Memória – até setembro 2015

“2/3″][vc_tabs interval=”0″ style=”tab-style-one”][vc_tab title=”2014″ tab_id=”1409507060-1-13″]

Julho

height=”10″][vc_toggle title=”2014/07/18 – Estado de graça ou desgraça? – conferência para boa gente solteira” open=”false”]estadoGraca_capelaRato_noticia[/vc_toggle][vc_toggle title=”2014/07/17 – VERBO – Deus como interrogação na poesia portuguesa” open=”false”]verbo_capelaRato_capaLivro_noticiaA antologia de poesia “Verbo: Deus como interrogação na poesia portuguesa”, com seleção de Pedro Mexia e padre José Tolentino Mendonça, vai ser apresentada esta quinta-feira, 17 de julho, em Lisboa.

A sessão, marcada para as 18h30 na Capela do Rato, conta com as intervenções do crítico literário Fernando J.B. Martinho e Tolentino Mendonça, diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura. O ator e encenador Luís Miguel Cintra lerá alguns dos poemas.

Do volume publicado pela Assírio & Alvim que foi lançado no último sábado, em Famalicão, durante o encontro “Carmina 1”, revelamos grande parte do texto introdutório, a que juntamos seis poemas.

 

Explicação
Pedro Mexia, José Tolentino Mendonça

Estamos conscientes de que entramos aqui a brincar com o fogo, contrariando ambos os lados de uma barricada. Uma antologia desta natureza tem, por isso, todos os ingredientes para constituir-se numa empresa que falha. Desde logo pela banda daqueles que chegarão a este livro por serem simplesmente leitores de poesia. Uma declaração de Gottfried Benn pode bem traduzir os seus receios: «Deus é um mau princípio estilístico. Quando alguém se torna religioso, isso fatalmente abranda a sua expressividade.» As convicções religiosas são incompatíveis com a boa poesia. Elas «abrandam», «afrouxam», «domesticam», tornam «bem intencionadas» as proposições. E, novamente nas palavras de Gottfried Benn, «bem intencionado» é o contrário de bom. A alternativa que o poeta alemão apresentou passou a constituir um dos modos mais representativos de afrontar o problema: a arte (e, neste particular, a poesia) é a única forma possível de transcendência. A religião perdeu o poder de impulsionar os homens no seu desenvolvimento espiritual e «apenas a arte permanece como a verdadeira tarefa da vida, como sua identidade, sua atividade metafísica, à qual ela mesma, a vida, nos obriga». Como sempre, o problema não são as intuições originais (instigantes e necessários motores do desassossego), mas a sua massificaçâo e o émulo que, sem pretender, por vezes geram: o preconceito.

Mas os leitores que chegam a este volume por que sobretudo se interessam pela questão religiosa não atravessam um desconforto menor. A crítica religiosa à estética contrapõe uma antítese radical: a arte é um princípio demasiado frouxo e ambíguo para a fé. A arte é, no fundo, um jogo do esconde-esconde, sem compromissos, sem gravidade existencial; e pior, instaura uma moral estranha à moral autêntica. À estética opõe-se aquilo que realmente conta: a ética e a vida eterna. Como à poesia se opõe o único fator decisivo: a verdade. Bem podem os românticos alcandorar que «quanto mais poético mais verdadeiro». A crítica protestante (Sören Kierkegaard e Karl Barth, por exemplo) e a teologia católica neoescolástica aparecem coincidentes num claro alinhamento de confronto, o que justifica também o divórcio que, na prática, se veio a instalar entre religião e artes.

Claro que este é um quadro extremado e não podemos esquecer, como recorda Jorge de Sena, que «há infinitas maneiras de prevalecer». A todos os que as inventam, as desejam e as praticam dedicamos esta antologia. Estamos em crer que se um protagonista com a envergadura intelectual e espiritual de Bento XVI dirigiu aos artistas as palavras que se seguem, mostra como, porventura, ingressamos noutra estação: «O que pode voltar a dar entusiasmo e confiança, o que pode encorajar o ânimo humano a reencontrar o caminho, a elevar o olhar para o horizonte, a sonhar uma vida digna da sua vocação, a não ser a beleza? Vós bem sabeis, queridos artistas, que a experiência do belo […] não é algo acessório ou secundaria na busca do sentido e da felicidade, porque esta experiência não afasta da realidade, mas, ao contrário, leva a um confronto cerrado com a vida».

Escolhemos como balizas temporais as obras de Vitorino Nemésio e de Daniel Faria, e lemos com atenção e vagar os poetas portugueses, nascidos entre 1901 e 1971, que fizeram da «questão de Deus» um tema, motivo ou obsessão. Como é natural muitíssimos autores e movimentos ignoraram a «questão de Deus» (…).Em contrapartida, a «questão» aparece com frequência nos autores ligados à “Presença”, aos “Cadernos de Poesia», até à “Arvore”, isto para nos ficarmos por grupos ou tendências. Cedo nos apercebemos de que o cristianismo (quase não se encontram outras religiões em poemas portugueses) é em muitos poemas um facto cultural sociológico; não um assunto íntimo e grave, mas uma linguagem, uma memória de infância, um aspeto quase folclórico, um ritual laicizado, ou então uma referência pictórica, arquitetónica, musical.

Se tivéssemos incluído todos os poetas que aludem de algum modo ao cristianismo, a antologia teria uma centena de autores, e não treze. Pareceu-nos porém que interessava mais a ideia de «questão», questão dos poetas consigo mesmos, quer se tratasse de fé, angústia, recusa, apostasia, incompreensão, revolta ou prece. Ainda assim, chegámos a ter uma seleção quase final com vinte e muitos poetas, que fomos reduzindo. Abdicámos, na escolha definitiva, de certos poemas meditativos e metafísicos, eliotianos, digamos assim, que certamente teriam lugar num volume mais extenso, mas que se prestavam mal a uma antologia; de outros em que o motivo cristão é apenas alegórico ou até «linguístico»; e três ou quatro poetas canónicos ficaram de fora por uma questão do gosto pessoal de quem escolheu, que é sempre um bom critério em antologias.

Destes treze poetas, cinco estão representados com quinze poemas, por nos parecerem absolutamente determinantes numa compreensão da «questão de Deus» na poesia portuguesa. Começamos com Nemésio, que escreveu poemas de uma entrega metafísica confiante e aflita, em estilo elevado ou chão, com uma toada popular ou um vocabulário científico, dando corpo à própria noção de Verbo. Sophia de Mello Breyner Andresen é um caso especial de contiguidade entre a cultura greco-latina, pagã, e a ética cristã, mas tem sempre presente os mesmos ideais de justiça, perfeição, paz, o mesmo escândalo com os fariseus e os opressores, a mesma ânsia por uma «pura face». Fernando Echevarría chega ao cristianismo como uma dupla emanação da filosofia e da mística, uma «experiência» do sagrado intimista, intelectual, que se manifesta em noções de evidência, estudo, presença. Ruy Belo começou por ser um poeta católico, tornou-se depois um «pobre católico» e um «vencido do catolicismo», deixando cair todas as maiúsculas, até na palavra deus, e deixou-nos poemas literalmente antológicos sobre os vestígios de Deus nas palavras e no mundo, mesmo que se tenha depois desencontrado com esses vestígios. O quinto destes poetas é Daniel Faria, monge beneditino, precocemente falecido, que compôs poemas bíblicos, metafóricos, algures entre São João da Cruz e Herberto: paráfrases, transformações, intimações e segredos.

As demais escolhas são evidentes, umas, e originais, outras. Ruy Cinatti, por exemplo, era inescapável, com o seu tom de oração coloquial, um «nós não somos deste mundo» que claramente se situa no mundo, atravessa o mundo, atravessando Deus também. O caso de Jorge de Sena é mais bizarro; nem sequer tínhamos pensado incluí-lo, mas os poemas dos anos 1930-40 são literalmente uma luta com Deus, uma tentativa de enfrentar a «questão de Deus», às vezes com veemência, como um agnóstico à beira da crença ou do ateísmo; o facto de «a questão» quase ter desaparecido na obra subsequente não elimina o evidente interesse destes poemas. Quisemos incluir José Bento porque se trata de um poeta com um reconhecimento insuficiente, apenas compensado pelo seu prestígio como tradutor do castelhano; estes quatro poemas são reveladores de uma poética intensa e discreta, de surpreendentes ecos marianos, e com uma crença que, tal como a poesia, depende por vezes de «uma única palavra». Autor de obra escassa, porque morreu cedo, suicida, Cristovam Pavia deixou uma grata lembrança em muitos dos seus amigos poetas, e os três poemas que dele incluímos dão conta de um «amor angustiado» e de «forças já não minhas»; forças insuficientes, talvez, mas um amor certo. Pedro Tamen pertence à geração dos «católicos progressistas» ligados à revista “O Tempo e o Modo” e à editora Moraes; os quatro poemas que estão na antologia correspondem à primeira fase da sua obra, devota, interrogativa, surreal esperançosa. Armando Silva Carvalho talvez surpreenda os que o imaginam apenas antilírico, ácido, quase abjecionista; o «cão de Deus» percorre muitos dos seus poemas, histórias de encontros, tias, discípulos, ternura e compaixão, às vezes em tabernas e tasquinhas, como os sítios «impróprios» que Jesus também frequentava. Carlos Poças Falcão é provavelmente o nome menos conhecido desta antologia, mas a recente publicação dos seus poemas completos mostrou a força quase litúrgica desses versos que vivem no espírito e na confiança, que fazem de Deus uma sabedoria e uma exultação. Finalmente, o caso inesperado de Adília Lopes, que parece demasiado humorística e prosaica para abordar a «questão», mas que na verdade tem Deus em dezenas de poemas, um Deus que é um boomerang, um Deus na vida de bairro, um Deus da caridade, Deus como uma mulher a dias, um Deus que é um bicho, um cheiro e uma coisa vivida.

Deus como interrogação, assim se chama a antologia, porque Deus existe, na poesia como na vida, em modo interrogativo, mesmo para quem tem fé. Esta não é uma antologia para crentes ou para não-crentes, é uma antologia de poesia que dá exemplos de um tema, de um motivo, de uma obsessão, exemplos portugueses, numa época que também nos deu Claudel, Eliot, Luzi ou Milosz, poetas com uma questão, com uma pergunta que nunca está respondida.

 

[Senhor, nas minhas veias]
Vitorino Nemésio

Senhor, nas minhas veias
Trago a morte medida.
Sou lâmpada de pobre:
Nem toda a noite a vida.

Já meu sangue estremece;
Veio uma asa ao lago.
Minha mão arrefece
Nestas coisas que afago.

Que maneira de amor
Fui, no menino ido!
Agora, seja o que for
Já no homem cumprido.

Até ao último fio
Poupei o dote divino.
O homem de Deus perdi-o;
Só salvei o menino.

Esse me leva e enche
Como uma onda do mar;
Minhas fraquezas preenche,
Que a grande força é brincar.

Já vai escurecendo;
O sangue pára de arder.
Agora, o que digo acendo
Para não me perder.

 

Anunciação
Ruy Cinatti

Não tenho palavras, nem entendo
formas visíveis.
Elas vêm concretas como aragem
a que dou nome.

Tenho-me, eis tudo. Acontece.
Há uma folha que desce,
que sobrenada, que desce,
que submerge no ar e depois desce
longe de mim no ar fundo.

Nós não somos deste mundo.

Fresca e limpa como a chuva,
ouço a tua voz cantada
descer do céu ao silêncio
que vem da terra molhada.

Nós não somos deste mundo.

Ouso dizer-te o meu nome
como quem se atreve a dar-te
a minh aimagem.

Nós não somos deste mundo.

O que não vejo, entendo.
Pelos rios do meu sangue,
atrevo-me.

Anoitecendo, a vida recomeça.

Dou-me em palavras
que ressuscitam,
Algures no céu amanhece.

Só, intranquilo, pela vereda, desce
o nómada meu amigo.

 

Súplica final
Jorge de Sena

Senhor: não peço mais que silêncio,
o silêncio das noites de planície como enevoadas águas,
o silêncio dos montes quando a tarde acabou e as pedras
se afiam na friagem que é azul-celeste,
o silêncio do sol encarquilhando as folhas,
e o do vento na areia depois de ter passado,
o silêncio das ondas ao longe espumejando tranquilas,
o silêncio das mãos e o dos olhos,
e o das aves negras que pairam nas alturas
de um céu silencioso e límpido. Não peço
mais que silêncio. O silêncio das ideias que deslizam
no teto escorregadio da memória silente.
E o silêncio dos sonhos coloridos, e o dos outros
a preto e branco imagens desejadas
que não pensei que desejava e esqueço
ao querer lembrá-las. E o silêncio
dos sexos que se possuem sem uma palavra.
E o do amor também, tão silencioso esse,
que não sei quem amo.

Não peço mais. Afasta
de mim o estrondo: não o das cidades,
ou dos homens, das águas, do que estala
na memória ou penumbra das salas desertas.
Afasta de mim o estrondo com que a vida
se acabará contigo, num rasgar de súbito
em que ficarei inerte e silencioso. O estrondo
em que não ouvirei mais nada. O estrondo
em que não mexerei um dedo. O estrondo
em que serei desfeito. O estrondo
em que de olhos abertos
alguém mos fechará.

Senhor: não peço mais do que o silêncio do mundo,
o silêncio dos astros, o silêncio das coisas
que outros homens fizeram, e o das coisas
que eu próprio fiz. E o teu silêncio
de senhor que foi. Não peço mais.
Não é nada o que peço. Dá-me
o silêncio. Dá-me o que não fui:
silêncio (porque calei tanto):
o que não sou (pois que calo tanto):
o que hei de ser (já que falar não adianta):
silêncio.
Senhor: não peço mais.

 

[Um  dia encontrei Deus num poema]
Armando Silva Carvalho

Um dia encontrei Deus num poema
histórico.
Debaixo daqueles versos tão explicativos
em que a gente podia ver suar os reis
e urinar rainhas e até os ferros das montadas
se soltavam das sílabas histéricas
Deus quisera estar escondido como uma
criança.
Não tinha filosofia aquele poema.
Eu sabia-o de cor por isso encontrei Deus
e à noite num balcão duma taberna
recitei-o aos bêbados sonâmbulos de chuva.

 

[há infinidades a que não se dá um nome]
Carlos Poças Falcão

há infinidades a que não se dá u m nome
mas a tua infinidade é o teu nome
a multiplicação de todos os teus passos
contém-se numa única passada
os instantes todos e os gestos expandidos
são o teu enxame o teu mil e o teu milhão
– mas pudesses escutá-los como um só estalido
na hora do calor

há cúmulos no céu e granulações na terra
e com batimentos próprios fizeste a tua espuma
a isso chamas força – mas tudo se te esconde
e mesmo a inteligência imersa não se vê

«talvez exista algures uma arcaria oculta
talvez se explique que os extremos estremeçam»
e vais dizendo isto enquanto a tua ação
é o que faz vibrar a teia
as armadilhas prendem os que se debatem
os pensamentos soltos impedem de acertar
as imaginações desviam para sempre
as mais altas experiências

melhor dizer apenas: este é o meu corpo
permite que celebre a exata temperatura
o santo coração numa só corola deve
em verdade ser erguido para não morrer

 

[E desço à verdura das tuas mãos]
Daniel Faria

E desço à verdura das tuas mãos
Como as manadas que buscam as minhas

Faltam-me apenas os pés feridos dos que peregrinam
Faltam-me no chão duro das promessas
Os joelhos

Queria tanto andar em redor, rodear-te, se soubesses como
Queria amar-te tanto

O que sei da unidade é a túnica
Tirada à sorte. O que sei da morte e da vida
É o livro escrito por dentro e por fora
Silêncio escrito por dentro
Palavra escrita a toda a volta da história

O que sei do céu
É a mão com que sossegas os ventos

Desço à escritura como os veados aos salmos

 

© SNPC | 17.07.14

Luís Miguel Cintra lê poemas da antologia “Verbo: Deus como interrogação na poesia portuguesa”: Vitorino Nemésio, Ruy Cinatti, Jorge de Sena, Sophia de Mello Breyner Andresen, Fernando Echevarría, José Bento, Ruy Belo, Cristovam Pavia, Pedro Tamen, Adília Lopes

 

[/vc_toggle][vc_toggle title=”2014/07/13 – A parábola é uma palavra que se desloca” open=”false”]Queridos irmãs e irmãos

Para olharmos para a nossa vida muitas vezes temos de encontrar outros pontos de vista, outros ângulos, outras perspetivas. Vivemos tão em cima dos acontecimentos, tão capturados pela sua intensidade, que por estarem tão próximos do nosso olhar e do nosso coração verdadeiramente nós não os conseguimos ver. Por isso é conveniente mudarmos de sítio, mudarmos de posição, olharmos de outro lado para que, nesse distanciamento, ganhemos as condições necessárias para podermos ver aquilo que, por estar tão perto, não avistamos.

É isso que também Jesus faz. Jesus sai de casa e vai para a beira-mar. Este tempo do Verão que começou e que, de uma forma ou de outra, nos permite sair de casa, ir para outro lugar, nem que seja de ir até ao jardim, é também uma oportunidade. Não de evasão da nossa realidade, não é uma vida em fuga que o Verão promove, mas é também uma possibilidade de olharmos para aquilo que vivemos de outro ângulo e, nesse sentido, para  olharmos melhor para a nossa própria  vida.

Jesus, à beira do mar, conta parábolas e as parábolas são também isso. A parábola é uma palavra que se desloca, literalmente. Etimologicamente, parábola quer dizer isso, quer dizer movimento, lançar mais longe – quando a nossa própria palavra, o nosso próprio discurso, ganha uma distância em relação ao tipo de palavra e discursividade que é aquela de todos os dias. E, tal como nós precisamos de casa e sair para a beira-mar ou para a montanha ou para o jardim ou para uma exterioridade em relação à nossa vida, a nossa própria linguagem também precisa de uma coisa semelhante. Isto é, precisamos de nos reencontrar com os símbolos, com um tipo de linguagem que não seja a linguagem utilitária que serve para isto e para aquilo. Confrontarmos, no fundo, com uma palavra que seja capaz de dizer, até pelo seu mistério, até pelo seu enigma, aquilo que normalmente não cabe nas nossas palavras de todos os dias. Por isso Jesus, em vez de falar dos nossos caminhos, das nossas viagens curtas, do nosso viver atropelado, da nossa ofegância, daquilo que conseguimos ou não conseguimos, do balancete interior de todos os dias, Jesus, em vez de falar de Maria, João e de António, e de Tolentino, Jesus fala de sementes.

E diz, não, vamos deixar isto e aquilo, quem tem razão, quem não tem razão, quem fez e não fez…Vamos deixar isso. Vamos falar de sementes. Isto é, vamos recuperar o sentido original da vida. Vamos perguntar porque é que estamos aqui.

