Publicações: 50 anos depois do «Pacto da Catacumbas», Papa Francisco trouxe «novo impacto na vida da Igreja»
O cardeal-patriarca de Lisboa afirmou que recordar «O Pacto das Catacumbas» é dar “um novo realce e novo impacto na vida da Igreja”, 50 anos depois deste compromisso.
“O pacto com o radicalismo evangélico em torno da pobreza que teve e nos deixou é, mais uma vez, um daqueles estímulos que quase ciclicamente é dado à Igreja toda para voltarmos ao princípio que nos define como cristãos”, explicou à Agência ECCLESIA D. Manuel Clemente, que apresentou a obra esta segunda-feira, na Capela do Rato.
O livro ‘O Pacto das Catacumbas’, de Xabier Pikaza e José Antunes da Silva, recorda os 40 bispos que se reuniram nas criptas de Santa Domitila, Roma, a poucos dias do final do Concílio Vaticano II, em novembro de 1965.
O cardeal-patriarca de Lisboa disse que este compromisso que os bispos firmaram, de «viver um estilo de vida simples e a exercer o seu ministério pastoral de acordo com critérios evangélicos», é ainda “um bom sinal do Concílio Vaticano II”.
“Muito inserido numa certa linhagem correspondendo ao apelo do Papa João XXIII. Os pobres sociologicamente falando e a pobreza em sentido mais englobante ganharam uma grande prevalência e mesmo na tradição católica deixaram de estar tão ligados ao trabalho de algumas congregações religiosas”, recordou D. Manuel Clemente.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa sustentou que a “encarnação” deste pacto hoje é o Papa Francisco.
“Creio que para mim, como para todos os meus colegas do episcopado, é uma figura muito estimulante e desafiante para esse radicalismo evangélico. Creio que a melhor figuração do pacto, 50 anos depois, é a pessoa e protagonismo eclesial do Papa Francisco”, desenvolveu o cardeal-patriarca de Lisboa.
A nova publicação, da chancela da Paulinas Editora, foi apresentada na Capela do Rato e o seu capelão destacou que este pacto “é de facto evangélico” porque o bispos procuram fazer um “corte profético”, até com direitos adquiridos.
Agência Ecclesia – ler artigo completo aqui
Cardeal-patriarca apresenta “O pacto das catacumbas – A missão dos pobres na Igreja”
O cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, apresenta esta segunda-feira, na capital, o livro “O pacto das catacumbas – A missão dos pobres na Igreja”, coordenado por Xabier Pikaza e José Antunes da Silva.
«No dia 16 de novembro de 1965, quando o Concílio Vaticano II já se aproximava do fim, 40 bispos reuniram-se nas catacumbas de Santa Domitila, em Roma, para celebrar a Eucaristia e assinar um documento em que expressavam o seu compromisso pessoal com os ideais do Concílio: viver um estilo de vida simples e a exercer o seu ministério pastoral de acordo com critérios evangélicos», explica o texto de apresentação do volume, publicado pela Paulinas Editora.
O “Pacto das Catacumbas” é «um compromisso pessoal de cada um daqueles bispos, mas é também, simultaneamente, um desafio para toda a Igreja e um instrumento para aferir a sua fidelidade ao Evangelho», continua a nota, acrescentando que a iniciativa remonta a três anos antes, no «momento em que se constituiu o chamado grupo “Igreja dos pobres”, na sequência do apelo radiofónico de João XXIII».
«Perante os países subdesenvolvidos, a Igreja mostra-se como aquilo que ela é e quer ser: a Igreja de todos e, sobretudo, a Igreja dos pobres», afirmou o papa que convocou o Concílio Vaticano II, a 11 de setembro de 1962, cerca de três meses antes do início dos trabalhos conciliares. Desde então, o grupo reuniu-se quase semanalmente para refletir sobre o que acontecia nas assembleias plenárias à luz do tema “Igreja dos pobres”.
Na crónica que assina semanalmente no jornal “Expresso”, José Tolentino Mendonça acentua que «a força profética e política dos 12 pontos desse pacto», assinado fará esta segunda-feira 50 anos, «e a exemplar fidelidade dos seus protagonistas» fazem desse acordo «um dos documentos fundamentais para entender algumas das horas mais luminosas do catolicismo contemporâneo».
«Que se propunham os bispos? A revolução da simplicidade.» A lista é longa, mas significativa: «Deixar os palácios episcopais e viver em casas iguais às das suas populações. Renunciar aos sinais exteriores de riqueza e à riqueza em si. Não possuir imóveis nem contas bancárias em seu nome. Confiar a gestão financeira e material das dioceses a comissões de leigos competentes e cônscios do seu papel apostólico; recusar-se a ser chamado, oralmente ou por escrito, com nomes e títulos que signifiquem a grandeza e o poder, preferindo ser chamado com o nome evangélico de padre».
