Está disponível para visionamento o Solene Pontifical de Ordenação Episcopal de Dom José Tolentino Mendonça, bem como o texto com as suas palavras no final da Celebração e notícias da Agência Ecclesia a propósito do acontecimento.
Discurso de Dom José Tolentino Mendonça
Cerimónia de Ordenação Episcopal
Mosteiro dos Jerónimos
28 de julho de 2018
Senhor Presidente da República, Excelência,
Agradeço muito a vossa presença, que me comove muito, porque representa, não só um ato de amizade e deferência para comigo, um português, mas também para honrar uma história de relação entre a nação portuguesa e a Santa Sé, uma história multissecular, de amizade – e que agora vive também esta página interessante de ter mais um português ao serviço da Santa Sé.
Agradeço também a sua presença, que tomo como uma especial deferência para o serviço para o qual o Santo Padre, o Papa Francisco, me nomeou: o Arquivo Secreto e a Biblioteca Apostólica da Santa Romana Igreja.
Quero saudar o Senhor Patriarca, Dom Manuel Clemente, a quem conheci há tantos anos, ainda como Padre Manuel Clemente e que desde então como Bispo Auxiliar de Lisboa, como Bispo do Porto, como Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, dos Bens Culturais e das Comunicações Sociais da Igreja, como Patriarca de Lisboa, como Magno-Chanceler da Universidade Católica. Tantos títulos, tantas possibilidades de estabelecer com ele uma relação, de conhecer, apreciar e inspirar-me no seu estilo de Pastor, na sua inteligência e no seu coração sempre amigo.
Por isso, quando o Santo Padre me disse que eu podia ser ordenado por qualquer Bispo Católico, onde quisesse, eu percebi que só podia ser pelas suas mãos, querido Dom Manuel Clemente.
Saúdo também Sua Eminência Dom António Marto, a quem me ligam laços de grande admiração, por ele, pelo seu percurso, pela sua inteligência, por aquilo que ele representa – mas também pela palavra que o Santo Padre lhe disse há pouco tempo: que ele representa na sociedade portuguesa e no coração da Igreja, o carinho de Nossa Senhora, Nossa Senhora de Fátima.
A minha mãe chama-se Fátima e Fátima foi também o primeiro nome que eu conheci de Nossa Senhora. Por isso, associá-lo a esta Ordenação é também entregar todo o meu Ministério aos pés de Nossa Senhora de Fátima.
Queria também saudar o Senhor Dom Teodoro de Faria, que há 28 anos me ordenou Padre, e pela primeira vez enviou aquele jovem, ainda estudante de Teologia, para o Colégio Português em Roma e para o Instituto Bíblico, para formar-se em Ciências Bíblicas.
Agradeço-lhe, Senhor Dom Teodoro, a primeira Ordenação, agradeço-lhe também esta segunda, e agradeço-lhe aquilo que representa aqui neste Mosteiro dos Jerónimos: a minha Diocese de origem, a Diocese do Funchal e todo o seu clero e todo o povo de Deus, onde eu comecei o meu Ministério como Pastor, a que me ligam tantos laços inapagáveis de gratidão.
Em si, Senhor Dom Teodoro de Faria, na sua pessoa, também quero saudar o Senhor Dom António Carrilho que não pode estar aqui presente por compromissos inadiáveis, mas que nestes dias tem manifestado intensamente a sua presença, a sua amizade e a sua comunhão.
Em si saúdo, por isso, todo o povo querido do arquipélago da Madeira e do Porto Santo.
Queridos Irmãos Bispos, comoveu-me muito o número da presença, as mensagens que mandaram, o sacrifício que sei que muitos de vós fizestes para estar aqui presente neste último sábado de julho. É um sinal de comunhão da Igreja portuguesa, à qual eu pertenço e de que vós sois os representantes. E receber pelas vossas mãos o Ministério Episcopal é para mim alguma coisa que me fortalece e me inspira.
Por isso, o vosso sentido profundo de comunhão é alguma coisa que eu levarei para toda a minha vida, no meu coração.