Vamo-nos perguntar pelas razões profundas do nosso viver. Que é uma coisa que às vezes na luta do dia-a-dia, no combate, nós não temos esse o distanciamento necessário. O que é que eu quero, o que é que eu sou, porque é que eu ando aqui, porque é que eu persigo isto, o que é o meu desejo?

No fundo, as perguntas profundas, só vêm quando a gente se distancia. Então, em vez de falar da vidinha, falemos de sementes, sementes que o próprio Deus semeia na nossa vida.

Cada um de nós acolhe tantas sementes! Nós somos terra, nós somos essa grande recoleção, nós somos território que é atravessado por tanta coisa, atravessado por tanta coisa que chega até nós, coisas do mundo e coisas de Deus.

No fundo, a grande questão que a parábola de Jesus coloca é: O que é que nós fazemos com aquilo que recebemos? O que temos feito com o que nos é dado? O que é que nós fazemos com o dom?

Toda a vida é dom. Estarmos aqui hoje reunidos, nesta hora, nesta celebração é um dom. A vida foi-nos dada. Nós estamos aqui como representantes, testemunhas, de um grande dom. O que é que nós fazemos com esse dom?

Jesus diz que fazemos coisas muito diferentes e que se podem resumir nisto: ou na fecundidade ou na esterilidade. A nossa vida pode ser estéril e pode ser fecunda.  Isto nós sabemos no íntimo de nós próprios. Como tantas vezes com o dom recebido, nós conseguimos replicá-lo, levá-lo mais longe, da vida não fazemos vida, mas fazemos morte, tristeza, desalento.

O que é da vida fazer vida? Isto é, o que é sermos multiplicadores, bons condutores do dom que nos é dado? É quando a nossa vida é terra boa. É quando na nossa vida temos capacidade de acolhimento e fazemos um caminho com aquilo que nos é dado. A palavra de Deus, o amor de Deus é-nos dado. Temos gosto, capacidade, vontade, de fazer um caminho com isso que nos é dado? Ou é como, digamos, alguma coisa que cai mas não penetra no fundo da nossa vida, do nosso coração, do nosso desejo?

O que é que estamos dispostos a fazer? No fundo, o que é que cada um de nós tem de transformar na sua vida para a fazer passar de um lugar de superficialidade, onde nada entra, porque é uma vida defendida e armada, para uma vida que é uma terra boa, onde a semente pode começar uma história, onde a semente pode ser promessa que se concretiza?

O quê que cada um de nós tem de fazer para passar da superficialidade à profundidade?

É com estas perguntas que Jesus nos deixa. São perguntas vitais na nossa vida, que nós não podemos adiar, não podemos fazer de conta que não estão aí. Trata-se de viver e consumar, de realizar plenamente a vida ou de deixá-la adiada, suspensa, até estragada, a vida entre os espinhos e entre as pedras, a vida que nunca se encontrou com a possibilidade de ser fecunda e de ser plena.

São Paulo, na Carta aos Romanos, dá-nos um dos textos mais extraordinários do pensamento Paulino, que diz isto: como a semente vive um estado de parto, a semente está sempre a rebentar, a nascer, quando é colocada na terra. A nossa própria vida também é um parto. As nossas dores não são dores de morte, mas são dores de parto. Aquilo que nós pensamos é o fim, não, é o começo, é o princípio, é o início. Os nossos gemidos são os gemidos da parturiente que dá à luz. Nesse sentido, a vida não é uma história absurda, uma história sem sentido. Mas a vida é um nascimento. A nossa condição é a condição daquelas e daqueles que geram, que fazem a gestação do próprio mundo, da própria vida. É por isso, queridos irmãs e irmãos, uma palavra de extraordinária esperança.

Nós estamos à porta do Verão. Também nós deixamos a nossa casa e vamos para outro sítio. Também nós nos podemos reencontrar com uma linguagem que seja uma linguagem que fale da vida e daquilo que a vida é. Precisamos disso. Mas a grande questão que Jesus nos coloca é: o que tens feito da tua vida? O que queres fazer da tua vida?

A tua vida é um campo de fecundidade ou um é campo de esterilidade?

O que é que tu tens de transformar para poderes acolher melhor, para poderes fazer um caminho, construir uma história com o dom que em cada dia te visita?

Tu olhas para a tua própria vida como um parto ou olhas como uma morte? Aqui há uma conversão muito grande. Às vezes olhamos para a nossa vida e sentimos as coisas a morrer. Na perspetiva cristã, nós somos chamados a olhar a nossa vida e sentirmos as coisas a nascer, mas para isso temos de converter o nosso olhar.

Marcel Proust dizia que a verdadeira viagem não é aquela que nos leva de um sítio para o outro. A verdadeira viagem é aquela que transforma o nosso olhar. É disso também que Jesus nos fala, da transformação da nossa maneira de olhar a vida, de a  querer e de a abraçar.

Pe. José Tolentino Mendonça, Domingo XV do Tempo Comum

Clique para ouvir a homilia

[/vc_toggle][vc_toggle title=”2014/07/02 – Sophia de Mello Breyner foi poeta da luz à procura da Luz, considera patriarca de Lisboa” open=”false”]«Luz surpreendente, intensa demais para olhos quaisquer, anterior ainda a quem a buscasse, interior, até, para quem não pudesse enxergá-la»: assim é a luz divina que Sophia de Mello Breyner procurou, afirmou esta quarta-feira o patriarca de Lisboa.

As palavras de D. Manuel Clemente foram proferidas na missa celebrada na Capela do Rato, na capital, durante as cerimónias de trasladação da poeta para o Panteão Nacional.

Sophia «nasceu no Porto, onde a luz é mais recolhida e íntima», e habitou em Lisboa, «onde é larga e clara», apontou o prelado, para quem «há sempre luz» na poeta que morreu a 2 de julho de 2004.

Referindo-se à leitura bíblica que abriu a Liturgia da Palavra, extraída da primeira carta de S. João, D. Manuel Clemente lembrou que «a luz absoluta é outro nome de Deus»: «Deus é luz, e nele não há nenhuma espécie de trevas», e «se caminhamos na luz, como Ele está na luz, então temos comunhão uns com os outros».

«Creio que a universal aceitação de Sofia e do que escreveu provém muitíssimo daqui, da grande luz que nos dá no rosto. da sua ambição insaciável de ser clara, mas de uma clareza final que passa por desvendamentos árduos para conseguir alvorecer, por fim», assinalou.

O patriarca mencionou depois um dos principais temas da autora, a Grécia, para estabelecer uma comparação com a história bíblica e o cristianismo, realçando que «Sophia é helénica e cristã».

«Como a filosofia dos seus amados gregos precisou de decantações de mitos e figuras para atingir a iluminação da mente que ainda temos, também o caminho bíblico que igualmente herdámos precisou de muito deserto e não menos noites para se concentrar numa figura concreta onde cabe a humanidade toda, e o seu Criador também», disse.

A homilia de D. Manuel Clemente foi pontuada por versos de Sophia, como este, de há sete décadas: «A presença dos céus não é a Tua,/ Embora o vento venha não sei donde./ Os oceanos não dizem que os criaste,/ Nem deixas o Teu rasto nos caminhos./ Só o olhar daqueles que escolheste/ Nos dá o Teu sinal entre os fantasmas».

Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura – ler notícia completa aqui.

Escute a homilia aqui

[/vc_toggle] height=”30″]

Junho

height=”10″][vc_toggle title=”2014/06/29 – “E vós, quem dizeis que Eu sou?”” open=”false”]Queridos irmãs e irmãos

“E vós, quem dizeis que Eu sou?”. Cada cristão é colocado perante esta pergunta porque cada um de nós é um intérprete de Jesus. Nós interpretamos a vida de Jesus e, no nosso coração e na nossa vida, temos de responder a esta pergunta: E para vós, quem sou Eu?

Primeiro Jesus pergunta o que é que se ouve dizer acerca dele. É interessante que uns dizem que ele é João Baptista, outros que é Elias, Jeremias ou um dos profetas. Interpretam Jesus a partir daqueles modelos que conhecem, a partir da tipologia profética, identificando Jesus mais com um ou com outro. Interpretam Jesus a partir do conhecido, do familiar, da tradição, do próximo.

Quando Jesus interroga os seus, Jesus está à espera de mais. E, de facto, esse mais surge na boca de Pedro: «Senhor, tu és o Messias, o Filho de Deus vivo». Isto é, para Te compreender não basta aquilo que já conhecemos, aquilo que já vimos noutros. Para Te dizer, para Te nomear não basta o saber acumulado de séculos e de tradição. Para Te dizer nós precisamos de escutar uma voz nova, a voz do espirito, e ser capazes de dizer uma palavra que rompe, que faz ruptura, que é nova, uma voz que é inédita.

Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo. Quando Pedro diz isto ele está a dizer uma coisa absolutamente temerária, absolutamente nova. É uma proclamação destemida aquela que Pedro faz, porque não é assegurada por nenhuma maioria, por nenhum consenso. Porque não havia consenso nenhum em torno de Jesus.

Não era nada confortável o que Pedro estava a dizer. Mas o que ele diz coloca-o sozinho no seu tempo. Torna-o uma voz solitária, uma voz em risco, uma voz que tem de sofrer por esta enormidade que diz : “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”.

Quando hoje nós temos de responder à pergunta «E vós quem dizeis que eu sou?», podemo-nos encostar ao que está dito. Podemos repetir como se repete um refrão, um bocadinho sonolento, aquilo que já ouvimos dizer acerca de Jesus Cristo. Podemo-nos acomodar à voz de uma maioria que, de certa maneira, nos inocenta, nos conforta e nos poupa ao risco de dizer uma palavra destemida acerca de Jesus.

Mas cada um de nós, no seu coração, é chamado a esta palavra temerária, é chamado a dizer o inédito, a dizer de Jesus o que ainda não está dito, a proclamar Jesus de uma maneira que ponha em risco, que ponha em causa a nossa própria existência.

Pedro diz “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo” e Paulo será na história do Cristianismo alguém que vai dizer o mesmo e vai tirar as consequências.

Pedro diz isto no caminho da Galileia, numa aldeiazinha, num sítio onde ninguém escuta.

Paulo vai gritar isto nos areópagos do mundo, nas cidades gregas importantes, vai escrever isto na Carta aos Romanos. A primeira frase da Carta aos Romanos, que é uma frase espantosa, “Eu, Paulo, escravo de Jesus Messias”. Por esta frase Paulo pode ir bater à prisão. E foi muitas vezes.

Uma das coisas que nós enterramos, de forma prática, é o messianismo. Achamos, no fundo, que a nossa vida já está resolvida. A nova vida não é vivida em tensão. Quanto muito tememos a morte. Mas outras expectativas decisivas em relação à nossa vida nós vamos atenuando, deixando, deixando e hoje o Cristianismo, de certa forma, esvaziou-se de uma dimensão fundamental à própria experiência cristã que é o messianismo, que é a esperança messiânica.

Nós esperamos num Jesus que é Messias. Nós até traduzimos Messias por Cristo e dizemos Jesus Cristo como se Cristo fosse o apelido de Jesus, e esquecemo-nos que dizer Jesus  Cristo é dizer Jesus é o Cristo, Jesus é o Messias – que é como se diz em hebraico. Jesus é o Messias. Mas dizer isto faz tremer. Porquê? Porque todos os judeus sabiam e tinham-se encarregado de espalhar a sua fé no helenismo do tempo. Estavam presentes nas várias cidades, nas várias metrópoles da época. Quando vier o Messias o que é que cai? Cai a Lei. A Lei deixa de valer. Todas as constituições, todos os códigos deixam de valer. Cai o poder. Todos os poderes caem porque só há um poder, o do Messias, e cai o templo, e cai a forma religiosa e cai a classe sacerdotal. Porque só a há um sacerdote, que é o Messias.

Se a gente diz que ele é o Messias, o mundo tem que mudar na sua configuração. Nada da forma atual do mundo serve, é válido – é no fundo isso que Paulo vai dizer com todas as palavras. Cristo é o fim da Lei. Quer dizer, com Cristo já não há lei, a lei que serve para regulamentar a forma atual do mundo já não tem legitimidade, não tem validade porque surge o Messias. E, quando surge o Messias, começa um estado de exceção, começa um momento histórico novo, começa uma coisa que nós nunca vimos.

O cristianismo de Pedro e de Paulo, que são as duas colunas que se complementam na sua diferença, testemunham-nos um cristianismo messiânico, isto é, um cristianismo de ruptura, que é o inédito na história, um cristianismo que é um patamar novo na história – quer dizer, até aqui fizemos de uma maneira, um certo número de realidades tinha a sua validade, agora deixa de ter. Porque agora o que precisamos é de escutar o Messias. O Messias é a medida do mundo, é a medida do mundo.

Que um pregador que vem desclassificado lá de Jerusalém, de uma formação em Jerusalém, tenha a lata de dizer isso no areópago de Atenas, ou em Éfeso, ou em Filipos, e depois escreva isso com as letras todas aos Romanos, era mais do que razão para ele estar preso. E Paulo esteve grande parte da sua vida preso. Como Pedro esteve preso, como os Apóstolos estiveram presos. Estiveram presos não por delito comum. Por delito de opinião, porque muitas vezes a gente esquece-se que o cristianismo é um delito. É um delito de pensamento. Porque nós temos que pensar as coisas a partir de Jesus, de uma forma que vai contra, que está para lá de todas as formas. No fundo, todas a regras que dão a forma ao mundo, estremecem, estão aquém daquilo que pode começar em Jesus Cristo.

Queridos irmãs e Irmãos, nós somos os intérpretes de Jesus. Nós dizemos quem é Jesus. E quem é que nós dizemos que é Jesus? Quem é que nós dizemos, hoje, que é Jesus? Nas nossas vidas, nesta cidade, na comunidade, na família, no trabalho, no mundo da economia, da política, dos meios da comunicação…

Quem é que nós dizemos que é Ele? Ficamos a repetir consensualmente aquilo que está dito acerca de Jesus? Tentamos esvaziar Jesus do perigo que é Jesus, do risco que Jesus representa? Ou, pelo contrário, sentimos que a fé em Jesus é um motor de desassossego?

A fé em Jesus torna-nos a todos uns dissidentes, torna-nos a todos uns párias. Porque nada nos basta. Nós não pertencemos a nenhuma família, nós não pertencemos verdadeiramente a nenhum Estado, a nenhuma ideologia, a nenhum partido, a nenhum clube. Verdadeiramente não pertencemos, não pertencemos. Estamos nas coisas.

Sentimos que tem que ser algo mais, não num espirito de seita mas neste espirito de transformação da história, a partir do modelo radical do amor que Jesus nos veio mostrar.

E, nesse sentido, esta pergunta que Jesus faz: “Quem dizem os homens que Eu sou? E vós, quem dizeis que Eu sou?”

É um dividir das águas. É aqui que as águas se dividem.

É na minha resposta a esta pergunta.

Pe. José Tolentino Mendonça, Homilia da Solenidade de São Pedro e São Paulo

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[/vc_toggle][vc_toggle title=”2014/06/22 – A Eucaristia é Jesus inteiro que se dá a cada um de nós” open=”false”]Queridos irmãs e irmãos

Por vezes as dúvidas dos outros iluminam as nossas próprias dúvidas, aquelas que não conseguimos nomear.

Esta pergunta que os judeus, interlocutores de Jesus nesta página do Evangelho de São João, fazem ao Senhor ajuda ou desperta-nos para fazermos também um caminho em torno às palavras de Jesus.

Eles perguntam: Como é que Ele pode dar-nos a sua carne a comer? E é, de facto, uma pergunta importante para nós que dominicalmente nos sentamos à volta desta mesa para nos alimentarmos do corpo e sangue do Senhor.

É importante que nós perguntemos: Mas como é que é isso? Como é que Ele pode dar-nos a sua carne a comer?

A resposta mais simples que nós cristãos temos para tudo é: é um mistério, é um mistério. Nós não sabemos como é, mas sabemos que acontece.

Ora, por vezes, o mistério é uma forma de adiarmos o mergulho mais fundo que temos que fazer. Por vezes, dizer é um mistério é a mesma coisa que dizer: não é para mim, não tenho de entender, é só uma coisa que eu tenho de aceitar, que eu tenho de consumir, sem perceber, sem compreender.

A mesa da eucaristia foi o grande sinal que Jesus deixou aos seus, o grande sinal. Jesus não deixou outro. O grande sinal é estarmos juntos à volta de uma mesa. Jesus quis que este sinal fosse compreensível, que nós o pudéssemos ler, o pudéssemos entender facilmente, desde os pequeninos até a uma idade adulta avançada.

Nós precisamos compreender o que se passa aqui em cima desta mesa e à volta desta mesa, porque só compreendendo é que nós podemos viver. É claro que a nossa fome de maravilhoso e de milagre prefere muitas vezes partir para mais longe e não olhar para o óbvio. Sem interrogar esse lado de mistério que a eucaristia também tem, claro, eu gostava que nós olhássemos para o óbvio, porque o óbvio também diz coisas fundamentais ao nosso coração e à nossa fé.

O que é que é o óbvio? É a resposta à pergunta que fazem a Jesus: Como é que um homem pode dar a sua carne a comer a outros? Como é que isso é possível?

Isso é possível se nós pensarmos nas nossas mesas, nas nossas refeições. Porque é que nos sentamos à mesa uns com os outros? Porque é que não comemos sozinhos? Eu tenho uma amiga querida que vive sozinha. Uma coisa que me faz sofrer é ela ter dito que comendo sozinha – ela tem dois gatinhos e vive em casa com essa companhia – não há refeição nenhuma que não se lembre que comer é gregário. Comer é gregário. Contudo, a maior parte das vezes, ela come sozinha. E tantos, na nossa sociedade, comem sozinhos. Mas nós sabemos, no fundo de nós, que comer é gregário, Isto é, que comer é um ato comunitário.

E porquê? Porque é que é tão saboroso comermos com a nossa família, com os nossos amigos, aproveitarmos a mesa para sabermos uns dos outros, o que é que tu andas a fazer, combinarmos à volta da mesa questões fundamentais da vida, ou então, as grandes celebrações, os pequenos e os grandes marcos da nossa vida? Porque é  que é tão bom à volta da mesa?

É claro que há petiscos fantásticos, há uma cozinheira óptima, há um cozinheiro muito bom e então é muito agradável estar à mesa. Ora, mesmo quando o cozinheiro é genial, não é isso que nos faz sentar à volta de uma mesa. Porque mesmo quando a cozinha é um desastre, nós continuamos a sentarmo-nos à volta da mesa.

