Queridos Irmãos
Neste tempo gradual de desconfinamento, vamos recomeçar, no próximo fim de semana, Solenidade do Pentecostes, as celebrações comunitárias da eucaristia na Capela do Rato. Levará tempo até retomarmos uma serena vida comunitária, sem o cumprimento de regras de higienização e de distanciamento.
Após esta forte experiência forçada de confinamento, regressaremos alterados, mudados por dentro e por fora. Já não seremos os mesmos, nem em número nem na qualidade e intensidade das nossas experiências e relações. Havemos de encontrar modo de narramos uns aos outros o que aprendemos, em que fomos mudados, e fazermos disso uma nova riqueza comunitária. O Espírito que faz novas todas as coisas, a isso nos inspire e motive.
Neste tempo de recomeço precisamos de ativar, cada um por si, duas virtudes cristãs: a coragem e a prudência. Precisamos de um suplemento de coragem para vencer o medo e retomarmos, pouco a pouco, o tecido das nossas relações e sociabilidades. Nunca nos esqueçamos que o evangelho é um permanente apelo a «não temais». Viver é sempre arriscado, e a vida é um permanente bem ameaçado.
À coragem, para sair do nosso confinamento, juntamos a prudência, mantendo, agora, na vida das nossa Comunidade o necessário distanciamento físico. Precisamos todos de praticar, em contexto celebrativo, um rigoroso cuidado pela vida uns dos outros. As práticas sanitárias e de higienização que todos vamos fazer (entradas e saídas da Capela distanciadas e controladas, assentos distanciados 2m, higienização das mãos, uso de máscara, ausência de contactos físicos), mais do que normas impostas, são condições necessárias para podermos celebrar em comunidade. São expressão de solidariedade cívica e de caridade cristã.
O elemento de maior incomodo vai ser o uso de máscara. Vamos fazer uma experiência de profunda estranheza que, de certo modo, nos vai ferir. A via cristã é uma permanente celebração e exaltação da singularidade da pessoa «imagem de Deus». Em sua frágil nudez, o rosto é a revelação do mistério da nossa singularidade. O rosto nos revela, nos apela e nos convoca à nossa comum humanidade. Celebrarmos com a cara tapada é uma imperiosa necessidade, mas também em contradição com o que queremos ser: autenticidade de uma presença com identidade pessoal.
Enquanto pastor da Comunidade, dói-me que irmãos e irmãs mais vulneráveis, por por motivo de doença ou por idade, permaneçam, por enquanto, privados da vida comunitária. Não podermos contar com o dom da sua presença, da sua experiência e da sua sabedoria é para todos nós um empobrecimento que nos custa. Bem sabemos que continuamos em comunhão orante para além do espaço comum não partilhado. A pensar nestes queridos irmãos e irmãs que não poderão estar fisicamente connosco, continuaremos a transmitir on line a eucaristia ao domingo.
Cada pessoa é responsável pela sua própria saúde e pela saúde dos outros. A decisão de participar na eucaristia será sempre da própria, avaliando o seu presente estado de saúde. «Pede-se aos fiéis que estão ou se sentem doentes que não vão à Missa»; «Convidam-se fiéis pertencentes a grupos de risco a não frequentar a Missa dominical», pedem-nos os nossos Bispos (texto das Orientações da Conferência Episcopal Portuguesa). Nos grupos de riscos incluem-se doentes oncológicos, cardíacos e com deficiência respiratória. Mas sempre que uma pessoa sinta febre, tosse, dores musculares abstenha-se de participar na eucaristia.
Para permitir a participação de um maior número de pessoas, passam a ser celebradas duas eucaristias: uma vespertina ao sábado, às 19h, e a habitual de domingo, às 11h.30. Em cada celebração só será possível acolher 40 pessoas. Para melhor controle das presenças, foi criada no site da Capela uma janela para se fazer a inscrição prévia. Assim se evitar recusar alguém à entrada. Prevê-se que as famílias se possam inscrever em conjunto. Pede-se também que a participação seja alternada, de quinze em quinze dias.
Recomeçamos condicionados. Condicionados pelas circunstâncias, mas querendo permanecer fiéis à identidade própria da Capela do Rato. A nossa habitual dimensão de proximidade afetiva, de contacto corpóreo permanece adiada. No momento presente, vamo-nos cumprir, no possível, como comunidade responsável e cooperativa. Não sabemos como aplicar regras que nunca experimentamos. Vamos hesitar, vamos errar, vamos recomeçar. E com o contributo de cada um e de cada uma vamos aprender a celebrar com a inédita «liturgia covid 19».
Até breve
P. António Martins