Quero saudar também todos os Padres.
Eu sei que o nome mais belo que se pode chamar a alguém é Pai. E chamar “Padre” foi nestes 28 anos a palavra mais bela, mais desejada do meu coração.
E por isso, queridos Padres, desejo que sintam a mesma alegria no vosso Ministério que eu senti e possam continuar a ser uma presença fecunda de amor e serviço, representando o Jesus Bom Pastor junto do povo de Deus.
Queria saudar a minha família, que está aqui presente, representada, em parte (em parte ausente, por exemplo a minha mãe não pode estar por motivos de saúde) mas sei que eles expressam a comunhão de uma vida que tem sido sempre presente nos momentos mais difíceis e também nos momentos alegres e de esperança, como é o dia de hoje, por isso estou-lhes muito grato.
Uma outra família na minha vida tem sido a Universidade Católica.
E na pessoa da sua Reitora, da equipa Reitoral, dos antigos Reitores, dos Senhores Professores, Diretores, dos Colaboradores e alunos, eu quero dizer que a Universidade Católica é de facto a minha Alma-Mater.
Gostei muito que na Bula de Nomeação o Papa Francisco tivesse dito que eu venho da Universidade Católica Portuguesa, porque é de facto assim que eu me sinto.
A Universidade estará sempre no meu coração e sei que continuará a cumprir a sua missão ao serviço da Educação Superior, ao serviço da Igreja e da comunidade.
Queria saudar todas as comunidades por onde passei ao longo destes 28 anos do meu percurso como Padre, desde o princípio, todas as pessoas que me ensinaram a ser Padre, porque a gente quando chega não sabe ser…
Há 28 anos atrás eu não sabia ser Padre, como agora neste momento, diante de vós, eu não sei ser Bispo. Vou ter de aprender, e aprender com o povo de Deus. E eu dou muito graças a Deus porque tive os melhores mestres. Desde a Paróquia do Livramento onde eu fui pároco, às Paróquias e Comunidades onde fui colaborador aqui em Lisboa: Alcântara, Santa Isabel e depois a comunidade da Capela do Rato, onde fui Capelão cerca de 10 anos.
Queria também recordar as outras realidades pastorais que eu animei, as Equipas de Casais de Nossa Senhora, primeiro no Funchal, depois aqui em Lisboa – e que são para mim a extensão da minha família e que ao longo destes anos me apoiaram e sustentaram, sobretudo com o seu testemunho, e que para mim são de facto um laço de Deus na minha vida.
E quero saudar todas as pessoas com quem eu convivi e que tiveram a generosidade também de estar aqui presentes, com amizade. Eu acredito muito naquilo que recebemos de Deus e aprendemos de Deus através da amizade, e no serviço que eu pude prestar, senti sempre que recebi muito mais do que aquilo que dei e por isso quero agradecer-vos de coração e dizer que vos considero também mestres da minha vida.
Num dia como este nós olhamos para a nossa vida como um filme, em que parece que tudo é possível ver de uma só vez… e eu tenho dois sentimentos muito grandes:
O primeiro é sentir que Deus me ama. Eu não tenho dúvidas disso: Deus me ama. E de uma maneira que eu nem vos digo, que eu nem vos conto, a maneira como Ele me ama. E o Seu Amor abisma-me, o Seu Amor deixa-me sem palavras.
E sei que Deus escolheu amar-me da maneira para mim mais sublime, que foi através de cada um de vós. E isso é alguma coisa que eu agradeço a Deus, Ele ter escolhido amar-me desta forma.
E depois sinto que sou uma obra dos outros. Ainda esta manhã, ao acordar, eu meditava na Palavra de Jesus a Pedro, no Evangelho de João: “Estenderás a mão e outro te cingirá e te levará para onde não queres.”
Sinto que a minha vida não é minha, que a minha vida é uma vida dada, é uma vida oferecida. E sinto que sou obra dos outros e para os outros.