Isto quer dizer que o mais importante não é a cozinha, o mais importante é estarmos à volta da mesa.

E porque é que é importante estarmos à volta da mesa? Porque nos alimentamos do mesmo pão? Sem dúvida! Mas porque nos alimentamos uns dos outros. Nós sentamo-nos à volta da mesa, porque nos alimentamos uns dos outros, porque precisamos de interiorizar a presença uns dos outros, a palavra uns dos outros, o carinho, a presença, o afeto, a amizade, a inteligência, o humor. Precisamos alimentarmo-nos disso. E isso torna-se um verdadeiro alimento para nós.

Quando Jesus se sentava à volta da mesa, e sentou-se muitas vezes ao longo da vida, de uma forma deliberada e quando se sentou à volta da mesa a última vez com os seus discípulos e disse «Este pão é a minha carne, este vinho é o meu sangue que Eu vou entregar por vós», Jesus não estava a fazer uma coisa que não tem nada a ver nossa realidade.

Jesus estava a partir da nossa realidade, estava a usar a gramática que nos é mais próxima, a dizer: O que Eu fiz não foi senão viver para vós. Viver para vós, entregar, dar a minha vida é tornar-me alimento, é deixar-me ser, é colocar-me ao serviço.

Isso é fazer da Sua carne comida, isso é fazer da Sua carne alimento.

Nós estamos à volta da mesa para nos alimentarmos de Jesus.  Hoje celebramos a festa da Eucaristia. A Eucaristia não é uma migalhinha de Jesus, um bocadinho de Jesus que é distribuído por cada um de nós. Não. A Eucaristia é Jesus inteiro que se dá a cada um de nós. Jesus inteiro. Nós temos de nos alimentar da sua palavra, da sua paixão, da sua revelação, do seu estilo de viver, da sua alegria, do seu entusiasmo, do que Ele nos deu a ver, das coisas únicas que só Ele nos deu a ver. Nós alimentamo-nos disso. Isso torna-se para nós força, torna-se energia, torna-se para nós capacidade de ser.

É por isso que nós não conseguimos viver sem eucaristia. É por isso que nós Igreja nascemos e renascemos sempre à volta desta mesa. Porquê? Porque Ele é o nosso alimento, porque Ele nos alimenta.

Alimenta-nos porque se faz dom. As palavras que Jesus diz: A minha carne é verdadeira comida.

Eu penso, e pergunto-me: e a nossa carne? Estarmos juntos dominicalmente para celebrarmos o dom que Jesus dá de si, a oferta, o transformar a vida em alimento, o transformar a vida em comida, o transformar a vida em dom que Jesus fez o que nos leva a nós a fazer? Será que a nossa vida é alimento? Será que a nossa vida é comida?

Porque não é automático, não é automático O nosso corpo será comida para bichinhos, um dia. Mas, de resto, nós podemos viver uma vida inteira sem que o nosso corpo seja alimento para ninguém. Nós podemos viver no egoísmo, na indiferença, no deixa-me em paz, numa zona de conforto que impermeabiliza a nossa vida. Não deixamos ninguém tocar, ninguém nos pede nada, ninguém nos conta nada, ninguém vem ao nosso encontro  porque também nós vivemos dentro de uma cápsula, nós vivemos a guardar e resguardar, a proteger a nossa vida.

Quando nós fazemos isso a nossa vida não se torna comida para ninguém. É uma vida inteira óptima, fantástica, mas não é pão. Essa vida não é pão.

Quando Jesus diz “a minha carne é comida”, o grande desafio Dele é que eu torne a minha carne comida, que eu torne a minha vida oferta, que eu torne a minha vida dom.

Por isso, já os Padres da Igreja, os primeiros teólogos, diziam : «O cristão que celebra a eucaristia sai eucaristificado». Isto é, Jesus contagia-nos com o seu exemplo.

O que nós temos que fazer é celebrar a eucaristia na vida. Isto é, de dizer: Olha, eu sou pão para ti, usa, come, leva, reparte, alimenta-te, eu estou aqui, eu posso, eu vou.

É, no fundo, esta disponibilidade para servir que torna a nossa vida uma vida semelhante à de Jesus, semelhante à de Jesus.

Queridos irmãs e irmãos, à volta da mesa Jesus dá-nos a grande prova de amor, mas também a grande lição. A eucaristia é uma lição. Uma lição insistente que Jesus nos dá. Nós vimos aqui aprender com Jesus como se faz e todos precisamos de aprender como fazer dos meus dias, como fazer do que eu tenho, como fazer do que eu sei, como fazer do que eu sonho, do que eu desejo, como fazer da força que eu transporto comida, verdadeira comida. Como tornar a minha carne verdadeiro alimento. É, no fundo, esse o verdadeiro desafio que Jesus faz a cada um de nós.

Nós sabemos que o pão pode ficar duro no saco. O pão fica duro no saco. Se o pão não é colocado sobre a mesa e não é servido, ele endurece e perde-se.

E nós podemos perder a nossa vida. Podemos perder a nossa vida. Por isso, a palavra do Evangelho: quem quer ganhar a vida, tem que perdê-la, tem que se dar, tem que se entregar.

A grande lição de Jesus é essa: Entrega-te. Entrega-te. Torna-te alimento, faz-te pão. Oferece-te. Dá-te. Porque só assim é que nós percebemos a plenitude. A plenitude divina da nossa humaníssima vida.

Pe. José Tolentino Mendonça

Homilia de 22 de Junho de 2014, na Capela do Rato

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[/vc_toggle][vc_toggle title=”2014/06/01 – “Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos“” open=”false”]Queridos irmãs e irmãos

Esta carta aos Efésios diz-nos, de uma forma muito incisiva, aquilo a que somos chamados neste tempo pascal. Diz-nos o autor que “o Senhor ilumine os olhos do vosso coração para compreenderdes a esperança a que fostes chamados”. Esta esperança, à qual o Senhor nos chama, só se vê bem com os olhos do coração.

É o nosso coração que mesmo duvidando, mesmo colocando tantas perguntas, mesmo carregado de tanto medo e de tanta noite, pode entender a dimensão da esperança a que fomos chamados. É interessante ver que, mesmo naquele momento derradeiro em que Jesus se aproxima dos discípulos e se vem despedir deles, alguns duvidaram. Isto quer dizer que as dúvidas fazem parte do nosso caminho até ao fim.

Aqueles que duvidaram naquele momento representam-nos a todos que vivemos sempre nesta incerteza. Queremos, sabemos, conhecemos, mas ao mesmo tempo hesitamos, não sabemos, não queremos ou não queremos sempre. Mas essa dúvida não é um problema para Jesus. É interessante que Jesus investe os discípulos na missão mesmo na dúvida. Alguns duvidaram. Mas Jesus não disse que aquela missão era só para os que acreditavam e acreditam de uma forma firme. Jesus dá missão a todos.

As dúvidas, a dificuldade do nosso caminho, a dificuldade de ver a esperança a que somos chamados, faz parte da nossa condição. Mas temos que continuamente pedir o Espirito Santo para nos esclarecer, para nos iluminar, para nos guiar até à verdade total.

No lugar onde a tradição diz que aconteceu esta cena da ascensão de Jesus aos céus há um pequeno templo. É um templo muito engraçado, porque é um templo cristão, e no fundo os cristãos vão ali, mas é uma família muçulmana que tem a chave. Quando vamos lá visitar, vem essa família muçulmana que abre. De maneira que esta capela está num campo de uma família muçulmana, e pertence-lhe, e isso também é bonito.

Quando chegamos lá, é um templo ao mesmo tempo belo e desconcertante, pelo seu vazio, porque não tem nada. É uma capela circular e tem rocha. Na rocha, essa capela tem apenas uma coisa, tem apenas uma pegada, funda, gravada na rocha. Mais nada. A ideia é extraordinária: quando Jesus subia aos Céus, para Ele se elevar, Ele carregou com mais força num dos pés, para levantar o outro e, quando Ele carregou com mais força, essa pegada ficou gravada. Esta pedra, queridos irmãs e irmãos, é o símbolo do nosso coração.

Jesus deixou esta pegada, este sinal inapagável, este sinal indelével, no nosso coração. Por isso nós sabemos que Ele está sempre connosco, porque há um traço, há um sinal e há esta palavra que nós vamos escutar a vida inteira:

“Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos”.

A certeza da companhia, a certeza da presença amorosa de Jesus na nossa vida é a certeza que nos constrói, é a certeza que nos edifica.

Por isso, na Ascensão, nós celebramos duas coisas aparentemente contraditórias, mas que não nos destroem, não nos põem em causa. Por um lado Jesus parte, Jesus desaparece da nossa vista. Por outro lado, Ele está sempre connosco até ao fim dos tempos.

Se pensarmos bem não tem lógica nenhuma. Ele então desaparece e está sempre connosco? Como é que isso é possível? Mas é nesta contradição, entre os que olhos vêem e aquilo que o coração sabe, aquilo que o coração sabe e que os nossos olhos ignoram, que se aloja também o mistério da própria fé.

O importante é cada um de nós sentir a presença de Jesus, não o encontramos ao cruzar da esquina, os nossos olhos não o avistam nas ruas do mundo, nas ruas da nossa cidade. Contudo, Ele é o companheiro que caminha ao nosso lado. Não nos deixa nunca. É a certeza dessa presença que é fonte da nossa vida, desta vida nova que é a vida pascal que Ele veio plantar em nós.

Pe. José Tolentino Mendonça, Homilia do Domingo da Ascensão do Senhor

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Maio

height=”10″][vc_toggle title=”2014/05/28 – Conversas à Capela – A virtude da Ciência de Deus” open=”false”]As Conversas à Capela deste mês de Maio serão dedicadas à virtude da Ciência de Deus. Para nos ajudar a reflectir sobre este tema convidámos o Pe. José Frazão Correia, sj, Provincial da Companhia de Jesus, e autor dos livros A Fé vive de Afeto e Entre-tanto, das Paulinas. As Conversas à Capela serão no dia 28 de Maio, na Capela do Rato, pelas 21.30h.[/vc_toggle][vc_toggle title=”2014/05/25 – O Espírito Santo é o grande agente da transformação” open=”false”]Queridos irmãos e irmãs

A grande questão que se coloca no início do Cristianismo é saber como de um acontecimento que em si é um acontecimento disruptivo, é uma crise terrível que emerge – que é, no fundo, o episódio da morte do Senhor, da sua crucifixão -, como é que, deste acontecimento, que deve ser um ponto final, pelo contrário, emerge uma realidade de vida. Como é que isso é possível? Como é que é possível ser cristão depois do nosso Messias ter sido levantado de uma cruz?

Como é que se pode ser cristão na sua ausência, na sua perda, no vazio daquele sepulcro ao qual as mulheres foram e os discípulos correram naquela manhã de Páscoa?

Como é que se constrói uma vida nova, como é que se constrói um projeto, como é que se olha para o futuro a partir deste vazio, deste sinal contrário, deste sinal absurdo que é a cruz? É interessante perceber como é num caminho de maturação,  maturação interior e maturação também no sofrimento, que as primeiras comunidades cristãs vão perceber como é que a cruz se torna a árvore da vida. E como é que aquele sepulcro vazio se torna para nós a certeza de que Ele está vivo, de que Ele está presente, de que Ele está connosco.

Hoje nós ouvimos na leitura dos Atos dos Apóstolos  a história da Igreja de Samaria, é uma história impressionante e que se conta em duas palavras. Quando se deram os acontecimentos pascais, os discípulos amontoaram-se em Jerusalém. A questão era estarem uns com os outros, com medo do que pudesse acontecer-lhes na sequência de Jesus, porque no fundo eles eram cúmplices de um condenado à morte. E o medo trancou-os em Jerusalém. Mas não só o medo, a sua própria mundividência. A interpretação que eles faziam do acontecimento de Jesus Cristo, das suas palavras, era muito a partir da sua vivência judaica. O que aqueles homens e mulheres pensaram é: nós temos que continuar a ser bons judeus, e ponto final.

Ora, acontece a chamada perseguição aos gregos. Porque quando os cristãos começam a falar, dá-se o seguinte: aqueles mais radicais, aqueles que levam mais longe a interpretação de Jesus Cristo, não são os de origem judaica. São os de origem grega. Isto é, aqueles que, no fundo, tinham uma maior liberdade para dizer quem era Jesus Cristo. Enquanto aqueles que eram de origem judaica o que faziam era simplesmente ler Jesus Cristo à luz da gramática judaica, na qual eles funcionavam.

Por isso, o primeiro mártir do Cristianismo é um grego, é Estevão, e não é Pedro, o primeiro mártir. Pedro será depois. Mas aquele que primeiro estica a corda, o que primeiro diz uma palavra de ruptura, acaba por ser um grego. E por causa dos gregos há uma perseguição aos cristãos, mas aos cristãos de origem grega.

O Espírito fala através dessa crise, através dessa perseguição. Quando estes são chutados para fora de Jerusalém, em vez de ser o fim, é o princípio. Eles pensavam que ia acabar tudo, iam perecer. Não. Ali é que começou verdadeiramente a história. E então Filipe, que também é de origem grega, vai evangelizar os samaritanos. Era uma coisa que não passava pela cabeça de Pedro, no princípio, era que eles pudessem evangelizar os samaritanos, que eram rivais históricos, contumazes da tradição judaica. Mas como acontece esta perseguição e Filipe está na Samaria, ele começa a evangelizar os samaritanos.

Assim se percebe que Deus começa a falar para lá das fronteiras, e de uma forma completamente imprevista, inaudita, inesperada, o Evangelho começa a ganhar força, a ganhar raiz em corações absolutamente impensados, porque é assim o caminho de Deus. E, de certa forma, a Igreja começa a perceber a forma como Deus  a conduz.

Filipe faz a primeira evangelização, e depois Pedro e João descem até à Samaria para a completar, infundido o Espírito Santo, porque os Samaritanos ainda não tinham recebido o Espírito Santo.

Nós que estamos aqui somos uma consequência do Espírito Santo. Cada cristão, cada batizado é uma consequência do Espírito Santo. E o Espírito Santo é a maior descoberta da nossa vida. Para dizer assim depressa, é a maior descoberta que cada um de nós tem que fazer.

É interessante, parece que não tem nada a ver, mas a semana passada no El Pais vinha uma entrevista a um filósofo, hoje muito conhecido e um homem um bocado blasfemo em relação ao status quo da nossa cultura, que é o esloveno Slavoj Zizek.

Zizek dizia que há três grandes invenções, invenções entre aspas ou descobertas, que no seu entender marcam o caminho da humanidade: a primeira invenção é a invenção da democracia pelos gregos, pais da democracia; a segunda grande descoberta para ele é o Espírito Santo e a terceira é a revolução francesa.

Vamos pensar um bocadinho no destaque que ele dá à descoberta do Espírito Santo, como uma descoberta que transforma completamente o mundo. Porque a descoberta que os cristãos fazem de que não estão sós mas de que neles vive o Espirito do ressuscitado é, de facto, uma alavanca de transformação, não apenas das realidades individuais mas da realidade do mundo, da história.

O Espírito Santo é, de facto, o grande motor da história. O mundo antigo, mesmo aquele mundo grego que inventou a democracia, 90% eram escravos. As mulheres não tinham possibilidade de participar na democracia grega. De facto eles inventaram um sistema fantástico, com filósofos que hoje continuam a ser os nossos mestres, mas era uma democracia muito limitada, temos de reconhecer.

No mundo antigo, as fronteiras da raça, da etnia, as fronteiras sociais, as fronteiras religiosas, as fronteiras de género, eram fronteiras insuperáveis. Quem era escravo, morria escravo. As mulheres não tinham qualquer possibilidade de participar ao nível religioso, naquela que era a vivência dos homens.

Um judeu não se sentava à mesa com um pagão. Um pagão jamais poderia acreditar plenamente e participar plenamente no judaísmo. Seria sempre um prosélito, alguém que está fora.

O que é o Espírito Santo? O Espírito Santo é o derrube completo dos muros e das fronteiras. Aquilo que S. Paulo há-de dizer de forma lapidar na carta aos Gálatas: «Em Cristo sois nova criatura. Não há judeu, nem pagão. Não há escravo nem homem livre. Não há homem nem mulher. Pois todos sois um só no Espirito de Cristo»

Então, o que é o Espírito Santo em nós? O Espírito Santo em nós é o fundar no nosso coração, na nossa vida, a nossa dignidade, a nossa condição. A nossa dignidade, a nossa condição, a nossa capacidade de plenitude já não depende do sítio onde nascemos, do berço onde nascemos, já não depende do status ou do pedigree, já não depende da nossa religião ou da tradição religiosa onde nascemos e surgimos, já não depende do género ou da condição. Mas é o Espírito Santo que nos torna iguais. E esta dimensão de uma igualdade fundamental, de um reconhecimento de uma igualdade fundamental, é alguma coisa que o Cristianismo transporta como património, como património para a humanidade. Desde o princípio, comunidades de homens e mulheres, de cidadãos e de escravos, de judeus e de pagãos a celebrar o que nós hoje estamos a celebrar, foi, de facto, a maior transformação da história. E por isso o Espírito Santo é o grande agente da transformação. Da própria transformação politica que é uma realidade em que nós não pensamos. Às vezes nós cristãos parece que temos um certo sentimento de vergonha em relação à democracia. Parece que somos uma  espécie de subgénero dentro da democracia. Não, o Cristianismo é a fonte da democracia, da democracia tal como nós aspiramos, até uma democracia maior, melhor, mais qualificada do que aquela que hoje nós temos. O Cristianismo historicamente é, de facto, é um motor de transformação.

E quem diz isto é este neomarxista Slavoj Zizek. Não somos nós a dizer o que damos. É gente de fora a reconhecer, no fundo, o que é o testemunho cristão.

Por isso, nós somos chamados a descobrir o Espírito Santo. A descobrir o Espírito Santo na vida de cada um de nós, a sentirmo-nos consequência do Espírito. E como o Espírito nos liga a Jesus…

Como é que a Igreja ultrapassa o vazio da sua origem? A perda, a disrupção,  a crise que está na sua origem?

Ultrapassa percebendo isto que Jesus diz no Evangelho de João: “Eu não vos deixo órfãos. Eu vou enviar-vos o Espirito». Nós recebemos o Espírito e sabemos assim que essa palavra de Jesus é verdadeira, porque o Espirito está no nosso coração a dizer que Essa palavra é verdadeira, a confirmar as sementes de esperança que Jesus lançou e lança no nosso coração.

O Espirito é a certeza que Jesus está connosco até ao fim dos tempos.

Queridos Irmãos, em cada tempo a Igreja tem que nascer do Espírito Santo.

Nós temos que ser homens e mulheres marcados pelo Espírito Santo. O Espírito Santo que nos dá esta certeza de Deus connosco. O Espírito Santo que nos confirma no caminho, que nos recorda as razões da nossa esperança.

