu-se a acentuar mais a pertença do bispo ao colégio episcopal, em detrimento do seu lugar de ministro que preside a uma Igreja local, em comunhão com outras. E, em ligação com tudo isso, o estatuto teológico-jurídico das Conferências Episcopais foi atrofiado, ao entendê-las simplesmente como expressão de uma “colegialidade afetiva” (certamente, sempre de pressupor e fundamental!), em detrimento  do possível exercício de uma “colegialidade efetiva” (ainda que parcial, obviamente!) que lhe deve também pertencer.

Em boa verdade, não se pode falar de sinodalidade sem examinar a qualidade relacional da colegialidade episcopal realmente vivida, o grau de verdadeira comunhão existente entre Igrejas “vizinhas”, a capacidade de sintonia em orientações básicas e opções pastorais num dado espaço, o modo como se processa a relação Igrejas locais-Igreja universal (por exemplo, em termos de uma legítima autonomia em aspetos litúrgicos, jurídicos, ministeriais, prático-pastorais ou ainda no que se refere à escolha dos bispos, algo que continua a acontecer completamente à margem da quase totalidade do povo crente diretamente envolvido).

 

  1. Sinodalidade como estilo pastoral

 

Nesta terceira parte, a concluir, procuro sugerir alguns aspetos pastorais que a sinodalidade significa e é chamada a realizar.

 

3.1.Sinodalidade e exercício da autoridade na Igreja

 

No seu cerne, falar de sinodalidade é perguntar pela forma como se exerce a autoridade na Igreja. Como horizonte teológico, estrutural e existencial, a sinodalidade é o exercício da autoridade em comunhão enquanto o modo mais adequado de a entender e praticar nas suas diversas expressões. Em concreto, procura-se articular o exercício pessoal e colegial dos que detêm a autoridade na continuidade do ministério apostólico com a prática sinodal de discernimento e de corresponsabilidade nas decisões por parte da comunidade.

Não está, pois,  de modo algum em causa a autoridade e a responsabilidade próprias e inalienáveis que, a níveis diversos embora, cabem ao ministério ordenado na Igreja. O determinante é que essa autoridade e responsabilidade sejam exercidas na consciência de que os fiéis têm também uma palavra a dizer e devem ser ouvidos naquilo que constitui a vida de uma comunidade cristã. Trata-se, pois, de um  exercício da autoridade que ajude as pessoas a irem crescendo na  corresponsabilidade eclesial e que se traduza num modo de pensar e de agir que liberte nelas  os carismas que possuem e a capacidade de os colocar ao serviço da comunidade. Dessa forma, evitar-se-á que uma autoridade legitimamente “hierárquica” degenere em modos “autoritários-clericais” de agir, porque concentrada sobretudo no poder que possui e não no reconhecimento que merece.

Como se percebe, para que a sinodalidade eclesial seja vivência quotidiana precisa-se tanto de cristãos mais conscientes das suas capacidades e deveres como de responsáveis ministeriais espiritual, teológica e pastoralmente competentes e abertos, que assumam com maturidade a autoridade que lhes cabe, mas que saibam partilhá-la no reconhecimento de outras competências e formas de autoridade também existentes. Na medida em que isso acontecer, alguns impasses ou falsos problemas nos órgãos sinodais serão superados. Assim, perceber-se-á que não há qualquer problema, bem pelo contrário, em passar do meramente consultivo à capacidade deliberativa em tudo o que diga respeito à ação pastoral da Igreja e não tenha que ver com elementos doutrinais definitivamente adquiridos pela consciência crente universal. Por outro lado, uma opinião ou parecer maioritário que brote  do sentir e do pensar cristãos amadurecidos devem, por princípio, ser acolhidos e seguidos sem hesitações pela autoridade que for chamada a decidir.

