A paz é grito que brota das entranhas da nossa comum humanidade e do mais profundo da experiência cristã. Porque a paz (Shalom) é a plenitude dos dons de Deus, desejada, procurada e exercitada por aqueles e aquelas que nele acreditam: «Por amor de meus irmãos e amigos, pedirei a paz para ti» (Sl 122,6). No atual contexto dilacerante do horror da guerra e na celebração dos 50 anos da vigília de jejum e oração pela paz e contra a guerra colonial na Capela do Rato, a proposta orante do nosso itinerário para o Advento está marcada pela urgência da paz.
Privilegiamos as leituras do livro do Profeta Isaías que, domingo após domingo, nos oferecem, com forte carga poética e imaginativa, a promessa de um tempo futuro (o tempo messiânico) marcado pela paz e pela reconciliação entre inimigos. Num tempo em que Israel foi marcado pela devastação de invasões estrangeiras e pela ambiguidade de alianças políticas, a profecia de Isaías consola e fortalece a esperança resistente do Povo de Deus. O mais belo sinal de paz e de futuro será a promessa da jovem grávida em cujas entranhas Deus reconstrói e renova a história: «A virgem/a jovem conceberá e dará à luz um filho» (Is 7,14).
Em cada domingo do Advento, uma passagem de Isaías inspira a criação iconográfica da jovem Madalena Hörnig e a oração que em comunidade será proclamada. O texto de cada oração faz eco de palavras de papas recentes a convocar homens e mulheres de boa vontade para a difícil e urgente construção da paz. Projeto político de convivência humana, a paz começa pelo «desarmamento» dos corações. Com as palavras do monge trapista norte-americano Thomas Merton, um contemplativo ativamente comprometido pela paz, «se amas a paz, então odeia a injustiça, odeia a tirania, odeia a avidez – mas odeia esta coisas em ti, e não no próximo».
