Admonição inicial
A comunidade da Capela do Rato é hoje o lugar de acolhimento e encontro dos amigos, crentes e não-crentes, aqui reunidos, para recordar e rezar com e pela Manuela e dar graças pela sua vida cheia que tanto apreciava.
A Manuela com o seu jeito especial de ser e a multiplicidade dos seus talentos, que soube pôr a render, permanece em nós como Profeta de um outro modo de viver, de conviver, de analisar os problemas sociais, económicos e políticos, e de procurar soluções, mesmo quando tal parecia impossível.
Era uma Mulher de Esperança. Não desistia, nem das pessoas, nem das causas em que se envolvia e nos comprometia.
Ancorada numa sólida experiência de Fé, era por isso na Igreja, também uma “fundadora” à maneira de Teresa d’Ávila dos nossos dias, nas múltiplas iniciativas para mudar o modo de ser Igreja, mais fraternal e menos piramidal, mais ecológica, dando voz às mulheres e às periferias excluídas de que fala o Papa Francisco.
Deixou-nos alertas importantes sobre o tipo de economia que a Universidade Católica tem promovido. Já não vai poder participar no encontro sobre economia que o Papa convocou, na linha do que a Manuela sempre trabalhou.
Aqui juntos e em conjunto, renovamos o compromisso de continuar os empenhamentos que anunciou e concretizou e nos deixou como legado, e lutar por uma economia, pelo e com o ser humano, só possível, com equidade, justiça, solidariedade, paz e sustentabilidade desta Casa Comum que é nosso mundo, uno e inteiro, e assim o devemos preservar.
Finalmente, afirmamos, bem alto, que a Manuela deve estar, muito contente, pelo facto de, hoje mesmo, ter sido atribuído o Prémio Nobel da Economia a três empenhados investigadores, pelo seu trabalho sobre a pobreza, trabalho que não é feito, apenas, nos gabinetes, mas, também na terra onde estão os injustiçados.
(Texto de Alfreda Ferreira da Fonseca e Manuel Brandão Alves)
Oração dos Fiéis
– Reuniste-nos aqui hoje, Senhor, porque nos deste a graça de sermos próximos de Manuela Silva que chamaste para ti e agora te conhece face a face. Damos graças pelo dom da sua vida, acolhe-a como filha amada que retorna à casa do Pai. Ajuda-nos a sermos fiéis às causas a que se entregou. Oremos juntos.
– Seguindo o exemplo da Manuela, lembramos todas as pessoas que, crentes e não crentes, profetas de um mundo novo, ousam percorrer desde já os caminhos da justiça e da paz. Oremos juntos.
– Por toda a Igreja de Jesus Cristo, diversa e una na fé, para que cada dia e em cada lugar, busque o caminho da perfeição no maior dos dons: o amor. Oremos juntos.
– Pelos Pastores que na Igreja procuram mostrar o rosto de Deus, o Papa Francisco, o nosso Patriarca Manuel e todos os que anunciam o evangelho por palavras e obras. Oremos juntos.
Textos de Manuela Silva lidos no final da eucaristia
Felizes os que reconhecem o Amor na sua vida e acreditam n’ Ele,
porque só o amor é gerador de vida.
Felizes os que vivem o dom da confiança,
porque possuem, em permanência, uma fonte de serenidade.
Felizes os que estão atentos aos sinais portadores de futuro,
porque são construtores do Reino de Verdade, de Justiça e de Paz.
Felizes os que cuidam da Criação,
porque tomam parte na Obra criadora de Deus.
Felizes os que têm um coração compassivo,
porque suavizam a vida.
Felizes os que se deixam conduzir pelo Espírito,
porque conhecerão a liberdade interior.
Felizes os que são fiéis a si mesmos e guardam a sua inteireza,
porque neles se revela a presença inefável de Deus.
Felizes os que semeiam a alegria,
porque a alegria é uma janela aberta para a esperança.
Felizes os que se empenham na construção da justiça e da paz,
porque estão ao serviço do projecto de Deus e do bem da Humanidade.
Felizes os que são capazes de aceitar as várias situações de morte,
porque as vêem como germens de vida.
Felizes os que amam o Belo e nele se reveem,
porque transportam consigo o olhar amoroso de Deus sobre a criação.
(https://fundacao-betania.org/os-estranhos-caminhos-da-felicidade/)
Vidas luminosas*
Há pessoas cuja presença é, por si mesma, um feixe de luz que irradia, tanto para os lugares onde habitam como para as outras pessoas à sua volta. São pessoas com quem nos sentimos bem. Delas nos vem inspiração e energia para conduzirmos a nossa própria vida. Com elas, intuímos realidades que estão para além daquelas que os nossos olhos vêem ou as nossas mãos tocam. Junto delas nos sentimos como gente que é reconhecida, acolhida e amada.
Pergunto-me porque assim sucede. Donde vem este dom? Qual a fonte escondida de uma tal energia?
Em cada ser humano uma centelha de luz existe sempre, mas por vezes quase parece ter-se apagado, tão enterrada foi pelos cuidados terrenos e tão desviada do foco se encontra, por força de critérios que não são de vida verdadeiramente humana, mas sim produtos de ilusão e das múltiplas idolatrias que abundam nos mercados da cultura contemporânea.
Quem soube vencer as barreiras do materialismo, do hedonismo e do individualismo e ousou saltar os muros do seu egoísmo ao encontro do amor deixou que a centelha de luz que o habita se atiçasse, passou da noite à luz e conheceu o amor.
Quem deixou que a razão e as suas emoções se transfigurassem pela força impulsionadora do amor criativo e zeloso do bem passou da morte à vida e entrou na luz que irradia, aquece e comove, a luz que, silenciosa e misteriosamente, faz avançar a história.
Estas pessoas existem. Conheci e conheço algumas pelos seus nomes próprios, tenho de memória os seus rostos e maneiras e posso testemunhar que a sua presença me foi bem mais imprtante que os muitos livros que fui lendo. É que o testemunho de uma vida luminosa vale muito mais que mil palavras, por mais sábias que estas sejam.
O nosso mundo precisa de vidas luminosas, que brilhem nos locais de trabalho, nas escolas, nas instituições, nos serviços públicos, nos media, nas instâncias de decisão política ou, simplesmente, nos olhares que se cruzam nas ruas das nossas cidades e aldeias.
[…]
Maio 2009
[Manuela Silva, Ouvi do Vento, Pedra Angular, 2009, 192-193]
Sites onde foram publicadas justas referências ao percurso de vida de Manuela Silva
Notícia da Ecclesia: https://agencia.ecclesia.pt/portal/igreja-sociedade-manuela-silva-recordada-pelo-seu-compromisso-social/
No jornal on line Sete Margens, texto escrito por António Marujo: https://setemargens.com/manuela-silva-gostei-de-viver/