 

3.2. Um estilo pastoral assente na escuta e no diálogo, atento ao  “sentido da fé” dos crentes

 

Em última análise, o que está em jogo na prática da sinodalidade é a possibilidade de dar expressão concreta e percetível ao sentido da fé dos fiéis e de o escutar na abertura sincera à ação do Espírito [10]. Captar e escutar o sentido da fé dos crentes é oportunidade e possibilidade de se proceder a um discernimento comunitário sobre os caminhos de maior fidelidade ao Evangelho, de distinguir entre o essencial e o secundário na vivência crente quotidiana, de procurar as opções pastorais mais pertinentes e adequadas, de fomentar a clarividência e a  disponibilidade para enfrentar novas questões no contexto de cada época e lugar. “O Povo de Deus – lê-se num documento do diálogo ecuménico católico-anglicano –  é como tal o portador da Tradição viva. Nas mudanças de situação que colocam ao Evangelho novos desafios, o discernimento, a atualização e a comunicação da Palavra de Deus são responsabilidade de todo o Povo de Deus. O Espírito Santo opera por todos os membros da comunidade, servindo-se dos dons que ele dá a cada um para o bem de todos. Os teólogos, em particular, servem a comunhão de toda a Igreja examinando se e como ideias novas devem ser integradas na corrente contínua da Tradição. Em cada comunidade há um intercâmbio, um jogo de relações mútuas, na qual bispos, clero e leigos dão, ao mesmo tempo que recebem uns dos outros no seio de todo o corpo” [11].

É na prática sinodal que o sentido da fé dos crentes, enquanto capacidade ativa de discernimento espiritual e intuição crente argamassada numa vida de fidelidade cristã em Igreja, encontra o caminho normal e indispensável de comunicação. A sinodalidade é pressuposto, meio e forma de o sentido da fé se poder articular e manifestar publicamente e com relevância no seio da Igreja. Deste modo, emerge um estilo pastoral da Igreja que, no conjunto da sua vida e particularmente nos seus agentes pastorais, procura perceber a vida real dos crentes e sabe escutá-los: “É na vida dos cristãos e sua experiência – escreve Joseph Famerée – que pode ser descoberto o sensus fidei, graças ao discernimento de todos, e ultimamente dos pastores, um discernimento que exige tempo:  o tempo do Espírito  em ação na Igreja não é o do mundo presente, ferido de imediatidade e instantaneidade. É num povo estruturado não de maneira dual ou binária, mas triádica (um presidente, alguns ministros, espirituais ou peritos, todos os fiéis), em que todos estão submetidos à Palavra de Deus e, portanto, em relação circular e de inclusão mútua ou de interdependência, que se joga o sensus fidei. A (não-)receção dum ensinamento ou duma prática eclesial, em termos de longa duração, é também uma manifestação ou uma forma de expressão do sentido da fé dos fiéis” [12]. Passa, afinal, por aqui o efetivo reconhecimento crente de que a Igreja é conduzida pelo Espírito Santo e só assim pode ser verdadeiramente fiel.

 

3.3. Renovação das lideranças nas comunidades como testemunho credível e  impulso criativo

 

A prática da sinodalidade coloca em primeiro plano na vida das comunidades a questão das lideranças, chamadas que são a renovar-se  e a compreenderem a sua missão primordialmente como uma tarefa maiêutica, impulsionadora de carismas e serviços pessoalmente assumidos. Isso vale, antes de mais, para o ministério de presidência/direção da comunidade, mas tem de englobar todos os agentes pastorais e qualquer cristão que detenha  alguma responsabilidade particular no âmbito comunitário.

No que respeita ao ministério presbiteral, a “crise do clero” de que, por vezes, se fala não é apenas nem principalmente uma questão de insuficiência de “número”. Há muitos outros fatores a considerar,  desde o perfil vocacional que se propõe e estimula à perceção clara da missão indeclinável e às tarefas prioritárias que competem a este ministério, não obstante a enorme diversidade de configurações concretas possíveis conforme as situações e as necessidades pastorais. Apesar de no pós-Concílio, dois Sínodos dos Bispos (1971 e 1990) já se terem debruçado sobre o ministério presbiteral, continuam em aberto (até se agravaram nos últimos tempos) questões bem importantes, desde a clarificação teológico-pastoral do que deve constituir o cerne do exercício deste ministério nas novas circunstâncias do mundo e da Igreja ao papel primordial que lhe cabe em comunidades que necessitam de reestruturação nas suas formas de vida e no seu modo de funcionamento.