E isso, se por um lado é uma responsabilidade enorme, por outro lado é um ato de amor, um ato humilde de amor – e é assim que eu estou diante de vós, oferecendo a minha vida e contando com a ajuda de todos e com a oração de todos.
Quero agradecer todas as pessoas que desde o dia 26 de junho, quando foi pública a minha nomeação me ajudaram com as suas orações, com as suas palavras de estímulo, com o seu apoio e também com todas as suas ajudas, tudo o que faz um Bispo (desde a preparação das insígnias à preparação dos paramentos, das batinas, de tudo aquilo que é próprio de um Bispo). E agradeço aos artistas, aos artesãos, aos amigos, aos benfeitores que se juntaram para, na minha indigência e na minha necessidade, me ajudarem a encontrar a possibilidade de estar hoje aqui. E agradeço também a todos aqueles que propiciaram e organizaram, de uma forma tão generosa e amiga, o pequeno refresco que depois será servido no claustro.
“OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO”
Quando tive de decidir qual seria o lema do meu escudo episcopal, foram estas palavras de Jesus que assomaram com mais força ao meu coração: “OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO”
E recordei-me de alguma coisa que li sobre a tradição dos Padres do Deserto e dos Poetas Monges que durante séculos foram a alma do mundo a oriente. Na sua despedida, eles confiavam aos discípulos apenas uma frase, apenas uma, mas que fosse capaz de resumir de forma flagrante todo o ensinamento transmitido. Ou então eles próprios, antes de morrerem, peregrinavam ao cimo de uma montanha para gravar essa frase numa pedra, ou a escreviam no tronco de uma bananeira para ser lida, muito tempo depois, por alguém de passagem, que inesperadamente se deixasse tocar por aquelas palavras e permitisse assim, dentro de si, que a história recomeçasse.
Porque as histórias, as nossas histórias, estão sempre a recomeçar.
E essa espantosa plasticidade da vida é a prova que continuamos e continuaremos até ao fim um barro fresco, um sonho possível nas mãos desse Oleiro apaixonado que é Deus.
Por isso, olhemos os lírios.
Extasiemo-nos com o milagre da vida.
Porque só lhe fazemos justiça se formos muitas vezes, ou se formos a cada instante, capazes desse êxtase.
É sempre o nosso olhar que precisa ser trabalhado, curado, refeito, amparado, recriado.
Não é por acaso que os Evangelhos apresentam tantas curas da cegueira ou transmitem tantos ensinamentos de Jesus sobre os olhos. Ele é o terapeuta do nosso olhar, é o reconstrutor do nosso modo de ver.
“OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO”
Se olharmos bem, os farrapos de mendigos que interiormente nos vestem têm a beleza dos lírios. É essa a lição.
Se olharmos bem, as nossas feridas, fragilidades, tudo aquilo que nos rasga é nas mãos de Deus (e com que Amor!) recosido, reparado, salvo. É essa a lição.
Eu sei que estaremos juntos para o resto da vida a olhar para os lírios.
O Santo Padre, o nosso querido Papa Francisco, quis colocar-me ao serviço do Arquivo e da Biblioteca Apostólica. Não sei ainda hoje as razões do seu convite, que expressa para com a minha pobre pessoa uma confiança que filialmente agradeço, mas que não deixa, ainda agora, de ecoar a sua surpresa em mim.
Consola-me pensar que ele, ouvindo-me durante os exercícios espirituais, talvez tenha pressentido que para mim não há diferença entre uma biblioteca e um jardim.
E que por dentro das grandes obras da religião, da ciência, dos grandes monumentos da literatura, das humanidades, da erudição ou do pensamento, eu aprendi que está o desejo, a sede de olhar e ajudar os seus semelhantes a olhar os lírios do campo.
E tenha achado que desta maneira eu também possa servir a Igreja e possa servir a humanidade, configurando a minha vida com a vida de Jesus, o Mestre da sede, o Bom Pastor da vida e da beleza, o Jardineiro dedicado das nossas vidas.
Agradeço-vos e peço que rezem por mim.
Notícias da Agência Ecclesia:
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