No dia 14 de Dezembro de 2022, na sessão comemorativa dos 50 anos da vigília de oração pela Paz, sua Ex.cia o Senhor Presidente da República condecorou a Comunidade da Capela do Rato com a Ordem da Liberdade. A condecoração foi recebida pelo capelão, o P. António Martins. Ao encerrar a sessão, declarou o Presidente, justificando o seu gesto: «Estou aqui para atribuir a Ordem da Liberdade a esta comunidade, por representar um momento histórico determinante para o percurso de conquista da Liberdade. Aqui houve um gesto de luta pela liberdade, e esse gesto merece ser assinalado». O gesto concretiza o que o Presidente da República afirmara no passado dia 8 de Dezembro, na Igreja de S. Domingos, aquando da inauguração das celebrações: «ter um gesto simbólico em relação à comunidade do Rato». A proposta de condecoração, destacou o Presidente, foi feita pelo atual ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva.

A encerrar a sessão, foi descerrada uma lápide, no exterior da Capela, evocativa da vigília de oração pela paz que um grupo de católicos promoveu na passagem do ano 1972-1973, inspirados na mensagem do Papa Paulo VI, «A Paz é possível.

Na entrada norte da Capela, está patente a mostra expositiva «A Paz é Possível. A vigília da Capela do Rato e a contestação à guerra colonial.

 

Saudação do Capelão

Saúdo o Senhor Ministro da Cultura, o Professor Doutor Pedro Adão e Silva, anterior comissário, pela inclusão da vigília pela paz integrada na celebração dos 50 anos do 25 de abril. Foi com sentido de responsabilidade que nos associamos às celebrações oficiais. Homenageamos, assim, todos os católicos que lutaram pela liberdade e pela democracia, por vezes perseguidos, torturados, demitidos dos seus cargos administrativos. Foram (e são ainda alguns) pessoas que na audácia de um testemunho profético ousaram tornar a sua fé implicativa na sociedade, procurando transformar a ordem injusta dominante. A vigília de oração pela paz, aqui celebrada, fez parte de um movimento mais amplo, o despertar da consciência católica para a urgência da paz, do fim da guerra colonial e do caminho para a democracia. Nele estiveram implicados leigos, padres e alguns bispos, no Porto e em Lisboa, de Portugal a Moçambique.

Saúdo a Senhora Comissária, Professora Doutora Inácia Rezola. Foi um gosto trabalhar consigo e com a sua equipa, percorrendo um caminho seguro, de inclusão de sensibilidades várias, de rigor histórico, com uma eficaz serenidade operativa. Revisitando a história, resgatamos a memória e honramos as pessoas mas, igualmente, construímos o futuro.

Foi com entusiasmo operativo de me envolvi de corpo e alma nestas celebrações, e procurei, com o envolvimento da comunidade da Capela do Rato, criar todos as condições necessárias para a celebrações que estamos a viver. Agradeço à sua equipa técnica, com quem fui dialogando em vários momentos deste processo.

Saúdo o Senhor eng. Carlos Moedas pelo compromisso pessoal e da Câmara Municipal de Lisboa na oferta da placa de mármore, junto à porta principal, assinala a vigília pela paz de há 50 anos. A Capela do Rato passa a ter nome visível na Calçada Bento da Rocha Cabral. A sua identidade e a sua memória são reconhecidas no espaço público: e isso é para todos nós, comunidade, Cidade de Lisboa, freguesia de Santo António, motivo de orgulho comum. Não somos um espaço clandestino, secreto; temos rosto, nome e projeto na Igreja e na Cidade de Lisboa.

Saúdo os participantes que vão entrar na conversa “A Paz é Possível: o “Caso da Capela do Rato” visto por organizadores e participantes”: a Isabel do Carmo e o Jorge Wemans, e o jornalista António Marujo, que modera. Bem-vindos a esta Capela cinquenta anos depois. Os vossos testemunhos, em primeira pessoa, ligam o passado ao presente pelo trabalho de elaboração da memória.

À comunicação social que segue, atenta, este acontecimento e tão bem o divulga, na pluralidade das suas leituras, pois todos os acontecimentos não se reduzem a uma «verdade única». Por vós, a Igreja, no passado e no presente, pode ser motivo de boas notícias. E que consolação para todos!!! Muito obrigado pela vossa presença.

A todas as pessoas que, na estreiteza do espaço, possivelmente apertadas, mas de coração alargado, quiseram marcar a sua presença, revivendo acontecimentos, dando continuidade à memória, dou as minhas boas vindas a este pequeno mas grande espaço, símbolo de liberdade, de criatividade, de inquietação que é a Comunidade viva da Capela do Rato.

«Vemos, ouvimos e lemos, Não podemos ignorar»: compôs Sophia o poema para a vigília de S. Domingos e Francisco Fanhais interpretou. Essa canção gravou-se em nossa memória como expressão do grito pela paz, expressão do escândalo da violência e da guerra. Obrigado Francisco por estar aqui de novo e nos cantar a Cantata da Paz.

Saudação a Sua Excelência o Presidente da República

Seja bem-vindo, Senhor Presidente da República, a esta comunidade e espaço físico da Capela do Rato, símbolo para todos nós de liberdade.
Nunca imaginei que as circunstâncias em que o Senhor Presidente da República nos visita pudessem ser estas: a celebração dos 50 anos da vigília de oração pela paz, que aqui ocorreu, por audaz iniciativa de leigos, inspirados na doutrina social da Igreja, que não podiam mais calar o silêncio e cumplicidade da hierarquia de então com o governo ditatorial, o tabu indiscutível da guerra colonial, chaga insuportável nas consciências e na vida social da nação, o adiamento da transição democrática.

A sua presença honra, confirma e desafia esta comunidade a continuar numa fidelidade criativa à sua história.

Pe. António Martins, 14 de dezembro de 2022

@ Fotos: Rui Ochoa / Presidência da República – mais fotos aqui.