Publica-se a síntese final da segunda fase do caminho sinodal, elaborada a partir das propostas dos grupos de oração, reflexão e partilha da Comunidade da Capela do Rato. Publica-se também a proposta de instituição de um ministério de inclusão para as pessoas com deficiência, elaborada a partir da reflexão e da experiência de um grupo da Comunidade.
REFLEXÃO SINODAL DA COMUNIDADE DA CAPELA DO RATO
A história da Capela do Rato na sua relação com a sociedade portuguesa enquadra-se na missão de uma Igreja que escuta, acompanha e onde “todos, todos, todos” têm lugar, como referiu o Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude de 2023. Assim, na reflexão sobre o documento da Assembleia dos Bispos de Outubro de 2023, existiram 3 pontos sobre os quais se debruçou esta Comunidade: os pontos 4, 14 e 16.
Ponto 4. Os pobres, protagonistas do caminho da Igreja
A Igreja deve combater a pobreza e ter presente todas as suas formas: a pobreza da Terra e da escassez de recursos resultante da utilização abusiva (cf. Laudato Si); a enorme desigualdade de oportunidades na sociedade portuguesa e no mundo, que gera mais pobreza material e menos acesso à educação e à formação; e as pessoas em situações de precaridade – imigrantes, idosos, com deficiência, com ausência de sentido para a vida, ou em solidão.
A Comunidade propõe-se:
- Fomentar e contribuir para a partilha de dons e de recursos entre as várias comunidades cristãs;
- Articular-se com instituições da Igreja, do Estado e da Sociedade Civil que já estejam no terreno com atuação nestas vertentes, somando contributos e inspirando os seus membros a integrar ações concretas de erradicação da pobreza;
- Pensar a superação das formas de pobreza, de solidão e de falta de acesso a formação através de processos alargados de escuta e acompanhamento concreto de casos;
- Desenvolver com criatividade formas de integração dos pobres na Comunidade;
- Mobilizar-se para o conhecimento e a aplicação da Doutrina Social da Igreja, promovendo os princípios do Bem-Comum, da Dignidade da pessoa humana, da Solidariedade e Subsidiariedade.
Ponto 14. Uma abordagem sinodal à formação
A Comunidade tem assistido, com preocupação, ao aparecimento de expressões rituais no contexto eclesial, inclusive diocesano, de forma mais ou menos discreta, contrárias ao espírito e à forma da Missão da Igreja nos nossos tempos, não consentâneas com o Concílio Vaticano II nem com o magistério do Papa Francisco.
A Comunidade considera que a formação dos candidatos ao ministério presbiteral deve ser revista, de modo a incluir uma maior partilha com as comunidades e maior proximidade com a sociedade. Os futuros pastores devem ser formados para a corresponsabilidade/sinodalidade, para que possam estar aptos a ajudar os leigos e as comunidades cristãs a ler os sinais dos tempos, de forma aberta e positiva. Considera também que a formação e o exercício do diaconado permanente devem ser revistos, sem excluir a ordenação de mulheres.
Ponto 16. Por uma Igreja que escuta e acompanha
É um carisma da Capela do Rato anunciar a Boa Nova a todos, respeitando a diversidade e a individualidade; escutar, acolher e dialogar com quem se sentir excluído. Na Igreja, a mesa acolhe todos na sua diversidade, consciente de que todas as vidas são singulares, irrepetíveis e valiosas.
A Comunidade propõe-se:
- Conhecer melhor os seus membros (valências, formação e níveis de disponibilidade), através da realização de inquéritos;
- Criar condições para que as pessoas sem coragem ou possibilidade de falar sejam escutadas e prestar especial atenção aos recém-chegados através de gestos concretos de acolhimento. Importa manter um discurso que, sem julgar, aluda à normalidade que se impõe a pessoas e grupos com menor representação na Igreja, e às suas circunstâncias, devendo o seu acolhimento ser incondicional;
- Investir tempo para criar na Capela um espaço de escuta e diálogo aberto a todos, no espírito histórico da Capela do Rato – interventivo, atual, resistente e pertinente;
- Reforçar a divulgação dos serviços, iniciativas e grupos já existentes no seu seio.
Na perspetiva de uma Igreja menos hierarquizada, mais corresponsável e participativa, na qual mulheres e homens colaboram de modo equitativo, em paridade, e onde todos os membros do Povo de Deus sejam ativos e atuantes, considera-se transversalmente que:
- As celebrações litúrgicas são uma ocasião privilegiada para cultivar o acolhimento e acompanhamento de todos. Na inabalável fidelidade à reforma do Concílio Vaticano II e à necessidade de que a liturgia seja viva e acompanhe a cultura, importa uma reflexão permanente sobre a Comunidade, criando formas de participação como as petições das orações dos fiéis redigidas por diferentes pessoas da mesma.
- Existe a necessidade de que a voz dos leigos, homens e mulheres, esteja presente nos comentários aos textos sagrados, nomeadamente a possibilidade de partilha pública da Palavra nas celebrações.
- O Conselho da Comunidade, na vida da Capela do Rato, é chamado a ter um papel efetivo de reflexão, escuta e decisão partilhadas, assegurando a realização bi-anual de uma Assembleia Sinodal.
Por fim, partilha-se que a Capela do Rato se debruçou igualmente sobre a inclusão das pessoas com deficiência. Nesta dimensão, a Comunidade tem dado passos concretos, nomeadamente através da existência de uma Acólita nessa condição. Contudo, mais passos precisam ser dados, propondo-se, nesse sentido, a instituição, na vida da Igreja, de um Ministério de Inclusão da Pessoa com Deficiência (cf. reflexão de um dos grupos sinodais da Capela do Rato, aprovada em Assembleia Sinodal).
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