O Espírito Santo que nos torna artesãos, servidores, instrumentos da própria esperança. O Espírito Santo que nos dá uma inquietude e uma capacidade de sonhar, de ir mais longe, uma capacidade de transformar aquilo que é crítico num motivo e numa razão para um caminho diferente, para um caminho novo.

Vamos pedir que o Espírito Santo desça sobre nós, este Espírito que Pedro e João levaram a Samaria, que Jesus derramou sobre os seus discípulos no dia de Pentecostes, seja Ele aquele que Jesus faz cair sobre cada um de nós, para que o Espírito nos dê a força que neste momento nós precisamos para cumprir o caminho de esperança que o Senhor desdobra diante do nosso coração.

 

Pe. José Tolentino Mendonça

Homilia na Celebração Eucaristica no Domingo VI da Páscoa

 

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[/vc_toggle][vc_toggle title=”2014/05/11 – “O Senhor é o Meu Pastor“” open=”false”]Queridos irmãs e irmãos

Celebramos hoje a festa do Bom Pastor. Quando nós pensamos nas primeiras representações da figura de Jesus, esta imagem do Bom Pastor é certamente aquela mais utilizada, pelos cristãos, desde o início.

Quando entramos nas catacumbas, nesses lugares onde os cristãos se reuniam às ocultas e ao mesmo tempo preservavam a memórias dos seus mortos, nós encontramos, em muitas delas, quer em escultura, quer gravada na própria pedra, a imagem de Jesus, o Bom Pastor.

Perguntamos, porque é que esta imagem, de certa forma, se sobrepõe às outras? É porque esta imagem é, de facto, muito completa.

Diz muito do modo como Jesus é, na nossa vida. Porque Jesus é o Pastor, no sentido de que Ele vive connosco, vive para nós, vive nesse cuidado, nesse acompanhamento. Nós somos o objeto do seu cuidado, do seu amor, da sua disponibilidade. E, como tantas vezes acontece, o Pastor conhece cada ovelha pelo seu nome, não as confunde, sabe a história de cada uma delas. Percebe como cada uma está, em cada dia, em cada momento.

Depois, há aquela maravilhosa parábola que o próprio Jesus contou de si mesmo: o Bom Pastor é aquele que é capaz de deixar as 99 ovelhas no redil e partir pelos montes à procura da ovelha perdida. Quando a encontra, coloca-a aos seus ombros, faz o caminho e diz: Alegrai-vos comigo porque encontrei a minha ovelha perdida.

Os símbolos, as imagens, nós sabemos, valem por mil palavras. Porque não falam apenas à nossa cabeça, ao nosso pensamento, falam também ao nosso coração. As imagens são uma forma muito especial de comunicação, precisamente porque elas cabem e não cabem nas palavras. Dizem de outra forma. Comunicam connosco de uma outra maneira.

Esta imagem de Jesus Bom Pastor sem dúvida que é uma imagem inspiradora daquilo que somos. É importante que Jesus seja o nosso Bom Pastor, que seja Ele o nosso Bom Pastor.

Hoje nós líamos este Salmo 22 ou 23, segundo a numeração quer grega quer hebraica, e deste Salmo que diz «O Senhor é o Meu Pastor», que é um dos mais conhecidos, nós podemos fazer dele a oração quotidiana e encontrar nele o consolo e a força de que precisamos.

O grande filósofo Henri Bergson dizia que rezar o salmo 23 era para ele sempre o momento mais fundo da sua espiritualidade.

Porque é a certeza não de um Deus distante e indiferente à nossa história, um Deus que paira filosoficamente sobre a nossa existência. Mas é um Deus que verdadeiramente está implicado na nossa situação.

Aliás, é interessante recordar que este salmo 23 foi um salmo muito discutido na tradição judaica. Porque alguns diziam, isso é uma heresia, é uma blasfémia. O que esse salmo diz é impossível porque atenta contra a omnipotência e a impassibilidade de Deus. Porquê? Porque a dada altura o salmo diz : «Ainda que eu ande por vales tenebrosos, de nenhum mal terei medo porque Tu estás comigo».

E então os Mestres perguntavam-se: Mas então Deus está no vale da sombra, quer dizer, no vale da morte, no vale da infâmia, no vale da vulnerabilidade, no vale do pecado. Deus está na nossa lama?

Nesse aberto implacável onde parece que a vida se dispersa? Deus está aí?

Como é que isso é possível? Isso põe em causa a fé no Deus único, no Deus absoluto.

A verdade é que ninguém nunca se atreveu a retirar este salmo 23 do conjunto dos salmos. E mais, ele é uma espécie de joia, é uma espécie de Santo dos Santos, no interior do saltério que é composto por 150 salmos. Este é, sem dúvida, o salmo mais lido, o salmo mais usado.

E, contudo, até parece uma heresia. Mas o amor tem que ter alguma coisa de heresia, tem que ter alguma coisa de sobressalto, de excessivo, de ir além das medidas, de ir além da própria razoabilidade. E o amor de Deus é isto. Deus parece que se nega a si mesmo para nos amar, e nos amar sempre e nos amar até ao fim.

Este é o mistério do amor de Deus. O Senhor torna-se escravo para poder estar junto de nós.

Queridos irmãos, é muito importante perguntarmo-nos se, de facto, Jesus é o Pastor das nossas vidas. Perguntarmos quem é que apascenta a nossa vida, às vezes no seu lugar, às vezes ocupando o próprio lugar de Deus.

Numa parede de uma prisão do Harlem em Nova Iorque foi descoberto um poema, escrito por um toxicodependente que estava ali preso. É um poema que é uma paráfrase do Salmo 23. E é verdadeiramente impressionante. Diz assim:

“A heroína é o meu pastor, ela sempre me faltará

Ela faz-me dormir debaixo das pontes e conduz-me a uma doce demência

Ela destrói a minha vida e conduz-me pelo caminho do inferno por amor do seu nome

Mesmo se eu caminhasse pelo vale da morte

Não temerei nenhum mal porque a heroína está comigo

A minha seringa e a minha agulha dão-me conforto”

É um poema que é um grito, mas nós podemos perguntar: o que é que colocamos no lugar do nosso Pastor? Este homem colocou a heroína. Nós o que é que colocamos?

Podemos colocar o dinheiro. Podemos colocar a ambição. Podemos  colocar a nossa satisfação pessoal. O nosso prazer. O nosso individualismo. Podemos colocar tantas coisas.

Rezar o Salmo 23 é também purificar o nosso coração. Desses falsos ídolos que nós colocamos no lugar de Deus a apascentar a nossa vida, a cuidar da nossa vida, a velar por aquilo que somos.

Neste domingo do Bom Pastor nós celebramos também o dia dos seminários, o dia das orações pelas vocações consagradas, no fundo, pela dimensão do pastoreio do povo de Deus.

É muito importante que peçamos ao Senhor que envie, em cada tempo, à sua Igreja, pastores dedicados à maneira de Jesus. Pastores dedicados ao seu rebanho, capazes de expressar na sua vida, nas suas atitudes, a própria imagem de Cristo, o Bom Pastor.

Vamos rezar pelos ministérios na Igreja e, de forma particular, por aqueles que têm esta missão junto dos irmãos, este encargo de apascentar, para que o Senhor também os conforte para que eles encontrem em Cristo também o Pastor previdente e possam traduzir na sua vida esse sentido.

Vamos rezar pelas vocações sacerdotais, para que o Senhor continue a despertar no coração dos jovens, mulheres e homens um grande desejo, de uma forma radical, também ela excessiva, também ela extravagante na sua radicalidade. Que o Senhor possa atrair jovens para se dedicarem às vocações que se ligam de uma forma mais íntima com pastoreio da própria Igreja.

Mas também é verdade que no seu conjunto, a própria Igreja, formada pelos pastores e pelos leigos, fazem um único povo de Deus, nós todos temos a responsabilidade ser pastores, de apascentar. Isto é, somos responsáveis por um ministério, que é um ministério de compaixão. Compaixão pela humanidade. Tantas vezes Jesus olhando para a multidão enchia-se de compaixão dela, porque eram como ovelhas sem pastor.

Às vezes nós, com uma grande facilidade, julgamos os outros e remetemos para o vale da morte, para o vale da sombra e somos implacáveis e castigamos, quando aquilo que nos é pedido, é essa grande vocação de misericórdia: o pastor é aquele que tem um olhar de misericórdia.

É isso que é pedido a cada cristão. Que possa exercer e ser servidor da misericórdia, servindo a humanidade frágil, a humanidade vulnerável. Que é humanidade, no fundo, que existe em cada homem, porque todos, todos, somos feridos pela fragilidade.

 

Pe. José Tolentino Mendonça

Clique para ouvir a homilia.

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Abril

height=”10″][vc_toggle title=”2014/04/20 – Ressuscitou conforme amou” open=”false”]Queridos irmãs e irmãos

Ao longo dos textos que nesta Semana Santa nós fomos lendo, desde domingo passado, em que lemos a Narrativa da Paixão do Evangelho de São Mateus, quinta-feira lemos São João, depois lemos São Lucas, hoje estamos a ler São João, ainda há a possibilidade de ler São Lucas, o Evangelho de Emaús, há um aspeto que é comum a todas as narrações: o mistério de Jesus não é uma verdade pré-fabricada, não é uma verdade acabada. Que está feita, e cai, e é dita, e é assim. Não, é uma verdade que se insinua no claro- escuro, e que pede uma procura, pede uma interpretação.

E, se quisermos, as primeiras comunidades cristãs, muito apoiadas no testemunho dos apóstolos, o que é que fazem? Fazem a interpretação, a hermenêutica dos acontecimentos de que são testemunhas. E, no fundo, esse esforço hermenêutico continua. Nós estamos aqui, dois mil anos depois reunidos em assembleia nesta manhã de Páscoa. O que é que nós estamos a fazer aqui? Estamos a tentar encontrar um sentido. E um sentido não arqueológico, mas um sentido que seja também significativo para as nossas vidas. Mas estamos igualmente à procura de um sentido para estas palavras que nós ouvimos e que são palavras que nos aceleram, que nos fazem correr.

Nós vemos Madalena que vai ao sepulcro. Não encontra, vem dizer a João e a Pedro: «O Senhor não está no sepulcro, alguma coisa aconteceu» e eles saem disparados a correr. E quando chegam lá, também não é que percebam logo tudo. Olham os sinais e ficam perplexos sem saber o que pensar.

E depois acontece isto que é a chave, digamos, da própria experiência cristã: “Viu e acreditou”. Mas o quê que ele viu? Não há nada para ver ali. Viu o que não se pode ver. Viu o vazio, viu a ausência, viu o não estar. Mas na fé, ele interpretou aquele sepulcro vazio como sinal de uma presença, que agora o nosso coração desenha e torna o fundamento da nossa própria vida, que é a presença daquele que está connosco, todos os dias, até ao fim dos tempos.

Queridos irmãos, nós não viemos aqui celebrar uma verdade acabada. Viemos aqui para nos tornarmos buscadores, viemos aqui para ir ao sepulcro como Maria Madalena, viemos aqui para correr, para sentir que o coração nos sai pela boca, porque é uma notícia tão surpreendente, tão nova, que nós temos que perguntar o que é isto? Nós cristãos temos que nos perguntar: mas o que é isto que eu celebro? O que é isto que me transmitiram? Porque é que eu estou aqui? Por uma verdade tão fora de tudo, uma coisa tão inédita. Nunca vista.

O que é isto? O que é isto? E cada um de nós precisa de responder. Porque, no fundo, aquilo que nós vemos acontecer nos textos sagrados é este esforço por interpretar, por dizer o que é isto para nós. Por dizer o que é isto no caminho que nós fazemos.

E, queridos irmãos, a Páscoa não é um momento cultural, não é um momento sociológico, não é um momento de encontro entre nós, não é uma tradição interessante, antropológica.

A Páscoa é uma insurreição, a Páscoa é alguma coisa disruptiva, no modo como a história se constrói habitualmente. A Páscoa é a revelação de uma outra coisa, é uma fenda, é uma brecha, porque há um homem que se liberta da própria morte.

Há um insubmisso em relação à morte. E esse seu gesto, esse acontecimento, desfataliza a história. Torna a história outra coisa. Há um antes e um depois para nós. A história é outra coisa.

E esta manhã não é uma manhã igual às outras. É uma manhã que nos transtorna, que nos transtorna. Porque intimamente nós somos puxados para outra realidade. E nessa realidade nós olhamos para a vida e para nós próprios com outros olhos, com uma outra visão, com uma outra perspetiva.

Há uma tradição muito bela, ali na zona de Véneto, em Itália, que é: na manhã de Páscoa os camponeses vão ao rio lavar os olhos. E, no fundo, é isto que nós devíamos fazer.

A água que foi derramada sobre nós, é uma água para nos lavar os olhos, para nos dar uma nova visão da realidade. Uma visão que parte de Cristo e deste acontecimento de Cristo. E, tomando este acontecimento, nós vamos agora revisitar a história de Jesus, mas a nossa própria história.

Sentindo que a Ressurreição nos traz a todos implicados, nós estamos implicados nisto. Nós não somos espectadores, somos implicados. Somos parte deste caso, absolutamente inédito, de novidade, de insubmissão na própria história. Há um sepulcro que está vazio. Há um crucificado que ressuscitou. Há um homem que saiu da fatalidade da história, nasce e morre.

Há um homem que nos diz que a vida pode ser outra coisa. E é isso que nós estamos a tentar compreender. A tentar compreender. Nós estamos aqui a tentar compreender o que é isto. E, no fundo, o nosso caminho cristão não é outra coisa do que tentar decifrar o mistério, tentar dizer mas o que é isto, e o que é isto para mim, o que significa isto para a minha própria vida.

Há uma das antífonas mais repetidas neste tempo Pascal: Resurrexit, sicut dixit. Ressuscitouconforme disse, como disse.

Mas há um copista medieval que introduziu, talvez por engano ou talvez neste esforço de interpretação, introduziu uma mudança e, de facto, às vezes os erros levam-nos mais próximos da verdade. E ele escreveu: Resurrexit, sicut dilexit. Ressuscitou conforme amou, não apenas conforme disse, mas conforme amou.

Cristo ressuscitou conforme amou. E este mistério da sua Ressurreição é um mistério que nós temos que tatear dentro do amor. Só se entende dentro do amor. Porque amar é dizer ao outro: tu não morrerás.

É este amor, a consciência filial de Jesus, o amor do Pai, esta fidelidade que leva Deus a dizer a Jesus: Tu não morrerás.

E é aquilo que leva Deus a dizer a cada um de nós: tu não morrerás. É dentro do amor, é dentro do pacto que é o amor, este amor garantido pelo próprio Deus, que nós entendemos também o significado profundo da Ressurreição.

Sintamos isso, queridas irmãs e irmãos, sintamos que é isso que Jesus revela a cada um de nós. Esta voz de Deus que diz ao nosso coração: tu não morreste, tu não morrerás. Isto é, o desânimo, o cansaço, a fatalidade, a desesperança, a desistência, isso não pode triunfar no teu coração. Tu não morreste. Tu não morrerás.

Essa garantia que Deus dá. Esse levantamento. Essa recusa de um destino de morte.

Queridos Irmãos, celebrar a palavra do Senhor é, por isso, o maior dos compromissos. Eu iria dizer o único compromisso. O nosso comprometimento é, no amor, entender tudo. Descobrir tudo. Perceber tudo. Dentro da lógica do amor.

É isso que nós celebramos em Cristo pascal.

A escritora Marguerite Yourcenar, no texto que tem sobre a sequência da Páscoa, a dada altura, reflete um bocadinho sobre o significado de tudo isto se passar num jardim. O túmulo de Cristo é colocado num jardim. Depois no próximo domingo, por exemplo, vamos ver Maria Madalena que confunde Jesus com um jardineiro. E ela diz: porque que a mais inédita das verdades humanas se passa num jardim? Porque é que o ressuscitado, primeiramente, é confundido com um jardineiro?

Ela diz, é evidente. Porque Ele não tem deixado de semear no nosso coração. E é isto que é importante que nesta eucaristia aconteça. Cada um de nós sinta semeada no seu coração, esta insurreição, este levantamento, esta certeza da palavra de Deus que lhe é confiada.

Tu não morreste, tu não morrerás.

Pe. José Tolentino Mendonça, Homilia do Domingo da Ressurreição do Senhor

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[/vc_toggle][vc_toggle title=”2014/04/13 – “Quero celebrar a Páscoa em tua casa“” open=”false”]Queridos irmãos e queridas irmãs

Há um texto da escritora Marguerite Yourcenar intitulado «Páscoa, a mais bela história do mundo», em que ela faz o resumo desta narração que hoje nós lemos e que vamos repetir na Sexta-Feira Santa.

E que é, no fundo, o relato dos últimos dias de Jesus. Desde a sua prisão, a sua condenação, a sua ida para o sacrifício, a sua morte, e depois o grande silêncio, que encheu a terra, silêncio que o próprio Jesus experimentou naquele grito «Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonaste?» e que depois contagiou a terra inteira e que hoje nós sentimos, profundamente, na pausa que fizemos.

E Yourcenar escreve esta história para um amigo dela, que lhe disse : “Eu estive na Guerra da Crimeia,  e digo-te uma coisa, se Jesus, em vez de ter sido  crucificado tivesse sido fuzilado, eu acreditaria nele.” E ela escreveu aquelas páginas, dedicando-as a este amigo, para que ele visse que, por detrás da distância dos símbolos e das palavras, há uma atualidade que nós somos chamados a descobrir.

Queridos irmãs e irmãos, Jesus deu a sua vida por nós, por nós. Desta forma, neste tempo, mas numa oferta de si para todas as horas, para todas as formas e para todos os tempos. E é esta certeza que sustenta as nossas vidas. Nós somos consequência desta história, deste gesto, desta dádiva.

Aquele insulto que dirigiam a Jesus “Salvaste os outros, não podes salvar-te a ti mesmo” é, no fundo, a chave da sua própria vida. Exatamente porque numa dinâmica de amor, Jesus se dispõe a abraçar-nos, a sustentar as nossas vidas, as nossas humanidades, a dar a vida por nós, a amar-nos. Exatamente porque Ele se dispõe a amar-nos, Ele não pode salvar-se a si mesmo. Porque o que é próprio do amor é esse deixar de pensar em si. É esse abandono, é essa pobreza radical, é essa entrega, em que o outro, o outro, é colocado no centro. Nós estamos no centro do gesto de Jesus. Da sua história de amor, da sua entrega.

No início desta longa narração, há uma história um bocado misteriosa. Jesus manda os discípulos irem ter com um homem, uma personagem, nós não sabemos o seu nome, e dizer-lhe «Olha, eu quero celebrar a Páscoa este ano em tua casa».

