Já está disponível a gravação da primeira sessão do ciclo de conversas com Maria João Avillez – “E Deus em nós?”. O convidado foi Sebastião Bugalho.

Está também disponível a saudação inicial a este ciclo de conversas, feita pelo capelão, Pe. António Martins.

Quando somos devorados pelas violentas imagens de horror e de crueldade, pelo caos devastador da guerra, pela morte, sofrimento e desalojamento de milhares de pessoas, sobretudo crianças indefesas, não parecerá alienante falar de espiritualidade e de beleza? Quando todos os lugares das nossas seguranças parecem ruir diante dos nossos olhos, quando parece triunfar a hybris da barbárie, precisamos de convocar a raiz de uma esperança que possa ser chama na desolação dos dias que correm. Mais do que nunca, no presente, precisamos de beleza para reinventar o sentido do nosso quotidiano árido. É urgente convocar um excedente de sentido, a que chamamos Deus, ou fé, ou crença, para motivar a nossa cidadania, a nossa corresponsabilidade política, a nossa liberdade criativa, a nossa resistência ativa. Precisamos de convocar esses «lugares» em que o humano se transcende: a política, a ética, a estética, a compaixão, o cuidado, a arte, a literatura, a música.

Aqui nos reúne um ciclo de quatro conversas informais, soltas, livres, de Maria João Avillez acolhendo personalidades com responsabilidade pública em mais diversas áreas. Cada pessoa que por aqui vai passar é ela própria um lugar de diálogo entre fé e cultura, presença laical nos diversos sectores da organização social e cultural. Em tempo de processo sinodal, é o sentir dos crentes que aqui também se testemunha, em seu «ministério» de criatividade artística, de gestão pública, de cidadania inspirada. «A fé ilumina a criatividade ou transtorna-a?», é a pergunta que se coloca. Que responsabilidade cívica pode ter um criador que se reconhece crente, ou inspirado no humanismo cristão?

Estas «conversas», «E Deus em nós?», foram surgindo da conversa com a Maria João Avillez, passo a passo, há quase um ano. A oportunidade da sua concretização só poderia ser após as JMJ. Tínhamos, desde o início, pensado em relacionar espiritualidade e beleza. A festa, a alegria, o excesso, a beleza das celebrações da JMJ confirmaram a nossa ideia inicial. Não poderíamos deixar de convocar aqui protagonistas e organizadores desse intenso acontecimento que nos fez vibrar e sentir felizes. Agradeço, desde já, a generosidade e o testemunho do Sebastião Bogalho, a iniciar a conversa, sem mãos a medir na interpretação e perspetivação dos inesperados acontecimentos políticos entre nós; de Matilde Trocado, de David Lopes, de Martim Sousa Tavares e de Ilda David, tão ligada à renovação estética desta Capela. É mais uma parceria da Capela do Rato com a Rádio Renascença que a todos nos honra, com a assistência técnica da jornalista Ana Catarina André. O meu muito obrigado.

Maria João Avillez, que todos bem conhecemos, dispensa apresentações. É da casa. Nesta Capela do Rato, em novembro de 2015, com o então capelão P. Tolentino, Maria João convocou e conversou com personalidades públicas sobre Deus, experiência crente no espaço público, inspiração estética, ética e cívica. De novo aqui volta, neste ciclo de conversas. Maria João tem aquela arte delicada de convocar o melhor das pessoas, sem ser invasiva, deixando-lhes inteira liberdade para se narrarem. Há nela uma paixão pelo humano, a capacidade de possibilitar a narração da própria vida. E isso não acontece sem uma profunda empatia e delicadeza. Todos bem sabemos que até o Papa Francisco se rendeu à sua delicada e serena arte de entrevistar. Que talento, que sabedoria, que graça!

A minha gratidão pela sua presença e generosidade; pelo seu serviço a esta Comunidade da Capela do Rato. 

P. António Martins