Para Tolentino Mendonça, o pacto das catacumbas «recorda que o Deus em que os cristãos creem não plana acima das questões escaldantes da história: Ele aparece claramente comprometido com a justiça e uma ordem social de equidade, manifestando-se a favor dos mais pobres».
A sessão de apresentação do livro, de que oferecemos seguidamente um excerto, decorre na Capela do Rato, em Lisboa, às 18h30
Uma espiritualidade a partir do pobre para toda a Igreja
Maria Clara Bingemer
In “O pacto das catacumbas”
Ser pobre com os pobres: uma conversão pessoal
No texto assinado pelos bispos, há diversos elementos que dizem respeito a uma conversão pessoal, a uma mudança dos aspetos pessoais da vida de cada um. Em que consiste essa conversão?
Em primeiro lugar, em «ser como as pessoas», ou seja, em ser o mais humano possível, o mais parecido e semelhante a todos os irmãos e irmãs em humanidade, de um modo próximo e fraterno. Assim, segundo os signatários do Pacto, por exemplo, o episcopado deixa de ser uma dignidade que afasta e que requer elementos vivenciais de conforto e até de luxo, para se tornar a vida simples e humilde de um servo dos demais.
É isso que exprime claramente o ponto 1 do texto, ao dizer: «Procuraremos viver segundo o modo ordinário da nossa população no que concerne à habitação, à alimentação, aos meios de locomoção e a tudo o que daí deriva. Cf. Mt 5,3; 6,33s; 8-20.» Estamos perante uma opção de vida. Trata-se de abandonar os palácios episcopais para ir viver numa casa simples, como a maioria das pessoas; deixar para trás as refeições finas e requintadas, para se alimentar simplesmente, como a imensa maioria das pessoas; de usar os transportes públicos, em vez de veículos particulares.
Esse parágrafo implica uma determinação forte e profunda que leva realmente a uma mudança de vida de modo radical e profundo. E há muitos outros detalhes noutros parágrafos do Pacto que apontam para essa conversão radical e para essa vivência no mais profundo de cada um de uma espiritualidade evangélica de estar próximo e de viver como os pobres.
Por exemplo, a renúncia abarca não só a posse de bens, mas inclusivamente a aparência de riqueza no vestuário, nos símbolos usados (como a cruz peitoral, o báculo e a mitra). Isso implica que a figura do bispo já não deva ser uma figura que se impõe pelo seu aspeto, mas que se confunde com a gente simples. Nesse sentido, os bispos sentem-se chamados a ser como os primeiros Apóstolos, de quem são sucessores, e a não ter «ouro nem prata», mas Jesus, o Nazareno, como galardão e ornamento.
Quanto à posse de bens, o Pacto explicita que os seus signatários não possuirão bens «móveis ou imóveis», ou seja, não serão proprietários de nada, como os pobres do seu povo, que não têm onde reclinar a cabeça e que, por vezes, são forçados a ver a pobre casinha, que construíram com as suas próprias mãos, destruída por chuvas torrenciais, inundações, fogo, tempestades ou outras catástrofes. Afastam-se, de igual modo, do sistema financeiro capitalista em que vivem, quando declaram a sua renúncia à posse de contas bancárias e tudo o que das mesmas deriva: crédito, dinheiro fácil, multibanco, etc. Por fim, tudo aquilo que dá segurança num sistema que valoriza o dinheiro acima de todas as coisas, e que os pobres jamais poderão ter. Contudo, entendem, de forma realista, que por vezes talvez tenham de possuir algum bem. No entanto, nada deverá figurar em seu próprio nome; pelo contrário, sempre em nome da diocese ou das obras sociais ou caritativas.
Para fundamentar essa decisão de viver ao contrário do mundo e do sistema em que estão inseridos, citam os textos bíblicos de Mt 6,19 e Lc 12,33s, recomendando estes que não se acumulem tesouros aqui na terra, pois ficarão expostos à ação predadora do tempo e dos ladrões. É preferível vender o que se possui e dá-lo em esmola. O tesouro de um discípulo e apóstolo de Jesus Cristo deve estar no Céu, ou seja, no Reino do Pai. Só aí não se gastará, não se esgotará nem será destruído. Ou seja, deve ser oferecido, dado, aos que precisam, pois é aí que o quer Deus. Onde está o tesouro, aí também está o coração, e o coração de um pastor deve estar com as suas ovelhas, ser sensível às suas necessidades e solícito em assisti-las e satisfazê-las.
Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura – ler artigo completo aqui.