Esta pessoa seria provavelmente o dono da sala de cima, onde Jesus comeu a Páscoa, a última ceia, com os seus discípulos. Mas a gente pergunta, porque é que ele não tem nome?

Possivelmente para evitar que ele tivesse consequências penais, que ele fosse perseguido, por de alguma forma, se ter envolvido com a história de alguém condenado à morte e ser apresentado como um cúmplice de Jesus. Então por motivo, digamos, de conveniência, o nome dele não é explicitado.

Mas, no Evangelho, sempre que as personagens aparecem sem nome, também nós temos uma outra razão: este homem não tem nome, porque ele tem os nossos nomes. Ele chama-se José, chama-se Luís, chama-se Manuel, Madalena, Maria.

Chama-se os nomes de todos nós. Porque é a cada um de nós que Jesus manda dizer: “Olha, Eu este ano quero celebrar a Páscoa em tua casa, no teu coração, na tua vida». E é dentro de nós que toda esta narração se vai devolver. Que a mais bela história do mundo, a mais santa história do mundo vai acontecer, nas nossas vidas.

Queridos Irmãs e Irmãos

No início desta Semana Santa, a Semana Maior do ano, que nos sintamos implicados, nos sintamos envolvidos, tenhamos capacidade de ver por detrás dos símbolos, de ver por detrás dos sinais e perceber que há aqui um encontro, que há aqui um dom, a dádiva que é feita a nós, que foi por causa de nós, que foi para nós que esta história aconteceu.

Pe. José Tolentino Mendonça

13 de Abril de 2014, Domingo de Ramos

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[/vc_toggle][vc_toggle title=”2014/04/12 – “Viver a Páscoa no aqui e no agora“ – Retiro Aberto na Capela do Rato” open=”false”]Realiza-se no próximo dia 12 de Abril, das 9h30 às 13h, na Capela do Rato, o Retiro Aberto da comunidade, em tempo quaresmal, para nos ajudar a ”Viver a Páscoa no aqui e no agora”.

As inscrições para o retiro poderão ser feitas no final das missas de sábado (18.45h) e de domingo (11.30h).

Clique para ouvir a 1ª parte do Retiro:

Clique para ouvir a 2ª parte do Retiro:

[/vc_toggle][vc_toggle title=”2014/04/02 – Conversas à Capela – A virtude da Humildade” open=”false”]No dia 2 de Abril, às 21.30h, teremos a próxima Conversas à Capela, na Capela do Rato, desta vez dedicadas à virtude da Humildade.

Para nos ajudar a reflectir sobre este tema convidámos o Carlos Simões (Médico Dentista e membro das CVX),  o Luís Miguel Cintra (Actor e Encenador) e a Margarida Neto (Psiquiatra).[/vc_toggle] height=”30″]

Março

height=”10″][vc_toggle title=”2014/03/30 – Uma nova visão das coisas” open=”false”]Queridos irmãos e irmãs

Estes domingos, estes três domingos do meio da Quaresma, nós lemos o Evangelho de São João. Evangelhos desde a antiguidade cristã, destinados a explicar aos catecúmenos e a lembrar aos batizados, o significado do seu batismo.

Domingo passado tivemos a explicação do símbolo da água, com o Evangelho da Samaritana.

Este domingo, temos a explicação do símbolo da luz, com a cura do cego de nascença. No próximo domingo, teremos a explicação do símbolo da vida com a ressurreição de Lázaro.

São assim, três grandes símbolos: a água, a luz, a vida que explicam aquilo que é o impacto do dom de Jesus na vida de cada um de nós. Nós precisamos da Luz. Nós precisamos da Luz.

É interessante a situação que o Evangelho de São João nos relata, com a cura deste cego de nascença: há a cura do cego e há depois uma querela jurídica para saber se Jesus tinha ou não legitimidade, para fazer aquele sinal. E depois há o reencontro, o segundo encontro de Jesus com o cego.

O que é que nós vemos nas duas primeira partes, na cura do cego e na querela jurídica que se lhe segue?  O cego tem consciência que é cego. Isto é, tem consciência da sua carência, da sua necessidade, da sua real situação.

Aqueles que promovem a querela em torno à cura e à legitimidade de Jesus curar ou não em dia de sábado, veem e não veem ao mesmo tempo, mas não têm consciência da sua cegueira.

E, no fundo, este é o ponto primeiro que o relato evangélico nos coloca:

Será que nós temos consciência da necessidade de Jesus? Será que nós estamos conscientes de quanto precisamos Dele?

Porque às vezes o nosso problema, e foi esse o problema dos fariseus, é perdermo-nos numa autojustificação. Isto é, nós temos explicação para tudo, sabemos tudo, percebemos tudo, vemos tudo, e nesta soberba, Deus não entra no nosso coração porque o nosso coração é pedra, o nosso coração é porta blindada, o nosso coração é um fecho de correr.

Só quando estamos conscientes da nossa fragilidade, e da nossa fraqueza, só quando percebemos até ao fim e até ao fundo, quanto carentes estamos do perdão, da misericórdia e da ternura de Deus é que, de facto, essa misericórdia é derramada nos nossos corações.

Ganhar consciência de que precisamos de ser tocados por Jesus, ser lavados no seu sangue, na água batismal, ser iluminados pela sua luz.

O que é receber a luz, o que é passar a ver? É ganhar uma nova visão das coisas.

Os Evangelhos têm muitas curas a cegos. E essas curas têm um papel simbólico muito importante. Porque a cegueira tem a ver com a nossa maneira de viver. Às vezes nós estamos cegos mas não temos consciência disso. Achamos que continuamos a ver. É uma imagem que já Platão utiliza na Alegoria da Caverna, i.e., nós pensamos que vemos, mas afinal estamos reféns das imagens e dos fantasmas.

Precisamos de ganhar uma nova visão. E essa nova visão, esse novo entendimento, essa nova maneira de compreender as coisas, é a luz que Cristo nos dá.

O Evangelho de São João tem uma particularidade em relação aos outros 3 Evangelhos.

É que, enquanto os outros três foram escritos para pessoas que ouviam pela primeira vez falar de Jesus, digamos, são os Evangelhos do primeiro anúncio, pensa-se que o Evangelho de São João foi escrito para pessoas que já eram cristãs e por isso não se tratava de aprender o b-a-ba sobre Jesus, o início, mas trata-se sim de um segundo encontro, de um aprofundamento da própria fé.

E, por isso, é muito interessante que no Evangelho de São João, as personagens não aparecem uma só vez, aparecem várias vezes, duas ou três vezes. Por exemplo, o Evangelho da Samaritana, ela aparece-nos a falar com Jesus mas depois aparece-nos a falar com as pessoas da sua terra. No Evangelho de Nicodemos, ele aparece-nos à noite a falar com Jesus mas depois aparece-nos com José de Arimateia a perfumar o corpo de Jesus e a sepultar Jesus.

As personagens não aparecem uma vez só, aparecem uma segunda e uma terceira vez.

Também assim com o cego. Ele era mendigo, era cego, foi curado.

Foi curado, mas acreditava que tinha sido um profeta. Não que era o Messias de Deus que o tinha curado. E então, depois daquela querela toda, Jesus encontra-o pela segunda vez.

E diz-lhe: “Acreditas no Filho do Homem?”

E ele pergunta: “Quem é Senhor, ainda não o vi”. Quer dizer, a cura não é apenas a cura da cegueira, é a cura é de uma cegueira espiritual.

E Jesus diz uma coisa absolutamente comovente, conjugada no verbo presente: “É este que fala agora contigo”. E o homem cai de joelhos, e diz: “ Senhor, eu creio”.

Queridos irmãos,

Nós estamos a viver o Tempo da Quaresma, nós já somos cristãos há um ano, há cinquenta anos, há mais ou menos tempo. Hoje temos aqui três irmãos nossos catecúmenos que se estão a preparar para receber o batismo no tempo pascal.

O que é verdadeiramente para nós o segundo encontro com Jesus?

O segundo encontro com Jesus é recebermos a luz de uma maneira nova.

A Quaresma tem que ser um sobressalto. Tem de nos tornar mais cristãos, melhores cristãos. Tem de nos dar uma compreensão mais lata do mistério de Cristo e do mistério do próprio homem e do mistério da vida.Com Cristo aprendemos uma nova gramática, um novo dicionário, um novo léxico da própria realidade.

Se, antes da Quaresma pensávamos uma coisa, ao chegar à Pascoa o nosso olhar tem que estar lavado. Em Itália, há uma tradição muito bonita, no Véneto, que é na manhã de Páscoa as pessoas vão ao rio lavar os olhos. E nós estamos aqui a lavar os nossos olhos, com esta palavra. Isto é, a lavar o nosso entendimento. A receber esta luz que é o próprio Cristo.

E receber a luz, implica muitas vezes, ver as coisas de uma forma completamente diferente.

Por exemplo, a 1ª leitura, a escolha de David como rei. Este homem, Jessé, tinha doze filhos e naturalmente o que podia ser rei era o mais velho, e no impedimento do mais velho, o filho segundo. Mas Deus vai escolher aquele que nem está em casa. Vai escolher o mais novo, aquele que, do ponto de vista jurídico, não tem direito algum. E Deus vai escolher o mais improvável, que é aquele rapaz chamado David. Deus escolhe o mais improvável, o mais pequenino, aquele que não se espera, o que não está legislado, o que nos surpreende, que não tem a ver com o nosso ponto de vista. Deus escolhe. Deus escolhe fora do nosso baralho e para lá das nossas contas.

E receber a luz de Cristo é nos abrirmos a um novo entendimento. No fundo, nos abrimos às surpresas de Deus. Ao desconcerto do modo como ele atua. À liberdade de Deus ser Deus em nós. À sua vontade que é sempre nova. Nos abrirmos. Nos abrirmos.

Que hoje nos sintamos como o homem cego. Este homem o qual Jesus tem misericórdia e cura, a quem lava os olhos, e a quem diz uma palavra. A quem encontra uma vez e uma outra vez. Uma segunda oportunidade, para lhe dizer: “Acreditas no Filho de Deus?”. Ele é aquele que está a falar connosco neste momento. O que Jesus diz ao cego, diz a cada um de nós : “Sou eu que estou a falar contigo, agora, agora”.

Pe. José Tolentino Mendonça

 

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[/vc_toggle][vc_toggle title=”2014/03/27 – Celebração Penitencial na Capela do Rato” open=”false”]No dia 27 de Março, às 21h30, na Capela do Rato, terá lugar a Celebração Penitencial em tempo de Quaresma, desafiando-nos a preparar a Páscoa.[/vc_toggle][vc_toggle title=”2014/03/25 – Vozes de Religiosas Portuguesas” open=”false”]No próximo dia 25 de Março, às 21.30h, na Capela do Rato, celebrando a Anunciação do Anjo a Maria, teremos connosco três religiosas para partilhar o seu testemunho de vida:Ir. Isabel Balbino (Franciscanas Missionárias de Maria)
Ir. Mafalda Leitão (Servas de N. Sra. de Fátima)
Ir. Mª Julieta Mendes Dias (Religiosas  do Sagrado Coração de Maria)

O encontro será moderado por Alfreda Fonseca.[/vc_toggle][vc_toggle title=”2014/03/17 – Nesta Quaresma aprende a ser pobre” open=”false”]Uma das bem-aventuranças de Jesus, que no Evangelho de Mateus é a primeira (5, 3), diz: «Bem-aventurados os pobres em espírito porque é deles o Reino de Deus».

Uma bem-aventurança é um horizonte. A nossa vida precisa de horizonte. Às vezes parece que a nossa existência acaba nos nossos sapatos, que é a única coisa que vemos quando se tem a cabeça virada para baixo. Não nascemos para viver a olhar para os sapatos, mas para o futuro. Precisamos de sentir que há um projeto, que somos projetados mais além, que tudo não acaba aqui e agora, que o que fazemos não acaba numa tarefa mas é um diálogo com o que está mais longe.

O que por vezes nos sufoca é o ar pesado de uma vida fechada em si mesma. Como se vivêssemos num quarto a vida toda com as janelas fechadas sem nunca entrar o ar. Pensar nas grandes questões, no que dá sentido à vida. E é neste contexto que se situam as bem-aventuranças que Jesus oferece.

«Bem-aventurados os pobres em espírito porque é deles o Reino de Deus». Antes de tudo, a pobreza é uma atitude espiritual, interior. Não estamos a falar de economia. A pobreza é uma atitude do coração, voluntária, ao passo que a pobreza económica vem de fora e pode ser uma imposição, como acontece com o desemprego, que é uma catástrofe. Mas no Evangelho fala-se de outra pobreza, que é uma escolha, que nos vem de dentro, um estilo de vida, uma maneira de estar e de reagir, uma forma de nos situarmos neste jogo que é a vida.

Eu posso colocar-me como não precisando de nada nem de ninguém, posso colocar-me numa perspetiva completamente autossuficiente, blindada, impermeabilizada, ou posso escolher a pobreza, ou seja, viver numa atitude de humildade, necessidade, encontro, busca da complementaridade dos outros, sabendo sempre qual é o meu lugar.

A pobreza liga-se a uma longa tradição na espiritualidade cristã que é a infância espiritual. Muitos santos propõem-na no caminho da ascese, de subida para Deus. Temos de envelhecer com esta criança interior, não perdendo a inocência, a simplicidade, a capacidade de se sentir pequenino, e tudo isto não ser uma coisa que nos destrói, mas ser a fonte da nossa alegria, a fonte da nossa esperança.

A infância espiritual não é uma infantilização da vida, não é um fazer de conta, não é desresponsabilizar a existência. É fazer uma opção por viver na confiança e na abertura, duas dimensões que precisamos de trabalhar. Viver na confiança quer dizer viver com fé, espalhando-a a tudo, às relações com os outros, à vida, ao que somos.

Estamos num tempo que nos coloca de pé atrás com a vida, com o quadro social, com o futuro, embora estas inquietações nos levem a perguntar onde é que tínhamos colocado a nossa confiança. Temos de saber em quem e onde colocamos a confiança, que não depende da Bolsa de cada dia.

O coração pobre vive na abertura, não se fecha, não se tranca, vive na atenção, na vigilância, na espera, na disponibilidade. Quando andamos com uma criança pela mão, sabemos para onde queremos ir, o que muitas vezes nos impede de apreciar o caminho. Uma criança sabe que vai a algum lado, mas também sabe que está acompanhada, o que lhe dá uma grande liberdade de coração, e vai disponível para apreciar os detalhes da vida. Por vezes temos de a puxar porque ela fica agarrada a uma flor, a um animal, a qualquer coisa que saltou no meio da paisagem.

Se nos perguntarem «hoje, o que é que te tocou?», ficamos por vezes sem saber o que responder, porque nada nos tocou. Vivemos muita coisa mas nada nos tocou. Porquê? E somos capazes de viver assim durante dias, semanas e meses.

Falta-nos a disponibilidade de entrarmos em diálogo, de sermos simples, de aprendermos como as crianças, que quando dão a mão a alguém têm o coração e o espírito livre para saborear o caminho, que para elas não é, como para nós, um corredor noturno e sonâmbulo em que só se vê uma coisa: a meta. E quem só vê a meta, não caminha.

«Agradece a quem quer que venha, porque cada um foi enviado como um guia do Além.» Agradecer, agradecer, agradecer. É esta a pobreza de coração. É estar grato por aquilo que vem, que brota, que germina.

P. José Tolentino Mendonça

Excertos do Retiro Aberto na Capela do Rato no dia 17 de Março de 2013

Redação: SNPC/rjm

Clique para ouvir o retiro completo 

[/vc_toggle][vc_toggle title=”2014/03/17 – Pobreza espiritual, caminho de vida” open=”false”]Há uma escultura de S. Francisco de Assis no Monte Alverne, Itália, em que ele está deitado na terra, a olhar. É uma imagem da santidade. A capacidade de se deitar a olhar, a ver, a reparar, a respeitar – olhar outra vez. Por vezes somos injustos com a vida, as coisas, os acontecimentos, porque não olhamos outra vez. O nosso ponto de vista já está muito cheio, muito condicionado, é um funil que deixou de ser abertura de coração.

Por um lado, devemos ter consciência da nossa autonomia. Deus tem de ser um caminho para cada pessoa. Não vivemos encostados à experiência de ninguém. Somos autónomos também no caminho da fé. A nossa relação com Deus é comunitária, sem dúvida, mas antes de tudo é pessoal. Deus não se revelou primeiro a um povo, mas a uma pessoa: Abraão, Moisés,… Um por um. Deus sabe o nosso nome, sabe o que somos. Isto também tem a ver com a aceitação da pobreza. É na pobreza que está a riqueza enquanto ponto de partida.

A par da autonomia, temos de viver na consciência de que dependemos inteiramente do amor de Deus. «Não temas, pequenino rebanho, porque agradou a teu Pai dar-te o Reino.»

A pobreza espiritual, encarnada por Jesus, tem ressonância no Antigo Testamento. Nesta tradição fala-se de um modo de ser e viver pobre em termos espirituais, concretizado pelos anawin, os pobres de Yahweh. O que Maria canta e testemunha no seu “Magnificat” é a reviravolta de Deus, que pôs os olhos na pobreza da sua serva, que retira os poderosos dos tronos e neles faz sentar os humildes, que despede os ricos de mãos vazias e enche os pobres das suas riquezas.

Um coração pobre está disponível para viver a alternativa de Deus, a lógica nova de Deus, as transformações, o modo de ver e atuar de Deus na história.

Jesus também nos ensina o caminho da pobreza espiritual. Quando atravessa a Samaria, acompanhado pelos discípulos, sente fome. Por vezes a fome é um momento espiritual importante. Não só a fome biológica, mas também a necessidade de outra coisa.

Os discípulos vão à aldeia buscar comida e, ao regressar, Jesus fala-lhes de outro alimento: fazer a vontade do Pai. Também nós fazemos um grande investimento para buscar o alimento, mas Jesus, à semelhança do diálogo com os discípulos, como que nos pergunta: «É disso que te alimentas?».

O verdadeiro alimento é vivermos a partir da condição de sermos filhos, de sermos filhos amados por Deus. Se vivemos a partir da convicção profunda de que é o amor de Deus que nos funda – o que o Pai diz a Jesus, «Tu és o meu filho muito amado, em ti coloco o meu amor» -, a nossa existência será completamente diferente. Deixaremos de andar de equívoco em equívoco. Saberemos verdadeiramente qual é o nosso alimento, o que nos sacia, o que é decisivo para nós.