A sinodalidade como processo permanente e prática organizada exige lideranças renovadas, competentes e inspiradoras: lideranças manifestas em testemunho de vida, sensíveis à celebração da fé com simplicidade, verdade e qualidade, capazes de dar orientação e de acompanhamento fraterno, atentas ao discernimento e ao impulso dos carismas existentes, maduras no sentido de saberem fazer caminho com a comunidade em percursos de sinodalidade e de legítima autonomia laical. Na realidade concreta, isto será, porventura, exigir demais. Mas não se pode desistir do esforço prioritário de capacitar as pessoas, em termos de formação humana, espiritual e teológico-pastoral, em ordem a lideranças credíveis e criativas.

A necessidade de lideranças renovadas diz respeito também (às vezes até, sobretudo)  aos outros agentes pastorais, envolvidos em serviços desde a liturgia à catequese, desde a formação na fé à diaconia. Não obstante as diferenças específicas de missão e das correspondentes responsabilidades, os critérios básicos de uma autêntica liderança cristã são essencialmente os mesmos, na consciência de que o futuro das comunidades passará cada vez mais pelo modo como cristãos leigos exercem o seu serviço específico face às necessidades existentes e emergentes e, assim, pela força discreta do seu testemunho de vida, interpelam o conjunto da comunidade.

 

3.4. Escuta das “profecias alheias” como condição de amor a Deus e ao próximo

 

A sinodalidade como expressão de identidade eclesial não é um fim em si mesma, mas é caminho de vida ao serviço da missão da Igreja. Todas as questões internas eclesiais que se colocam e devem colocar têm de estar sempre sob o horizonte do anúncio do Evangelho ao serviço da humanidade. A questão decisiva é, pois, a de saber como é que o estilo pastoral exigido pela sinodalidade se articula com as exigências da missão e impulsiona formas coerentes de agir sob esse critério.

À partida, há pressupostos básicos de consciência cristã e eclesial que são determinantes. A Igreja não é pura e simplesmente o “lugar”, mas “sacramento” de salvação, ou seja, sinal e instrumento da salvação como dom gratuito de Deus à humanidade (e, antes de mais, a cada um de nós). Isso significa que as fronteiras eclesiais visíveis (territoriais, sacramentais, doutrinais, disciplinares, etc.) não delimitam e condicionam o amor misericordioso de Deus para com todos os homens e mulheres que vivem neste mundo (neste momento, cerca de sete mil e oitocentos milhões de pessoas). À luz do Evangelho, a Igreja sabe que o seguimento de Jesus passa, decisivamente, pela vivência autêntica e coerente do amor a Deus e ao próximo. A verdade e a credibilidade da sua missão dependem, pois, da capacidade de testemunhar incondicionalmente o amor de Deus para com todos, sem privilégios de pertença eclesial ou de virtuosismo religioso, na particular atenção aos mais frágeis e necessitados de ajuda, acompanhamento, apoio, defesa.

Resulta daqui a  exigência de a Igreja perceber melhor o que a partir de fora do seu núcleo interno habitual a questiona e interpela na sua vida quotidiana. A sinodalidade como estilo pastoral pede uma escuta atenta e comprometida das “profecias alheias”, quer dizer, de vozes, experiências, interrogações, contestações, expectativas de muitos homens e mulheres que não estão habitualmente no centro da vida das nossas comunidades ou até se situam bem longe.

