Há 20 anos João Mário Grilo filmava o mesmo Japão dos missionários jesuítas portugueses que Scorsese nos mostra agora em SILÊNCIO. A Medeia Filmes exibe OS OLHOS DA ÁSIA (cópia 35mm) numa sessão única no dia 6 de Fevereiro, às 21h30 no Espaço Nimas. A seguir à projecção o realizador conversará sobre o seu filme e o de Scorsese com o poeta, padre e teólogo José Tolentino Mendonça

Em OS OLHOS DA ÁSIA (uma produção da Madragoa Filmes, de Paulo Branco), com interpretações de João Perry, Geraldine Chaplin, António Cordeiro e Yoshi Oida (o actor japonês da companhia de Peter Brook que também faz parte do elenco de Silêncio), João Mário Grilo mergulhava no Japão seiscentista e na história atribulada dos jesuítas portugueses (o Padre Ferreira, que no filme de Scorsese é interpretado por Liam Neeson, é também uma das figuras centrais do filme de Grilo, numa magnífica interpretação de João Perry) e da perseguição a que foram submetidos.

A obra de João Mário Grilo (estreada em 1996 no festival de Locarno), que, de certa forma, também usa o romance O Silêncio, de Shusaku Endo (que Scorsese adaptou no seu filme), começa lá mais atrás, quando Julião de Nakaura (Yoshi Oida), da Companhia de Jesus, foi, juntamente com quatro jovens, enviado a Roma pelos Jesuítas em meados de 1500, para testemunhar que o Japão se convertera ao Cristianismo. Cinco décadas mais tarde, Julião viu-se de novo obrigado a provar a sua fé, agora às cortes Shogun, que o forçavam a abandoná-la. Resiste e torna-se mártir, enquanto o Pe. Cristovão Ferreira não suporta a tortura e renuncia (“Interessou-me tanto a personagem de Julião, o japonês que morre por causa do cristianismo, como a de Cristóvão Ferreira, o português que se torna japonês, ao negá-lo”, João Mário Grilo em entrevista ao JL).

No seu filme, Grilo articula a história destes mártires cristãos com a história contemporânea (é aqui que entra Jane Powell, uma comissária cultural europeia interpretada por Geraldine Chaplin) nos segmentos em Nagasaki, cidade de extrema importância na relação de Portugal com o Japão e da implantação do cristianismo (e onde terá morrido Cristóvão Ferreira, que, entretanto, adoptara o nome budista Sawano Shuan), e que remete também para a terrível memória da bomba atómica na Segunda Guerra Mundial. Como referem os versos de Whitman que servem de epígrafe ao filme: “Incessantemente balança o berço / que une o Hoje e o Amanhã”.

Espaço Nimas, segunda-feira, 6 de Fevereiro, 21h30
Bilhetes: 5 euros