A pobreza espiritual também se expressa na aceitação de si. Não temos apenas mal-entendidos com os outros. Por vezes, o maior e o mais difícil mal-entendido é connosco próprios. Não nos aceitamos, não nos abraçamos, não nos acolhemos, não nos perdoamos. Aceitar-me no que sou e não sou, no que fui, no que não fui, no que não consegui, no que correu bem e no que correu mal, na fraqueza e na fragilidade.

Como é que se torna fecunda a vida pobre? Na aceitação confiante de si. Como diz S. Paulo na segunda carta aos Coríntios (4, 7): «Trazemos em vasos de barro o nosso tesouro». E é sempre assim. Temos de aceitar o tesouro, mas também o barro, o barro que se quebra, o barro que se cola, o barro que não tem remédio, o barro que fica ferido.

O poeta brasileiro Manoel de Barros, com quase 90 anos, é uma das grandes figuras espirituais do nosso tempo: «Prefiro as máquinas que servem para não funcionar». Isto exige uma conversão. Porque nós preferimos o que funciona. «Porque cheias de areia, de formigas e de musgo, elas podem um dia milagrar flores». Há um milagre que só nos chega pela pobreza.

Há a história do monge perseguido por um tigre: o monge corre, o tigre também; o monge sobe a uma árvore, e também o tigre; o monge desce, o tigre imita-o. Chegado ao cume de uma montanha, percebe que de um lado tem o tigre e do outro o abismo. Então pensa: no abismo haverá, possivelmente, alguma coisa que amorteça a queda; e então atira-se. Ao cair, fica preso numas raízes, com o tigre, no alto, a olhar para ele. Mas as raízes começam a ceder com o peso, e daí a momentos ele vai cair onde não sabe. Olhando à volta, encontra um morangueiro, estende o braço e come um belíssimo morango, sentindo todo o seu sabor.

A nossa vida tem o tigre, tem as raízes que cedem, tem o que não sabemos à nossa espera. A atitude da pobreza é a convicção de que, no meio da aflição, os morangos não perdem o sabor. Que os encontros não perdem o sabor. Que sejamos capazes de perceber o sabor que nos é dado, mesmo que não seja nas condições, no modo, no dia ou no tempo que tínhamos previsto. O pobre recebe infinitamente mais do que previa.

Como o mestre que chama o discípulo para a primeira lição, que é tomar chá. Ao deitar chá para o chávena do aprendiz, não para, e então o chá transborda. O discípulo, assustado, grita: «Mestre, o chá está a espalhar-se por todo o lado». E o mestre diz-lhe: «É a primeira lição: se não tiveres o coração vazio, vai perder-se tudo aquilo que ouvires e viveres».

Como é que pode acontecer que passem semanas e nada nos toque? Como podemos dizer que não vemos Deus em nenhum lado? S. Francisco andava com uma varinha a bater nas rochas, nas flores e nas criaturas, e dizia-lhes: «Para, para, não me fales de Deus».

Esta pobreza espiritual é chamada a expressar-se num estilo de vida essencial. É importante que cada pessoa se pergunte o que quer testemunhar. Porque nós estamos sempre a testemunhar.

Diz Rumi: O que é que eu deixo em herança? Deixo em herança a primeira brisa do outono e o primeiro canto do cuco na primavera. O que é que nós deixamos em herança? Podemos até deixar bens, mas se não deixamos o sabor da vida, o sentido, a transparência, se não deixamos a brisa do outono e o canto do cuco na primavera, então não deixamos nada, não testemunhamos nada.

O que possuímos, possuí-nos. Devemos estar muito alerta e perguntar: eu quero possuir isto? Que é como quem diz, eu quero ser possuído por isto? Se pensarmos assim, ganhamos outra liberdade, que é um caminho exigente, de pequenas e grandes escolhas, de momentos extraordinários e da vida de toda a hora.

Queremos viver para dar testemunho do amor e do acolhimento, ou queremo-nos protegidos através do conforto e da segurança?

Rezemos a nossa vida. Perguntemo-nos o que nos alimenta, o que nos toca, perguntemos se só vemos a meta ou se aceitamos a nossa vida pobre e vazia. Perguntemos se em cada dia franqueamos as muralhas do nosso coração.

«O ser humano é uma casa de hóspedes; cada manhã, um novo recém-chegado, uma alegria, uma tristeza, uma maldade, que vem como um visitante inesperado. Diz-lhes que são bem-vindos, e recebe-os a todos, ainda se são um coro de penúrias que esvaziam a tua casa violentamente. Trata cada hóspede com todas as honras; ele pode estar a criar-te um espaço para uma nova delícia. O pensamento obscuro, a vergonha, a malícia, recebe-os à porta sorrindo e convida-os a entrar. Agradece a quem quer que venha, porque cada um foi enviado como um guia do Além».

P. José Tolentino Mendonça

Excertos do Retiro Aberto na Capela do Rato no dia 17 de Março de 2013

Redação: SNPC/rjm

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[/vc_toggle][vc_toggle title=”2014/03/06 – Quaresma, tempo para renascer” open=”false”]Ao falar de uma espiritualidade inscrita no quotidiano, o frei Carlos Maria Antunes, no livro “Só o pobre se faz pão”, diz que uma das nossas dificuldades é a dispersão. O nosso coração está disperso, dividido por muitas coisas. Somos objeto de múltiplos apelos e necessidades. Um rebuliço sem fim atravessa o nosso interior. E com ele também um cansaço e uma angústia que vamos tentando compensar de várias formas.

O cansaço e a angústia são um terreno fértil para a multiplicação das falsas necessidades e falsos desejos. A dispersão provoca mais dispersão.

Neste quadro, a nossa unidade e vigilância interior, que são fundamentais no nosso interior, tornam-se frágeis. Vamo-nos tornando mais vulneráveis, e acabamos, muitas vezes, num movimento de defesa, por endurecer o nosso coração, fazendo de conta que não vejo, que não oiço. Mas esta atitude também não nos dá a verdadeira unidade de coração.

Precisamos de aprender uma arte do acolhimento da nossa própria vida. Acolhermo-nos, acolher aquilo que somos, acolher o que nos chega como uma oportunidade, mas partindo de um centro, de um núcleo vital que em nós está desperto.

O padre Carlos cita o trecho de um poeta persa, Rumi, que diz o seguinte: «O ser humano é uma casa de hóspedes; cada manhã, um novo recém-chegado, uma alegria, uma tristeza, uma maldade, que vem como um visitante inesperado. Diz-lhes que são bem-vindos, e recebe-os a todos, ainda se são um coro de penúrias que esvaziam a tua casa violentamente. Trata cada hóspede com todas as honras; ele pode estar a criar-te um espaço para uma nova delícia. O pensamento obscuro, a vergonha, a malícia, recebe-os à porta sorrindo e convida-os a entrar. Agradece a quem quer que venha, porque cada um foi enviado como um guia do Além».

Esta arte do acolhimento da vida, de saber abraçar tudo a partir de uma unidade interior, pede de nós a pobreza espiritual, a pobreza de coração.

Aquando da eleição do papa Jorge Mario Bergoglio – todos nós já tivemos a oportunidade de ouvir esta história -, o cardeal Claudio Hummes, arcebispo de S. Paulo, que estava ao lado dele, abraçou-o e disse-lhe: «Não te esqueças dos pobres». Estas palavras ficaram a fazer-lhe caminho no coração, e quando se tratou de escolher o nome, ele optou por Francisco, lembrando-se de Francisco de Assis e da sua espiritualidade universal.

Falando aos jornalistas nos primeiros dias, o papa deixou os papéis e teve um suspiro, a expressão de um desejo, e disse: Quem me dera que a Igreja se tornasse pobre e fosse uma Igreja para os pobres. Uma Igreja que se torna pobre e faz do acolhimento dos pobres a sua razão de ser, a sua missão.

A pobreza espiritual aparece-nos como um conselho evangélico, isto é, como modo de vida, como uma opção que cada cristão é chamado a fazer para se configurar a Cristo, para se tornar mais próximo de Cristo. Há mais dois conselhos evangélicos: a obediência, ou seja, a capacidade de escutar e permanecer fiel à palavra que se recebe; o outro é a pureza de coração, e aí a castidade é muito mais do que uma privação, tornando-se um modo positivo de estar na vida.

Cada um destes conselhos é vivido na Igreja por todos os batizados, embora de modos diferentes. Todos somos chamados à configuração com Cristo, que é pobre, puro de coração e obediente ao Pai.

Como é que podemos concretizar a opção por uma vida pobre, por uma pobreza espiritual? A vida espiritual não é uma técnica, não é uma habilidade, não é um conjunto de ritos. A vida espiritual é um modo de ser. E quando se fala de adotar uma atitude espiritual de pobreza no coração – S. Francisco chamava-lhe a Irmã Pobreza, ou Santa Pobreza -, temos, antes de tudo, de exercitar o nosso ser.

«Numa disciplina constante procuro a lei da liberdade medindo o equilíbrio dos meus passos. Mas as coisas têm máscaras e véus com que me enganam, e, quando eu um momento espantada me esqueço, a força perversa das coisas ata-me os braços e atira-me, prisioneira de ninguém mas só de laços, para o vazio horror das voltas do caminho» (Sophia de Mello Breyner).

Há um momento da nossa vida em que deixamos de saber de nós próprios. Parece que já não há um fundo de ser a marcar aquilo que somos e que nos estrutura, uma decisão fundamental, mas, pelo contrário, somos a dispersão.

A nossa vida não é só um conjunto de inevitabilidades: ela tem de ser uma opção fundamental, isto é, tem de ser algo que eu decido, que eu quero, um caminho que escolho, em diálogo com o Espírito. A minha vida tem de ter fundamento, para não ser uma deriva, um fragmento flutuante no oceano convulso. Precisamos de um centro.

E para ter um centro, precisamos de momentos de recentramento para ouvirmos a nossa voz interior, para nos escutarmos mais profundamente, para perguntarmos: «O que é que eu vivo? O que me enlaça? O que procuro? O que sou?». Estes momentos de recentramento são revitalizadores.

A Quaresma não são 40 dias para tentarmos fazer rituais mais ou menos arcaicos. A Quaresma é um tempo de revitalização, um tempo para nos colocarmos as perguntas-chave que vão favorecer o renascimento do que somos. E Deus sabe como cada um de nós precisa de renascer. Por isso este é o tempo de voltar a si.

Excertos do Retiro Aberto na Capela do Rato no dia 17 de Março de 2013

P. José Tolentino Mendonça

Redação: SNPC/rjm

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[/vc_toggle][vc_toggle title=”2014/03/05 – Postal para a Quaresma 2014″ open=”false”]

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[/vc_toggle][vc_toggle title=”2014/03/05 – Conversas à Capela – A virtude da Fortaleza” open=”false”]Dia 5 de Março, às 21.30h, tem lugar a sessão das “Conversas à Capela”, na Capela do Rato, desta vez dedicada à virtude da ”Fortaleza”. Para nos ajudarem a reflectir sobre este tema convidámos a Cristiana Vasconcelos Rodrigues (Profª da Universidade Aberta),  a Maria Luísa Ribeiro Ferreira (Profª da Universidade de Lisboa), e o Iliyan Georgiev (Sacerdote da Igreja Ortodoxa Búlgara e Prof. da Universidade Nova de Lisboa).[/vc_toggle][vc_toggle title=”2014/03/05 – Precisamos de uma Primavera” open=”false”]A comunidade da Capela do Rato em tempo de Quaresma

Somos uma comunidade de mulheres e de homens, não somos uma comunidade de anjos. E, como tal, vivemos a incerteza, a incompletude e a fragilidade; apercebemo-nos das contradições que se albergam no nosso coração; combatemos o drama do mal nos nossos próprios gestos. Umas vezes conseguimos vencer o dilema, outras afundamo-nos nele e somos vencidos. Umas vezes conseguimos manter alta a esperança, outras permitimos que ela diminua ou se apague em nós e nos outros. Se alguma coisa nos define, portanto, é estarmos a caminho. Diria assim: somos uma comunidade de mulheres e de homens, não somos um grupo de anjos e, por isso, precisamos de conversão.

Vamos começar a quaresma porquê? Não apenas por uma imposição do calendário litúrgico, mas porque precisamos renascer. Sentimos o inacabamento, percebemos que é-nos possível ser mais e que está ao nosso alcance viver com maior autenticidade a nossa condição de discípulos de Jesus. Começamos a quaresma porque precisamos dela, porque somos chamados a dar lugar ao Espírito nas nossas vidas, a abrir caminhos de novidade no quotidiano, a acreditar que é possível. Começamos a quaresma porque acreditamos no amor de Deus. De facto, cada um de nós é amada e amado por Deus, e esse amor é capaz de nos colocar em contexto de aliança, em estado de florescimento. Ligarmo-nos a esse amor representa uma nova criatividade, um novo alento, uma nova respiração. E, certamente, uma nova etapa.

Vamos, por isso, começar este caminho da quaresma. Façamo-lo com realismo. As mudanças que contam na nossa vida não acontecem um dia para outro ou de forma espontânea. Acontecem no meio de um paciente combate interior. Temos de estar preparados para um caminho exigente e através de muitas tentações. É muito fácil sermos crentes de bancada, cristãos de sofá, fregueses do templo.

Descobrir um tempo favorável à oração

Vamos regressar a um caminho, um caminho que dura 40 dias, e que é símbolo do caminho da nossa vida. Não vamos percorrê-lo sozinhos, mas em comunhão com o povo de Deus, com a história da salvação, com o próprio Jesus, que quis também passar 40 dias no deserto para refazer espiritualmente o tempo que o povo de Israel esteve no deserto até chegar ao monte da Aliança. Vamos entrar nestes 40 dias de travessia passo a passo, vamos colocar as nossas vidas em obras, em trabalhos, em arranjos, limpezas, sacudindo o pó, abrindo janelas e rasgando horizontes de forma a deixar entrar o ar novo do Espírito.

A igreja apresenta-nos três ferramentas muito úteis e que nos vão servir estrada fora. A primeira ferramenta é a oração. Um cristão não é produto da sua vontade: é, sim, alguém que vive na humilde e confiada abertura à ação de Deus nele. Um cristão não é alguém que a pulso sobe uma escada. Não vamos entrar na ascese pela ascese.  Tudo nasce daquela certeza que S. Paulo recorda: “…acredita que és amado e salvo por Jesus Cristo…”.

Ora, a verdade é que nós cristãos  vivemos muitas vezes como se Deus não existisse. Vivemos num ateísmo prático os nossos quotidianos, remetendo Deus para o último dos pensamentos, a última das lembranças. No nosso dia a dia que espaço damos à oração? Ás vezes são cinco, dez minutos muito negociados, muito regateados e, mesmo assim, a achar que estamos a perder tempo.

Se pensarmos bem, a oração é efetivamente uma perda de tempo, mas no melhor dos sentidos. A oração é inútil, não serve para nada. Temos, porém, de aceitar que esse momento que não produz nada permite estarmos face a face, coração a coração, permite-nos estar gratuitamente com Deus. A verdadeira oração cristã é gratuita: é deixar que o Espírito venha em nós. É dizer: «Senhor eu estou aqui, à espera de nada», «estou à espera do que Tu me dês; à espera de Ti.» Precisamos da oração, porque como um ferro só se dobra a altas temperaturas (e ninguém pensa que consegue dobrar um ferro frio), uma mulher e um homem também só são recriados a altas temperaturas: a temperatura do amor, a da esperança, a  da oração. A nossa vida precisa de ganhar essa temperatura e isso nasce de uma disposição interior para a relação, para colocar Deus na minha vida, para dialogar com Jesus, ás vezes até para brigar com Ele um bocadinho. É desse encontro que podemos florescer. O nosso tempo da quaresma há de ser um tempo favorável à oração. Cada um à sua maneira, não há duas orações iguais como não há dois sorrisos iguais ou duas lágrimas iguais. Cada um de nós tem uma forma de rezar, é o que somos, pois rezamos a partir do nosso estilo. Mas o importante é isto: que eu reze, que tu rezes.

Qual é a oração boa? Qual a melhor oração? Creio que nos ajuda pensar que a oração se define sobretudo pela quantidade. Oração boa é aquela oração longa, rezar bem é rezar muito. Lembro-me há uns anos de uma conversa com um jovem, ele estava numa etapa forte da sua vida e confessava-me numa linguagem um bocado áspera, por isso não se choquem. Ele dizia-me: «Padre Tolentino eu rezo como um porco». Queria com isso dizer:  «eu rezo tudo, eu não separo, eu não escolho nada; como um porco não escolhe o que vai comer; o que lhe põem à frente ele come». Os verdadeiros orantes são assim! Não podemos achar que  quando acontecer-nos uma coisa especial então  rezamos. Não, faz precisamente o contrário:  reza desde que acordas até que te deitas, reza tudo, reza o que está à tua frente, reza o que Deus te dá para rezar. Que estes 40 dias sejam assim tempos em que nos treinamos na oração frequente, na gratuidade, no encontro, no silêncio. A semente floresce em silêncio, as sementes que neste momento estão a florescer ninguém as escuta, assim é a semente do nosso coração.

Experimentar o jejum nos vários sentidos

A outra ferramenta é o jejum. A quaresma é um tempo para praticar o jejum (o jejum comunitário está previsto em dois dias: quarta-feira de cinzas e sexta-feira santa). E aqui eu penso que temos que começar por ser literais. O que é jejum? Jejum é não comer, é a privação temporária e parcial do comer. É muito importante que cada um de nós faça essa experiência de que tem fome. Esse vazio que se sente no estômago abre, perfuma a vida, faz-nos pensar que a vida não é só pão. Se eu não experimento isso na minha barriga a espiritualidade torna-se uma coisa mental. Ora, a religião não é mental, é uma coisa na carne, é uma opção que nos toca profundamente, que nos modifica. Estes quarenta dias são dias para experimentar o jejum em sentido literal e também como renúncia a pequenos prazeres e confortos, concretizando um estilo de vida mais sóbrio do que aquele que a gente tem. O objetivo é esforçar-se por viver frugalmente este tempo, com maior despreendimento em relação aos nossos apetites, rotinas e gostos. Não nos damos conta, mas a nossa vida enche-se de dependências, de falsas necessidades e perdemos completamente a nossa liberdade. Nós somos mulheres livres, homens livres? Não sei. E se somos até que ponto somos? A liberdade interior e evangélica é uma coisa que se treina. Por exemplo: para podermos dizer sim temos que dizer não; muitos nãos são necessários para podermos dizer um sim que seja autêntico.