Em causa está aqui, antes de mais, a própria atitude de cada cristão, chamado a ver no outro com quem se cruza no quotidiano uma possível interpelação de Deus, porventura através da indiferença, da crítica, da rejeição, mas sempre e sobretudo através da necessidade de ajuda que nos interpela. Mas há todo um caminho de correção comunitária a percorrer, abrindo as nossas mentalidades e o nosso funcionamento comunitário habitual aos que estão de fora, em situação de distância crítica, de fragilidade humana ou de pobreza desumana. As comunidades cristãs sempre foram, mas, em situação crescente de diáspora, serão chamadas ainda mais a encontrar formas diversificadas de proximidade e abertura à realidade humana envolvente e suas interpelações, e as próprias estruturas locais de sinodalidade têm de saber integrar pessoas, caminhos e meios que as ajudem nessa escuta e nessa disponibilidade  para o serviço concreto ao próximo.

Esta abertura pessoal e estrutural aos que estão mais longe ou mesmo fora nunca foi nem será tarefa fácil. Pede-nos, antes de mais, mudanças de visão, abertura de coração, busca constante de fidelidade à opção evangélica pelos mais pobres e necessitados. Exige-nos sobremaneira uma enorme criatividade para que os canais de acolhimento, escuta e serviço sejam autênticos e efetivos, traduzindo o que as pessoas realmente sentem e mostrando o que o amor cristão realmente significa e implica.

A sinodalidade como expressão da identidade e missão da Igreja, da sua forma e do seu estilo, é assim fonte de esperança de uma vida cristã renovada, mais fiel aos dons recebidos e mais capaz de servir o próximo. O caminho sinodal que estamos a viver – não haja ilusões – vem certamente acompanhado de fortes “dores de parto”, mas pode ser – assim o creio – momento e caminho de esperança de nova vida na força do Espírito Santo.

 

José Eduardo Borges de Pinho

 

 

 

 

Alguns outros textos mais significativos e acessíveis, subjacentes a esta reflexão:

 

– DOCUMENTO PREPARATÓRIO DO SÍNODO 2023, Para uma Igreja  sinodal: comunhão, participação e missão, in https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2021/09/07/0540/01156.html#PORTOGHESEOK

Vademecum para o Sínodo sobre a Sinodalidade. Manual oficial de auscultação e discernimento nas Igrejas locais, inhttps://www.conferenciaepiscopal.pt › uploads   [ainda em https://centralcultura.com.br/arquivos/70526.pdf  e em https://www.vatican.va/roman_curia/synod/index_po.htm (em inglês)]

– FRANCISCO, Momento de reflexão para o início do percurso sinodal. Discurso do Papa Francisco (9 de Outubro de 2021) in https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2021/october/documents/20211009-apertura-camminosinodale.html

 

– FRANCISCO, Homilia na celebração eucarística para a abertura do Sínodo sobre a sinodalidade (10 de Outubro de 2021), in https://www.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2021/documents/20211010-omelia-sinodo-vescovi.html

 

– COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL,  A sinodalidade na vida e na missão da Igreja (2018), in https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_cti_20180302_sinodalita_po.html

 

– COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL, O sensus fidei na vida da Igreja (2014), in https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_cti_20140610_sensus-fidei_po.html

 

– BORGES DE PINHO, J. E., A sinodalidade na vida da Igreja: impasses, expectativas, desafios, in ISIDRO PEREIRA LAMELAS (Coord.), Supplicantes Veram Sapientiam. Homenagem a Dom António Montes Moreira, Editorial Franciscana, Lisboa 2021, 543-564 (este artigo, com reflexões afins ao que se apresenta neste texto, indica, no aparato crítico, mais bibliografia para o aprofundamento do tema).

 

[1] Cf. CH. THEOBALD, La osadía de antecipar el futuro de la Iglesia, in Concilium 377 (2018) 459-469 (11-21);  M. FAGGIOLI, La Iglesia del futuro: perspectivas históricas y sociológicas, in Concilium 377 (2018) 23-33 (471-483).

[2] A. BORRAS, Episcopalis communio, mérites et limites d’une reforme institutionelle, in Nouvelle Revue Théologique 141 (2019) 84.

