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«A Doutrina Social da Igreja é uma interpelação permanente», diz Maria de Belém

Maria de Belém, candidata à Presidência da República, considera que as propostas da Igreja católica no domínio social constituem uma «interpelação permanente», especialmente numa época em que a «instrumentalização» das pessoas é «absolutamente esmagadora».

A Doutrina Social da Igreja foi um dos temas mais amplamente tratados na conversa que a antiga Ministra da Saúde manteve com a jornalista Maria João Avillez, esta quarta-feira, no âmbito do ciclo de conversas sobre Deus, organizado pela comunidade da Capela do Rato, em Lisboa.

Na intervenção, de que apresentamos alguns excertos no vídeo abaixo publicado, Maria de Belém sublinhou a importância do ensinamento da Igreja em domínios como o direito ao trabalho, remuneração justa e propriedade.

«Os textos da Doutrina Social da Igreja ajudam-nos a perceber que estamos a regredir», vincou, após expressar a sua surpresa pelo facto de aquele corpo de documentos, com mais de um século, ser largamente desconhecido, inclusive em meios onde não o esperaria.

Questionada sobre o Sínodo dos Bispos, que em outubro debateu, no Vaticano, a questão da família, Maria de Belém afirmou que aguarda com «esperança» os resultados da assembleia, em particular a previsível exortação apostólica que o papa Francisco irá assinar.

A candidata presidencial está consciente de que a pluralidade de perspetivas na Igreja impõe que eventuais mudanças possam demorar: «O tempo tem o seu tempo», referiu, acrescentando que «o tempo longo também é necessário».

A Igreja tem errado ao preocupar-se mais com a «forma» do que com a «substância», além de que poderia estar muito mais presente na vida das pessoas, acentuou Maria de Belém, para quem o papa Francisco foi eleito num momento de «necessidade» e «oportunidade».

Das visitas que fez ao Vaticano quando era titular governamental da pasta da Saúde, no contexto dos encontros organizados pela Pastoral da Saúde, Maria de Belém guarda a imagem do papa João Paulo II como prisioneiro de um sistema, pelo que saúda a decisão tomada por Francisco de não habitar o apartamento reservado aos pontífices, no Palácio Apostólico.

Para Maria de Belém, o atual papa é uma «figura extraordinária» que está a tentar corrigir «erros colossais», ao mesmo tempo que, mesmo enfrentando «riscos», tem transmitido «mensagens muito fortes».

A relação com Deus, os excertos evangélicos marcantes, a ligação entre fé e política, a liberdade de escolha no domínio da religião e a espiritualidade foram também temas abordados por Maria de Belém neste encontro (cf. Artigos relacionados).

O ciclo de conversas com Deus prossegue na próxima quarta-feira, às 21h30, com o selecionador nacional de futebol, Fernando Santos.

Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura


Maria de Belém: «Sou profundamente cristã»

Maria de Belém, candidata a Presidente da República, declarou-se esta quarta-feira «profundamente cristã», no ciclo de encontros sobre Deus organizado pela comunidade da Capela do Rato, em Lisboa.

Na conversa com a jornalista Maria João Avillez, de que apresentamos em vídeo alguns excertos, a ex-Ministra da Saúde evocou as memórias de Deus na sua casa de infância, realçando a importância da figura do anjo da guarda.

Para Maria de Belém, a vivência da religião implica responsabilidade no agir, proteção, amor e afeto, sendo uma realidade «natural» com que convive «permanentemente»: «Deus é como o ar que respiro».

«Todas as decisões importantes da minha vida passam pela invocação de um poder superior a mim», afirmou quando questionada se Deus entrou na decisão de se candidatar à Presidência da República.

Ainda jovem, ouviu o reitor da igreja da Lapa, no Porto, a falar da ressurreição de Lázaro; ficou-lhe para sempre aquela interpretação, que configurou a sua relação com o catolicismo, marcada por dar prioridade à «razão e emoção» relativamente às normas da Igreja.

«Vou à missa quando acho que devo ir», afirma, acrescentando: «A minha religião é sentimento». Reza com as suas palavras, mas também com o Pai-nosso e a Avé-Maria, orações que aprecia especialmente.

A educação cristã sensibilizou-a para o cuidado pelos «humildes». Diz que a sua «prática de fé é mais feita de ação do que de formalismos» e afirmou a convicção de que «o mundo estaria muito melhor» se houvesse mais preocupação com a «substância» do que com as «rotinas».

Vive marcada pela narrativa evangélica do devedor que foi perdoado e que, como credor, recusou o perdão, atitude que diz testemunhar com frequência. Gostaria de não perder a sensibilidade para a justiça e para a injustiça.

Procura fugir aos conflitos entre a fé e o desempenho de cargos públicos e defende que não deve «exibir» as suas crenças religiosas. Desconfia de quem vai à Missa apenas para ser visto.

Tem a certeza de que a fé não lhe vai impor limites ao mandato de Presidente da República, se for eleita. Nos momentos de decisão, manda a consciência, mas no jogo político sabe que não chega para determinar os destinos do país.

O papa Francisco, o Sínodo dos Bispos sobre a Família e a Doutrina Social da Igreja foram também temas refletidos por Maria de Belém. Proximamente oferecemos uma síntese em vídeo dessas intervenções.

O ciclo de conversas com Deus prossegue na próxima quarta-feira com o selecionador nacional de futebol, Fernando Santos.

Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura


O Deus natural, sentimental e privado de Maria de Belém

“A Santa Madre Igreja é organização e a minha religião é sentimento” foi com esta frase e uma referência a Antero de Quental que Maria de Belém Roseira, ex-ministra e ex-presidente do PS, resumiu a sua fé e a sua relação com Deus.

No Conversas com Deus desta semana, na Capela do Rato, a agora candidata presidencial falou de religião e de política, dando testemunha de uma vivência de fé individual e de uma relação com Deus que diz ser “natural”, mas que tem dificuldade em “transformar em algo de figurativo”.

Na conversa dirigida por Maria João Avillez, Maria de Belém contou que nasceu numa casa de “católicos praticantes e onde a educação religiosa fazia parte da educação”, mas preferiu definir-se como “profundamente cristã” e disse que acredita no cristianismo “não só como religião, mas como filosofia de vida”.

Aprendeu da mãe “preocupar-se com as pessoas humildes porque as poderosas não precisam” e na família era muito valorizado o conceito do anjo da guarda como sinal de uma “relação de protecção”. Mas questionada sobre quando passou dessa vivencia mais infantil da fé para uma relação adulta com Deus, a candidata presidencial assumiu que tem alguma dificuldade em responder.

“A relação com Deus é uma relação em função de uma ordem universal. Há qualquer coisa que existe, mas que tenho dificuldades em transformar em algo figurativo. É algo como o ar que respiro, é natural, quase não sinto”, afirmou Maria de Belém, que, ao longo de quase uma hora de conversa, foi desfiando uma visão de Deus mais próxima dos conceitos New Age (designação genérica para correntes de espiritualidade que misturam conceitos espirituais e psicológicos e uma simbiose com o meio envolvente e com a natureza) do que do Deus Uno e Trino da Igreja Católica.

“Não sou dogmática”, afirmou várias vezes a ex-ministra da Saúde, acrescentando: “A minha prática de fé é mais feita em acção do quem em formalismo, sou mais sentimento do que forma, sou muito mais acção e substância do que forma.”

Clique aqui para ler o artigo completo e ouvir o áudio desta “Conversa sobre Deus com Maria de Belém”.

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