Então este tempo jejum é para treinar a renúncia, para escolher um estilo de vida sóbrio e durante estas sextas-feiras nós não vamos comer carne. Havia aquela tradição negocial: «eu substituo essa tradição e como outra coisa» ou «eu prefiro comer carne porque o peixe é mais caro». Não, o sentido é não comer carne e isso tem um sentido. Às sextas-feiras não comemos carne porque a carne é um sangue que se derrama, alimentamo-nos de outra vida, matamos para comer. Simbolicamente, ás sextas feiras, vamo-nos abster desse gesto, do gesto de derramar o sangue das criaturas, e optar por vegetais, por um ovo, um peixe. Isto é uma linguagem simbólica, claro. Não é um bife, um frango ou um hambúrguer que fazem a diferença. O essencial é o que eu sou chamado a redescobrir: que o mundo não existe em função de mim; o mundo não existe para que eu o devore. O jejum é muito importante porquê? Estimula o sentido crítico em relação a nós próprios. O nosso eu é uma coisa imensa e muitas vezes tirânica. O nosso eu é um ditador prepotente e caprichoso e se não o contrariamos acabamos por viver uma vida absurdamente egoísta. Nós não somos o centro do mundo. Temos que colocarmo-nos no nosso lugar e de uma forma consciente e crítica. O jejum serve para isso. Para ter uma posição crítica face àquilo de que nos alimentamos real e simbolicamente.

Praticar a esmola

Mas nada deste caminho fazia sentido se fosse apenas trabalhar de forma solipsista o nosso eu. A quaresma não é o momento zen da igreja.  Isto tudo é feito para ampliar a nossa capacidade de comunhão, para dar uma qualidade evangélica às relações que edificamos. Não tenhamos dúvidas: só o amor, a condivisão, a solidariedade, a partilha tornam legível este caminho espiritual que vamos fazer. E por isso é que a primeira ferramenta é a oração, depois o jejum e terceiro a esmola. Privam-nos para poder oferecer, para nos tornarmo-nos dom. No atual momento das nossas sociedades é fundamental redescobrir a dádiva. Há uma responsabilidade pelos outros, pelos mais pobres e frágeis, que temos de por em prática.  E partilhar isso com os próximos e com os distantes, porque o mundo não acaba na porta da nossa casa ou na fronteira da nossa mesa. Temos de ser capazes de abrir o nosso coração. Que o Espírito Santo que é o recriador das nossas vidas faça renascer o nosso coração como faz brotar cada uma das flores da primavera que se anuncia.

Boa quaresma.

Pe. Tolentino

Escute a Homilia do Pe. Tolentino na Quarta-feira de Cinzas de 2013

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Fevereiro

height=”10″][vc_toggle title=”2014/02/23 – Fazer da vida um lugar sagrado e tornar-se louco aos olhos do mundo” open=”false”]Queridos irmãs e irmãos

As leituras do VII domingo do Tempo Comum contam muito do que é a pretensão cristã e porque é que o cristianismo se afirmou como uma alternativa, como novo modelo de vida.

Para pensarmos esta novidade, temos de perceber o que é que o cristianismo faz com duas categorias absolutamente sagradas, cada uma à sua maneira, quer do judaísmo, quer do mundo helenístico.

No universo greco-romano, o mais importante era a sabedoria e a sua procura incansável. O que o homem ou a mulher podiam aspirar de mais sagrado no mundo grego era encontrar a sophia, um caminho de sabedoria.

Quando visitamos a antiguidade clássica, o mais belo monumento é a emergência do pensamento humano, a construção da filosofia; pensemos, por exemplo, na escola de Atenas, Aristóteles, Platão, Sócrates, os sofistas. Era uma grande procura, através do conhecimento, a de encontrar sentido e significado para a vida.

Há uma enorme grandeza moral nestes ascetas, que dedicam a sua existência à procura do conhecimento e da racionalidade, tentando perceber qual será o caminho para realizar o coração do ser humano, para justificar o sentido da nossa presença no mundo, o porquê e para quê das nossas vidas.

Se há uma palavra sagrada no mundo helenístico do tempo em que o cristianismo surge, é a palavra “sabedoria”. É uma palavra inalcançável, inspiradora, que todos procuravam, que todos queriam.

No mundo judaico, uma palavra igualmente fundamental era “templo”, o lugar sagrado. O templo era a certeza de que o Deus transcendente era também o Deus histórico, o Deus que acompanha o seu povo, o Deus cuja glória, aShekinah, habita num lugar concreto, e nós vamos até ele.

Do templo dimana tudo: os sacrifícios, o dia do perdão, o dia das expiações. E os judeus entregavam o dízimo para que a luz do templo não se extinguisse. Morrer sem ter peregrinado a Jerusalém era a maior das desgraças.

O templo era o lugar da evidência de Deus, a fonte de sentido, aquilo que estruturava a nação judaica, mas também a condição histórica, a cidadania judaica.

O cristianismo emerge assim num mundo em que o sagrado estava no conhecimento e no templo, a lei.

Em relação ao sagrado judaico, vamos ouvir S. Paulo, o primeiro grande intérprete cristão de Jesus, dizer, na carta aos Coríntios, que o templo é o corpo de cada um de nós. O templo somos nós. O lugar sagrado é a nossa vida. Porque o Espírito de Deus habita em cada um de nós.

Então já não estamos dependentes de um lugar, de uma raça, de uma etnia, de uma nação, de uma lei, de um código externo; é em nós que descobrimos Deus. Cada pessoa é o lugar onde Deus está.

Por isso temos de olhar para a nossa vida de outra maneira. Somos sujeitos diferentes porque o que nos caracteriza não é uma ligação a uma estrutura que está fora de nós, mas a descoberta de que Deus nos habita, de que Deus está em nós. E essa descoberta transforma a nossa vida.

Esta vida que por vezes nos custa abraçar, nos custa aceitar, nos custa entender; esta vida que é exaltante e ao mesmo tempo é lugar de fragilidade, é lugar de dor; esta vida tão misteriosa que parece que nos escapa; esta vida é o santuário de Deus.

Esta vida que construímos dia a dia, esta vida que não existe em abstrato mas em concreto, nos nossos gestos, na nossa decisão, esta vida que não é apenas biológica mas é a vida ética, a vida sensual, a vida de amor, a vida de procura que em cada um de nós quotidianamente se efetua… Isto que nós somos, isto de inominável, de indecifrável, isto é o lugar de Deus.

Esta é uma transformação imensa que o cristianismo operou.

Por isso tenho de olhar para a minha vida como um lugar sagrado; tenho de olhar para a minha vida com outros olhos, com outra esperança, porventura com outra veneração. Tenho de cair de joelhos perante o espetáculo desabalado e divino que é a vida, por mais frágil que seja. Tenho de olhar para a vida com um coração diferente, um coração novo.

A nossa vida não é apenas um instrumento. Não estamos escravizados a nada; vivemos plenamente a nossa liberdade porque Deus está em nós. Por isso a nossa grande tarefa é descobrir o que somos, é tornarmo-nos naquilo que somos.

Este debate animou o cristianismo desde os primeiros séculos e levou um grande teólogo, Tertuliano, a dizer que o homem é naturalmente cristão. Ele não disse isso no sentido de que o cristianismo é um lugar automático, mas que é na nossa natureza, no fundo daquilo que somos, que temos de descobrir o que é isto de sermos filhos de Deus e de Deus habitar em nós.

Nenhuma vida é para deitar fora, nenhuma vida é para excluir, nenhuma vida é descartável, nenhuma vida é para ser pisada. A nossa vida tem esta dignidade de ser o templo, o lugar sagrado.

Em relação ao modelo da sabedoria, o cristianismo faz um movimento que os exegetas denominam de “autoestigmatização”. Entendemos o alcance desta palavra nas palavras de S. Paulo: é preciso tornar-se louco.

Num mundo em que é a sabedoria que confere estatuto, é preciso tornar-se louco. Neste sentido, o cristão diz «eu vou por outro caminho, vou fazer de maneira diferente, considero-me um outsider; no mundo de sábios, quero ser louco».

Vemos esta loucura explicada no Evangelho de Jesus [cf. Artigos relacionados]: se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda; isto é, não acreditar na força da violência, não acreditar na força do mais forte, não acreditar no “olho por olho, dente por dente”.

Se alguém te quiser levar a tribunal, deixa-lhe tudo; se te obrigarem a acompanhar durante uma milha, acompanha durante duas; se te pedem emprestado, dá.

Estas palavras têm, ao mesmo tempo, um sentido literal e um sentido metafórico. Um sentido literal porque a palavra de Cristo é para levar a sério. Eu estou aqui a explicar, mas Deus me livre de alterar uma vírgula. A palavra é esta, e nós temos de nos haver com ela. A palavra de Cristo tem uma literalidade com a qual a nossa vida se há de confrontar sempre, como se fosse a primeira vez; e essa literalidade é que é o sentido definitivo.

Mas estas palavras de Jesus são também uma metáfora para dizer: «sê louco»; «sim, mas eu tinha direito a…» – «faz diferente, faz de outra forma». Isto é, foge às lógicas fechadas: «Ele disse-me aquilo, mas eu respondi-lhe na mesma moeda»; «ele fez assim, então vou agir em consonância».

Sermos capazes de romper os ciclos viciosos, os becos sem saída, o afunilamento das nossas histórias, e tentarmos uma coisa diferente. Em vez de odiar os inimigos, amá-los – isto é, ser capaz do perdão, ser capaz da compaixão, ser capaz de aceitar as humilhações. Santa Teresinha dizia que «muitas humilhações fazem a humildade»; e quando este princípio é bem entendido, é importante para que nos relativizemos, porque isto também nos purifica do ídolo que somos.

Amar aqueles que nos amam – claro; mas também amar aqueles que não nos amam. Ser capaz de outra sabedoria, de uma sabedoria que refunde a ordem das coisas, refunde a nossa história, refunde o próprio mundo.

Se o cristianismo é apenas cultural, é muito pouco. Se somos apenas pessoas sensatas, ponderadas, respeitadas, cumpridoras da lei, que pagamos os impostos e somos bons cidadãos… isto é o mínimo. Não é preciso ser cristão para fazermos essas coisas.

Que coisa é necessária para ser cristão? É preciso fazer um gesto que na sua extravagância, na sua rutura, assinale a diferença de Cristo, o salto qualitativo, o salto de amor que Cristo representa. Há um momento na nossa vida em que só um gesto destes nos pode salvar; há um momento na nossa vida em que só um gesto destes faz a diferença.

O cristianismo nasceu sem nenhuma força. Não tinha a seu lado a força de um pensamento, a força de uma cultura, a força do dinheiro, a força da cidadania… não tinha nada. Tinha apenas a certeza de que somos o lugar sagrado e este chamamento de Jesus a que sejamos loucos, a que sejamos capazes de caminhar contracorrente.

Ou vivemos contracorrente, expressando na nossa vida o que isso significa, numa lógica de amor e dádiva, ou então vivemos um conformismo social e cultural que dilui o cristianismo e o torna um folclore, e não um lugar de redenção e transformação das nossas vidas.

O cristianismo não se faz de massa mas das histórias individuais. Quantos lugares sagrados, que são a vida de cada um de nós, estão aqui?

Vamos pedir que o Espírito nos habite, nos fortaleça, nos dê a certeza do amor de Deus, confirme em nós o amor de Deus, e nos dê a capacidade de arriscar uma outra sabedoria, que muitas vezes é loucura aos olhos do mundo, mas outra coisa não é do que abraçar até ao fundo e até ao fim a cruz do Senhor.

Pe. José Tolentino Mendonça

Redação: SNPC/rjm

 

Clique para ouvir a homilia:

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Janeiro

height=”10″][vc_toggle title=”2014/01/08 – Conversas à Capela – A virtude da Paciência” open=”false”]Paciência com Deus - capa do livro«Estamos habituados a olhar o Evangelho como o mapa que nos descreve o Céu. Menos habituados estaremos em ver também nele a gramática que nos interpreta o mundo. Pois é assim que o Cristianismo surge no discurso de Halík: como justa gramática da vida» (Alexandre Palma)

A próxima sessão das Conversas à Capela terá lugar na Capela do Rato, dia 8 de Janeiro, às 21h30. O tema da conversa é a virtude da paciência, e será debatido a partir das leituras que Ana Vicente (do Movimento Nós Somos Igreja), o padre Alexandre Palma (autor do prefácio do livro) e Rui Medeiros (professor de Direito da Universidade Católica Portuguesa) fizeram do livro Paciência com Deus, de Tomáš Halík (Edições Paulinas, 2013). O encontro inicia-se com pequenas intervenções dos convidados, a que se segue um debate aberto a todos.

Sobre o livro e o autor, pode ler-se aqui uma breve apresentação:

http://www.snpcultura.org/paciencia_com_Deus_resposta_interrogacoes_ateismo.html[/vc_toggle][/vc_tab][vc_tab title=”2013″ tab_id=”1409507060-2-27″]

Dezembro

height=”10″][vc_toggle title=”2013/12/31 – Vigília da Paz” open=”false”]Vigília da Paz na Capela do Rato.[/vc_toggle][vc_toggle title=”2013/12/25 – Advento / Natal 2013″ open=”false”][dt_cell width=”1/2″]

Domingo I do Advento

Domingo I do Advento

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Domingo II do Advento

Domingo II do Advento

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Domingo IV do Advento

Domingo III do Advento

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Domingo III do Advento

Domingo IV do Advento

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Natal do Senhor

Natal do Senhor

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Anjo

Anjo (Crianças)

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Maria

Maria (Crianças)

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José

José (Crianças)

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Estrela

Estrela (Crianças)

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Jesus

Jesus (Crianças)

[/dt_cell][/vc_toggle][vc_toggle title=”2013/12/16 – Crer e pertencer: a sociedade portuguesa no início do século XXI” open=”false”]

[/vc_toggle][vc_toggle title=”2013/12/04 – Família: a leveza e a dificuldade de ser (parte II)” open=”false”]Debate alargado na comunidade da Capela do Rato sobre o Sínodo dos Bispos e o Questionário sobre a Família.

Consulte aqui as respostas ao Questionário.[/vc_toggle] height=”30″]

Novembro

height=”10″][vc_toggle title=”2013/11/28 – A lista de Bergoglio, de Nello Scavo, Paulinas, 2013″ open=”false”]Apresentação do livro por Nello Scavo e José Tolentino Mendonça.

http://www.snpcultura.org/a_lista_de_bergoglio.html

http://www.snpcultura.org/a_lista_de_bergoglio_2.html

aListaDeBergoglio_capa

[/vc_toggle][vc_toggle title=”2013/11/27 – Família: a leveza e a dificuldade de ser (parte I)” open=”false”]Debate alargado na comunidade da Capela do Rato sobre o Sínodo dos Bispos e o Questionário sobre a Família.

Consulte aqui as respostas ao Questionário.[/vc_toggle][vc_toggle title=”2013/11/07 – Os rostos de Jesus, de Duarte Belo e José Tolentino Mendonça, Círculo de Leitores, 2013″ open=”false”]rostosJesus_capelaRato_capaApresentação do livro por Duarte Belo, José Tolentino Mendonça e José Mattoso.

http://www.snpcultura.org/duarte_belo_jose_tolentino_mendonca_revelam_rostos_Jesus.html

www.snpcultura.org/subversivo_ha_2013_anos.html[/vc_toggle][vc_toggle title=”2013/11/06 – Conversas à Capela – A virtude da Esperança” open=”false”]Alexandra – viver com HIV, documentário de Cândida Pinto e João Nuno Assunção.

Cândida Pinto (Jornalista)

Joana Pontes (Documentarista)

Daniel Oliveira (Político e Colunista)

Henrique Joaquim (Comunidade Vida e Paz)

www.snpcultura.org/a_esperanca_e_o_lugar_encontro_todas_crencas.html[/vc_toggle] height=”30″]

Outubro

height=”10″][vc_toggle title=”2013/10/02 – A entrevista ao Papa Francisco – Antonio Spadaro” open=”false”]Com a presença de Antonio Spadaro, o jesuíta que fez a entrevista ao Papa, do Pe. Pedro Rubens, jesuíta brasileiro, e de Francisco Sarsfield Cabral, jornalista.

http://www.broteria.pt/component/content/article/101-entrevista-exclusiva-do-papa-francisco-as-revistas-dos-jesuitas?showall=1[/vc_toggle] height=”30″]

Maio

height=”10″][vc_toggle title=”2013/05/29 – Economia e Solidariedade” open=”false”]Manuela Silva (Economista)

José Tavares (Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa)

Em torno ao livro de Elena Lasida, O Sentido do Outro. A crise uma oportunidade para reinventar laços (Lisboa, Ed. Paulinas, 2013)

http://www.snpcultura.org/economia_solidaria_lugar_para_aprender_interdependencia.html

http://religionline.blogspot.pt/2013/05/o-sentido-do-outro-na-economia.html

oSentidoDoOutro_capa

[/vc_toggle][vc_toggle title=”2013/05/16 – Filme “Lacrau“” open=”false”]João Vladimiro

Inês Gil

Margarida Ataíde

José Tolentino Mendonça

http://www.snpcultura.org/lacrau_filme_premiado_igreja_catolica_no_indielisboa_vai_ser_exibido_capela_rato.html

http://www.snpcultura.org/premio_arvore_vida_indielisboa_distingue_lacrau.html[/vc_toggle] height=”30″]

Abril

height=”10″][vc_toggle title=”2013/04/28 – Retiro Aberto” open=”false”]Retiro Aberto na comunidade da Capela do Rato.[/vc_toggle] height=”30″]

Março

height=”10″][vc_toggle title=”2013/03/25 – Mulheres anunciadas – Sessão de poesia” open=”false”]Alice Vieira

Carminho

Leonor Xavier

Maria Barroso

Maria do Rosário Pedreira

Teolinda Gersão

Carla Chambel

Clea Almeida

Filipa Leal

Maria Teresa Horta

Suzana Borges

http://www.snpcultura.org/capela_rato_acolhe_sessao_poesia_escritoras_portuguesas.html[/vc_toggle][vc_toggle title=”2013/03/20 – “Papa Francisco“” open=”false”]Henrique Monteiro

Leonor Xavier

José Tolentino Mendonça

http://www.snpcultura.org/eleicao_papa_sinal_redencao_nao_vem_com_fausto_mas_com_humildade.html[/vc_toggle][vc_toggle title=”2013/03/17 – Retiro Aberto” open=”false”]Retiro Aberto na comunidade da Capela do Rato.[/vc_toggle][vc_toggle title=”2013/03/14 – Que Caridade para os dias de hoje?” open=”false”]Manuel Forjaz (economista), Henrique Pinto (Revista Cais).[/vc_toggle] height=”30″]

Fevereiro

height=”10″][vc_toggle title=”2013/02/24 – Retiro Aberto” open=”false”]Retiro Aberto na comunidade da Capela do Rato.[/vc_toggle] height=”30″]

Janeiro

height=”10″][vc_toggle title=”2013/01/27 – Retiro Aberto” open=”false”]Retiro Aberto na comunidade da Capela do Rato.[/vc_toggle][vc_toggle title=”2013/01/23 – Encontros à Capela” open=”false”]A Fé, uma questão para crentes e não crentes: à conversa com frei Bento Domingues

Frei Bento e António Marujo (entrevistador)[/vc_toggle] height=”30″][/vc_tab][vc_tab title=”2012″ tab_id=”1409842873028-2-4″]

Dezembro

height=”10″][vc_toggle title=”2012/12/31 – Vigília da Paz” open=”false”]Vigília da Paz na Capela do Rato.[/vc_toggle][vc_toggle title=”2012/12/25 – Advento / Natal 2012″ open=”false”][dt_cell width=”1/2″]

Anjo

Anjo

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Maria

Maria

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[dt_cell width=”1/2″]

José

José

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Estrela

Estrela

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Jesus

Jesus

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Anjo (Crianças)

Anjo (Crianças)

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Maria (Crianças)

Maria (Crianças)

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José (Crianças)

José (Crianças)

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Estrela (Crianças)

Estrela (Crianças)

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Jesus (Crianças)

Jesus (Crianças)

[/dt_cell][/vc_toggle][vc_toggle title=”2012/12/16 – Retiro de Advento” open=”false”]Retiro de Advento na comunidade da Capela do Rato.[/vc_toggle][vc_toggle title=”2012/12/06 – Luís Miguel Cintra lê “A Missa sobre o mundo“, de Teilhard de Chardin” open=”false”]Mais informações em www.snpcultura.org/luis_miguel_cintra_le_missa_sobre_o_mundo.html[/vc_toggle] height=”30″]

Novembro

height=”10″][vc_toggle title=”2012/11/21 – Encontros à Capela” open=”false”]A Fé, uma questão para crentes e não crentes: De que é que duvidam os crentes?