[3] Cf. FRANCISCO,  Discurso no Encontro com os participantes do V Congresso da Igreja Italiana (10/11/2015), in http://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2015/november/documents/papa-francesco_20151110_firenze-convegno-chiesa-italiana.html (consulta a 26.11.2021).

[4] S. NOCETI, Estructuras para una Iglesia en reforma, in Concilium 377 (2018) 93.

[5] Cf. Decreto Unitatis Redintegratio sobre o Ecumenismo, nºs 6-8.

[6] H. J. POTTMEYER, Die Rolle des Papsttums im dritten Jahrtausend, Freiburg-Basel-Wien 1999, 121. Cf. ainda J. FAMERÉE, Le catholicisme ou le risque de l’intégrisme, in Revue théologique de Louvain 44 (2013) 365-387.

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[7] A. BORRAS, La synodalité ecclésiale. Diversité de lieux et interactions mutuelles, in  Recherches de Science Religieuse 107 (2019) 286 ss.

 

[8] FRANCISCO, Carta ao Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé  sobre o acesso das mulheres ao ministério do leitorado e do acolitado (10 de Janeiro de 2021), in https://www.vatican.va/content/francesco/pt/letters/2021/documents/papa-francesco_20210110_lettera-donne-lettorato-accolitato.html (consulta a 2.12.2021)

[9] Cf. PONTIFICIA COMISSIONE BIBLICA SULL’ORDINAIONE DELLE DONNE. Lo storico parere della Pontifícia comissione biblica (1976), in Il Regno-Attulità, 15.4.2015 – nº 4 (1197) 245-249; J. BEUTLER,  Diakoninnen, Presbyter und Episkopen. Kirchliche Ämter in den Pastoralbriefen, in Stimmen der Zeit (1/2019) 3-12.

[10] Cf.  W. BEINERT, Die Begründung des Glaubenssinnes als eines dogmatischen Erkenntniskriteriums, in Catholica 25 (1971) 271-303; J. FAMERÉE, Sensus fidei. Sensus fidelium. Histoire d’une notion théologique discutée, in Recherches de Science Religieuse 104 (2016) 167-185; CH. THEOBALD, Sensus fidei fidelium. Enjeux d’avenir d’une notion classique, in Recherches de Science Religieuse 104  (2016)  207-236; D. TERRA, O sentido da fé. Perceber a verdade ou o engano nas realizações da existência crente, Lisboa 2009.

[11] ARCIC III, Le don de l’autorité, in La Documentation Catholique 2204 (1999) nº 28, p. 472.

[12] J. FAMERÉE, Conciliarité de l’Église. Théologalité, pluralité, historicité, in Recherches de Science Religieuse 106 (2018) 456.

Currículo
José Eduardo Valente Borges de Pinho

– Nasceu em Válega, Ovar, é casado, pai de três filhos e avô de seis netos

– Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Teologia, onde lecionou de 1978 até 2018.

– Lecionou principalmente as disciplinas de “Eclesiologia” e “Mariologia”, cursos na área da Teologia Ecuménica bem como “Teologia das Religiões”.

– Foi Vice-Reitor da Universidade Católica Portuguesa desde Outubro de 1996 até Setembro de 2000, Diretor interino da Faculdade de Teologia, Diretor da Revista Didaskalia e um dos fundadores da edição portuguesa da Revista Communio.

– Foi membro da Comissão da Liberdade Religiosa de 2004 a 2016, por designação da Conferência Episcopal Portuguesa.

– Simultaneamente com a sua atividade académica, exerceu também a profissão de Jornalista, possuindo a respetiva carteira profissional. Pertenceu, nessa qualidade, desde 1977 até 2010 aos quadros da Rádio Renascença, onde exerceu várias funções.

– Principais publicações, entre mais de 130 textos publicados:

  • Igreja e comunidade politica numa perspectiva ecuménica, Münster 1975 (tese de doutoramento, texto só disponível na língua alemã)
  • A recepção como realidade eclesial e tarefa ecuménica, Lisboa 1994.
  • Ecumenismo: situação e perspectivas, Lisboa 2011