Maria da Glória Garcia (Reitora da Univ. Católica)

João Duque (Presidente do ISEG)

Paula Moura Pinheiro (Jornalista)

http://www.snpcultura.org/nova_reitora_universidade_catolica_portuguesa_capela_rato.html

http://www.snpcultura.org/paula_moura_pinheiro_exercicio_simples_arriscado_expor_duvidas_fe.html

www.snpcultura.org/joao_duque_entre_financa_conviccoes_fe.html[/vc_toggle] height=”30″]

Outubro

height=”10″][vc_toggle title=”2012/10/24 – Encontros à Capela” open=”false”]A Fé, uma questão para crentes e não crentes: Em que é que acreditam os não-crentes?

Maria Filomena Mónica (Socióloga)

Ricardo Costa (Jornalista SIC/Expresso)

Bernardino Soares (Deputado do PCP)[/vc_toggle] height=”30″][/vc_tab][vc_tab title=”2011″ tab_id=”1409842925666-3-10″]

Dezembro

height=”10″][vc_toggle title=”2011/12/31 – Vigília da Paz” open=”false”]Vigília da Paz na Capela do Rato.[/vc_toggle][vc_toggle title=”2011/12/25 – Advento / Natal 2011″ open=”false”][dt_cell width=”1/2″]

Estrela

Estrela

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José

José

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Maria

Maria

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Jesus

Jesus

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Julho

height=”10″][vc_toggle title=”2011/07/14 – “Poéticas do viver crente“” open=”false”]O padre e poeta José Tolentino Mendonça apresenta a nova coleção das Paulinas Editora «Poéticas do viver crente», hoje, às 18h00, na Capela do Rato.

Vão ser lançados dois novos livros dessa coleção: «Atravessar a própria solidão» de Carlos Maria Antunes e «A caridade dá que fazer» de Luciano Manicardi.
O primeiro livro é apresentado por Conceição Moita e o segundo por Manuela Silva e após o lançamento há um concerto pela cravista Cândida Matos.

http://www.snpcultura.org/apresentacao_obras_poeticas_viver_crente.html

http://www.snpcultura.org/atravessar_a_propria_solidao.html

http://www.snpcultura.org/a_caridade_da_que_fazer.html

atravessarPropriaSolidao_capa

aCaridadeDaQueFazer_capelaRato_capa

[/vc_toggle] height=”30″]

Junho

height=”10″][vc_toggle title=”2011/06/22 – Cinema do invisível” open=”false”]”O sabor da cereja”, de Abbas Kiarostami, filme escolhido pelo cineasta João Salaviza, seguido de uma conversa com o mesmo.[/vc_toggle][vc_toggle title=”2011/06/19 – Oração para qualquer domingo” open=”false”]

oracaoQualquerDomingo(Clique sobre a imagem para fazer o download do postal em formato PDF)

[/vc_toggle][vc_toggle title=”2011/06/17 – Pentecostes – Ilda David” open=”false”]Inauguração da obra de Ilda David

Ilda David

Paulo Pires do Vale

www.snpcultura.org/capela_rato_inaugura_obra_ilda_david.html

ildaDavid_pentecostes_capelaRato

[/vc_toggle] height=”30″]

Maio

height=”10″][vc_toggle title=”2011/05/18 – Filmes “Lá illusión te queda“ e “Os milionários“” open=”false”]”Lá illusión te queda”, de Márcio Laranjeira e Francisco Lezama

“Os milionários”, de Mário Gajo de Carvalho

http://www.snpcultura.org/filmes_premiados_igreja_catolica_no_indielisboa_exibidos_hoje.html

http://www.snpcultura.org/la_illusion_te_queda_vence_premio_igreja_catolica_indie_lisboa.html[/vc_toggle][vc_toggle title=”2011/05/10 – Cinzas, Paixão e Luz: Quaresma e Páscoa na Renascença Portuguesa – Concerto” open=”false”]Grupo d’Homini+

Concerto

http://www.snpcultura.org/cinzas_paixao_luz_quaresma_pascoa_renascenca_portuguesa.html[/vc_toggle][vc_toggle title=”2011/05/08 – Cinzas, Paixão e Luz: Quaresma e Páscoa na Renascença Portuguesa – Missa” open=”false”]Grupo d’Homini+

Concerto

http://www.snpcultura.org/cinzas_paixao_luz_quaresma_pascoa_renascenca_portuguesa.html[/vc_toggle] height=”30″]

Abril

height=”10″][vc_toggle title=”2011/04/24 – Postal da Páscoa” open=”false”]

pascoa2011_capelaRato

[/vc_toggle][vc_toggle title=”2011/04/13 – Cinema e Espiritualidade II ” open=”false”]Evangelho segundo São Mateus, de Pier Paolo Pasolini, seguido de debate com Maria José Fazenda (professora de antropologia da Dança), Rita Benis (investigadora na área de Cinema), João Miguel Amaro Correia (arquitecto), moderado por Margarida Avillez Ataíde.

www.snpcultura.org/o_evangelho.html[/vc_toggle][vc_toggle title=”2011/04/05 – Missa Explicada – A Eucaristia de A a Z” open=”false”]Pe. José Tolentino Mendonça[/vc_toggle] height=”30″]

Março

height=”10″][vc_toggle title=”2011/03/26 – “Atravessar a própria solidão“ – Retiro” open=”false”]Retiro aberto de um dia, orientado pelo Fr. Carlos Antunes.

retiroQuaresma2011_capelaRato

[/vc_toggle][vc_toggle title=”2011/03/20 – Luís Miguel Cintra lê o Cântico dos Cânticos” open=”false”]www.snpcultura.org/luis_miguel_cintra_le_cantico_dos_canticos.html

http://www.snpcultura.org/luis_miguel_cintra_e_jose_tolentino_mendonca_apresentam_cantico_dos_canticos.html

www.snpcultura.org/luis_miguel_cintra_le_cantico_dos_canticos_2.html[/vc_toggle][vc_toggle title=”2011/03/16 – Cinema e Espiritualidade I” open=”false”]Pelas Sombras, de Catarina Mourão sobre a obra e a vida de Lourdes de Castro, seguido de debate com a realizadora Catarina Mourão, moderado por Inês Gil (investigadora na área de Cinema).

http://www.snpcultura.org/pcm_pelas_sombras_abre_ciclo_cinema_espiritualidade.html

http://www.snpcultura.org/pelas_sombras_noite_de_oracao_na_capela_do_rato.html

http://www.snpcultura.org/catarina_mourao_o_cinema_e_janela_para_transcendencia.html

http://www.snpcultura.org/pcm_pelas_sombras_delicado_inconvencional.html

http://www.snpcultura.org/id_lourdes_castro.html

http://www.snpcultura.org/pcm_pelas_sombras_luz_e_transparencia.html

http://www.snpcultura.org/pcm_pelas_sombras.html[/vc_toggle][vc_toggle title=”2011/03/09 – Quaresma 2011″ open=”false”]Fazer Quaresma para arriscar a Páscoa.

quaresma2011_capelaRato

[/vc_toggle] height=”30″]

Fevereiro

height=”10″][vc_toggle title=”2011/02/21 – Apresentação do livro “A palavra que leva ao silêncio“” open=”false”]A palavra que leva ao silêncio, John Main, Pedra Angular, 2011

Apresentação do livro pelo Pe. Laurence Freeman

http://www.snpcultura.org/vol_a_palavra_que_leva_ao_silencio.html

http://www.snpcultura.org/meditacao_aprender_estar_silencio.html

http://www.snpcultura.org/meditacao_o_mantra.html

http://www.snpcultura.org/meditacao_sermos_restituidos_a_nos_proprios.html

aPalavraQueLevaAoSilencio2011_capelaRato

[/vc_toggle] height=”30″][/vc_tab][vc_tab title=”2010″ tab_id=”1412171069373-4-2″]

Dezembro

height=”10″][vc_toggle title=”2010/12/31 – Vigília da Paz” open=”false”]Vigília da Paz na Capela do Rato.[/vc_toggle][vc_toggle title=”2010/12/25 – Advento / Natal 2010″ open=”false”][dt_cell width=”1/2″]

Estrela

Estrela

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José

José

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Maria

Maria

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Anjo

Anjo

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Manjedoura

Manjedoura

[/dt_cell][/vc_toggle][vc_toggle title=”2010/12/11 – Dia de Retiro de Advento” open=”false”]Retiro em Alfragide[/vc_toggle][vc_toggle title=”2010/12/10 – Inauguração da obra “Anjo de Berlim“ ” open=”false”]Inauguração da obra “Anjo de Berlim” de Lourdes Castro e Manuel Zimbro, obra elaborada naquela cidade alemã, no Natal de 1978 e que ganha agora nova configuração.

O escritor Almeida Faria, que conviveu com os artistas nessa época, junta-se a Lourdes Castro e ao Pe. José Tolentino Mendonça na noite da inauguração para uma conversa rara e imperdível.

inauguracaoAnjoBerlim_capelaRato

[/vc_toggle][vc_toggle title=”2010/12/10 – Postal “Anjo de Berlim“ ” open=”false”]

natal2010_oAnjo_postal_capelaRato(Clique na imagem para download do postal em versão PDF)

natal2010_oAnjo_convite_capelaRato

(Clique na imagem para download do convite em versão PDF)

[/vc_toggle] height=”30″]

Novembro

height=”10″][vc_toggle title=”2010/11/27 – Advento 2010″ open=”false”]

advento_2010_capelaRato

[/vc_toggle][vc_toggle title=”2010/11/25 – Lançamento do disco “Vento“” open=”false”]Lançamento do disco “Vento”, com a gravação da Missa de Pentecostes composta por João Madureira para a Capela do Rato e interpretada pelo consort de música antiga e contemporânea Sete Lágrimas. A apresentação do projecto contará com a presença de D. Carlos Azevedo (bispo da diocese de Lisboa), Filipe Faria e Sérgio Peixoto (Sete Lágrimas), de Manuel Pedro Ferreira (musicólogo), de Cristiana Vasconcelos Rodrigues ( professora da Universidade Aberta) e de João Madureira (compositor).

www.snpcultura.org/pcm_vento_missa_pentecostes_joao_madureira.html

http://www.snpcultura.org/missa_pentecostes_joao_madureira_estreia_se_em_concerto.html

http://www.snpcultura.org/missa_pentecostes_joao_madureira_sete_lagrimas_pura_beleza.html

lancamentoCD2010capelaRato

[/vc_toggle][vc_toggle title=”2010/11/07 – Apresentação do livro “À procura das raízes hebraicas da fé cristã“” open=”false”]”À procura das raízes hebraicas da fé cristã”, de Nicoletta Crosti, Paulinas, 2010.

Apresentação do livro pelo Pe. José Tolentino Mendonça.

aProcuraDasRaizesHebraicas_capa

[/vc_toggle] height=”30″]

Outubro

height=”10″][vc_toggle title=”2010/10/31 – Luís Miguel Cintra lê o Eclesiastes” open=”false”]www.snpcultura.org/vol_luis_miguel_cintra_todo_o_artista_e_pregador.html

www.snpcultura.org/vol_luis_miguel_cintra_eclesiastes.html

www.snpcultura.org/pedras_angulares_luis_miguel_cintra_eclesiastes_2.html

www.snpcultura.org/pedras_angulares_luis_miguel_cintra_eclesiastes_3.html

luisMiguelCintra_eclesiastes2010_capelaRato

[/vc_toggle][vc_toggle title=”2010/10/11 – Diálogo em tempo de escombros” open=”false”]D. Manuel Clemente e José Manuel Fernandes em Diálogo.

http://www.snpcultura.org/vol_dialogo_em_tempo_de_escombros.html

www.snpcultura.org/vol_dialogo_em_tempo_de_escombros_ao_vivo_1.html

www.snpcultura.org/vol_dialogo_em_tempo_de_escombros_ao_vivo_2.html

www.snpcultura.org/vol_dialogo_em_tempo_de_escombros_ao_vivo_3.html

www.snpcultura.org/vol_dialogo_em_tempo_de_escombros_ao_vivo_4.html

http://www.snpcultura.org/vol_dialogo_em_tempo_de_escombros_ao_vivo_5.html

dialogoEmTempoDeEscombros

[/vc_toggle] height=”30″]

Julho

height=”10″][vc_toggle title=”2010/07/04 – Apresentação do livro “A profundidade dos sexos“” open=”false”]”A profundidade dos sexos”, de Fabrice Hadjadj, Paulinas, 2010.

Apresentação do livro por José Tolentino Mendonça.

http://www.snpcultura.org/vol_a_profundidade_dos_sexos.html

aProfundidadeDosSexos_capa

[/vc_toggle][vc_toggle title=”2010/07/01 – Postal “Rezar as nossas férias“” open=”false”]

rezarAsNossasFerias2010_capelaRato

(Clique na imagem para fazer download do postal em versão PDF)

[/vc_toggle] height=”30″]

Junho

height=”10″][vc_toggle title=”2010/06/26 – Luís Miguel Cintra lê o Apocalipse” open=”false”]http://www.snpcultura.org/vol_apocalipse_luis_miguel_cintra.html

www.snpcultura.org/pcm_luis_miguel_cintra_leu_livro_apocalipse.html[/vc_toggle] height=”30″]

Maio

height=”10″][vc_toggle title=”2010/05/23 – Diálogo Arte Contemporânea e Sagrado” open=”false”]Missa de Pentecostes

Apresentação da obra de João Madureira

www.snpcultura.org/pcm_capela_rato_estreou_missa_pentecostes.html

missaPentecostes2010_capelaRato(Clique na imagem para fazer o download do programa em versão PDF)

[/vc_toggle][vc_toggle title=”2010/05/05 – Diálogo Arte Contemporânea e Sagrado” open=”false”]Sem árvores não se pode falar de árvores

Inauguração da obra de Gabriela Albergaria

Gonçalo M. Tavares

Vera Cortês

José Tolentino Mendonça

www.snpcultura.org/pcm_capela_rato_gabriela_albergaria.html

http://www.snpcultura.org/arquivo_umbrais_2.html#2010_05_09

arteContemporaneaSagrado_2010_capelaRato

(Clique na imagem para saber mais)

[/vc_toggle][vc_toggle title=”2010/05/02 – Adília Lopes – leitura de poemas” open=”false”]www.snpcultura.org/pcm_poesia_antes_da_missa.html[/vc_toggle] height=”30″]

Março

height=”10″][vc_toggle title=”2010/03/27 – Retiro” open=”false”]Um dia de retiro com os escritos da Etty Hillesum[/vc_toggle][vc_toggle title=”2010/03/18 – Deus: questão para crentes e não-crentes” open=”false”]Assunção Cristas

Pedro Adão e Silva

Henrique Raposo

www.snpcultura.org/pcm_pedro_adao_silva.html

www.snpcultura.org/pcm_para_uma_cultura_da_cordialidade.html

[/vc_toggle][vc_toggle title=”2010/03/11 – Deus: questão para crentes e não-crentes” open=”false”]Alberto Vaz da Silva

Ricardo Araújo Pereira

www.snpcultura.org/pcm_alberto_vaz_silva.html

www.snpcultura.org/pcm_Deus_e_uma_questao_para_todos.html

www.snpcultura.org/pcm_ricardo_araujo_pereira.html

[/vc_toggle] height=”30″]

Fevereiro

height=”10″][vc_toggle title=”2010/02/26 – Diálogo Arte Contemporânea e Sagrado” open=”false”]Quando o Segundo Sol Chegar

Inauguração da obra de Rui Moreira

http://www.snpcultura.org/pcm_capela_rato_abre_dialogo_arte_contemporanea_sagrado.html

www.snpcultura.org/pcm_quatro_artistas_na_capela_do_rato.html

arteContemporaneaSagrado_2010_capelaRato_convite(Clique na imagem para ver o convite em versão PDF)

[/vc_toggle] height=”30″][/vc_tab][vc_tab title=”2009″ tab_id=”1412172152788-5-5″]

Dezembro

height=”10″][vc_toggle title=”2009/12/31 – Vigília da Paz” open=”false”]Vigília da Paz na Capela do Rato[/vc_toggle][vc_toggle title=”2009/12/25 – Advento / Natal 2009″ open=”false”]

postaisNatal2009_capelaRato_noticia

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Maria

Maria (Postal)

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José

José (Postal)

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Estrela

Estrela (Postal)

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Manjedoura

Manjedoura (Postal)

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Maria

Maria (Cartaz)

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José

José (Cartaz)

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Estrela

Estrela (Cartaz)

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Manjedoura

Manjedoura (Cartaz)

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[/vc_toggle] height=”30″][/vc_tab][/vc_tabs][/vc_column]”1/3″] height=”5″][vc_single_image image=”12899″ img_link_target=”_self” img_size=”373×200″ img_link=”https://www.capeladorato.org/o-fio-da-palavra/”] height=”30″][vc_single_image image=”12900″ img_link_target=”_self” img_size=”373×200″ img_link=”https://www.capeladorato.org/celebracoes/”]